“Meninos e meninas”… Eu Vi Quinho acontecer!

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Em 1988, eu ainda muito jovem fui visitar a quadra da União da Ilha pra torcer por um samba que o Alexandre da Imperatriz defendia. Lá me deparei com uma figura inquieta, cheia de bordões e correrias pelo palco. Os deslocamentos dele me causavam espanto e vertigem: esfuziante, ele não parecia com ninguém mais daquela era dos “puxadores” que o valioso Jamelão rebatizava como intérpretes.

Quinho já tinha ali 28 anos, mas parecia ter 18. Um pique descomunal de atleta pra cantar correndo e gritando o tempo todo. Sucesso no Boi da Ilha, despontava na escola substituindo ninguém menos que o gigante Aroldo Melodia. O frenesi de seus deslocamentos verticalizados, o entusiasmo de seus breques e sua vocação pra animador de plateia apontavam para um talento irreverente, uma vocação diferenciada. Eu vi aquele garoto e pensei: “será que esse tipo teatral e sacudido demais vai dar certo?”.

Naquele ano, o samba do Alexandre não ganhou. O enredo “Festa Profana”, entretanto, consagrou um dos sambas mais famosos de todos os tempos, autoria de J. Brito e Bujão – que começa com os famosos versos “O Rei mandou cair dentro da folia / E lá vou eu”. A voz de Quinho emoldurou a obra-prima.

Quatro anos depois, em 1993, Quinho era campeão por aclamação na avenida após um dos maiores levantes de arquibancada da história com outro samba antológico, “Peguei um Ita no Norte”(Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy), e os versos imorredouros: “Explode coração / Na maior felicidade / É lindo o meu Salgueiro / Contagiando e sacudindo esta cidade”. E já era um dos mais incensados e respeitados intérpretes-puxadores do carnaval carioca.

Hoje o mundo do samba se despede de sua voz inconfundível, de seu estilo inimitável, de sua performance arrasadora em tantos anos de carreira.

“Pimba! Pimba!”
“Futuca! Futuca!”
“Ai que lindo!”

Quinho passa, mas fica.
Porque essa coisa chamada MEMÓRIA é o grande tesouro da vida de um grande artista…

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