“Você ouvinte é a nossa meta. É pensando em você que fazemos o melhor”: O Maraca e o rádio, por Gabriel Gontijo

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Por Gabriel Gontijo

Mesmo que os 71 anos do Maracanã já tenham passado, nunca é tarde para falar sobre o Maior do Mundo, mesmo que ele já não represente literalmente essa alcunha. E atendendo ao convite do amigo Leonardo Oliveira Brito, faço um texto sobre o Maracanã e o rádio.

Primeiramente senti-me honrado, pois com tantas feras atuando há décadas no meio quem sou eu pra falar sobre o eterno Maior do Mundo? Mas se missão dada é missão cumprida, então não posso fugir de nada.

Minha primeira vez como radialista foi exatamente no dia 1º de março de 2015. Na ocasião a cidade do Rio de Janeiro comemorava 450 anos de fundação. E um clássico marcava o aniversário. O jogo era Flamengo e Botafogo. O lado Rubro-Negro estava com um time cheio de estrelas e tinha como “O cara” um atacante contratado com muita moral, Marcelo Cirino. Além disso, o técnico era o consagrado Vanderley Luxemburgo.

Pelo lado do Glorioso não tinha nenhuma badalação. Com exceção do goleiro Jefferson, a equipe tinha sido rebaixada no Brasileirão do ano anterior como lanterna e começou a temporada seguinte com muitas apostas. O técnico era Renê Simões e lembro que os jogadores que tinham alguma fama no cenário nacional eram o atacante Bill (com passagens tímidas por Corinthians e Santos), William Arão (que tinha sido emprestado pelo Corinthians), Rodrigo Pimpão (que teve alguns lampejos no Vasco em 2009) e o eterno problemático Jobson, que apesar de ter reconhecida qualidade técnica fazia muito mais sucesso por uma vida muito conturbada fora do gramado.

Mas lá na tribuna de imprensa tinha uma outra pessoa que era totalmente desconhecida. Tanto para jogadores quanto principalmente para colegas de imprensa. Eu. Cheguei com meu notebook, um microfone, um fone de ouvido e um gravador. Fiz o jogo para uma web rádio que nem existe mais, a Ultra Rádio do Brasil.

E lembro como narrei meu primeiro gol no Maracanã. O meia botafoguense Thomaz Bastos chutou de fora da área, a bola bate na trave, na perna do goleiro flamenguista Paulo Victor e foi para o fundo da rede. Era o fim do jogo. E fiquei por horas imaginando a alegria de narrar um gol no Maraca.

O mesmo estádio que ouvi narrações de José Carlos Araújo, Édson Mauro, Luiz Penido, Jota Santiago com os comentários de Gérson, Washington Rodrigues, Eugênio Leal e Jorge Nunes. Isso sem falar em outros locutores de outras emissoras que eu ouvia por passar em inúmeras frequências do rádio. Cito aqui Bruno Cantarelli, Rodrigo Campos, Freitas Neto e Marcelo Barros. Se eu citar o time de repórteres então…

Uma pena que eu descobri como profissional o Maracanã na mesma época em que a crise econômica que atingiu o Brasil nocauteou em cheio o estado do Rio. E o rádio foi duramente atingido por isso. E somou-se a esse caos financeiro existente décadas de incompetência de gestão, farras nos arrendamentos de inúmeras emissoras, negócios escusos envolvendo políticos e o resultado foi desastroso. Perda maciça de empregos e emissoras fechando as portas.

Uma cena me foi bastante marcante e muito me entristeceu. Era o jogo da volta entre Vasco x São Paulo pelas quartas-de-final da Copa do Brasil de 2015. O time paulista venceu a partida de ida no Morumbi por 3 a 0. Como o Vasco tentava não ser rebaixado no Campeonato Brasileiro pela terceira vez na história, o então técnico Jorginho mandou um time reserva a campo. O jogo ficou em 1 a 1. Na coletiva pensei que encontraria uma sala lotada de jornalistas, afinal era um clássico entre as principais equipes do futebol nacional. Ledo engano. Encontrei cadeiras vazias na coletiva. Tão vazias que nem precisava pedir licença para entrar ou passar pelo local.

Nos anos seguintes, minha frequência ao Maraca passou a ser mais assídua. Tive a oportunidade de trabalhar com nomes como Saulo Maciel, Flávio Ferreira, Evaldo Queiroz, André Freitas, Cyro Neves, Michel Menaei, Kadu Macri, João Vítor, Ricardo Oliveira, João Santoro e muitos outros.

Mas um nome eu faço questão de destacar. É o de Jorge Ferreira. Fizemos muitos jogos juntos pela Rede Mais Esportes. E quando não éramos escalados para fazer alguma partida por essa emissora fazíamos pela Absoluta AM de Campos, com o comando do André Freitas. Éramos uma dupla e tanto. Cada um já sabia a deixa que o outro dava para deixar a transmissão leve.

Desde 2018 não voltei mais ao Maracanã como profissional. Estranhamente, em 2018, fui sendo deixado de lado na escala da Rede Mais Esportes e em setembro, depois de ficar 3 meses sem ser escalado para nenhuma partida, resolvi pedir pra sair. Não esperava que também não atuaria mais profissionalmente no estádio desde então. E como coincidência triste, quando queria voltar não pude mais por causa da pandemia.

Pude ver outros colegas tendo a oportunidade de narrar no estádio graças às web rádios, que democratizaram as chances para quem queria ingressar no meio. Nomes como Jonathan Machado, Leandro Lima e Emerson Santos mostram que há talento de sobra pedindo licença, mas as panelinhas do meio sempre impediram uma renovação na área.

Atualmente ouço uma ou outra transmissão. Geralmente prefiro pelas narrações do Edson Mauro. Aliás, no momento, até eu virei locutor, fazendo as transmissões pela Web Rádio Eu, Rio. Mas faço os jogos de casa. Enquanto não receber a vacina, prefiro não me expor. Mas torço para que essa volta ao estádio seja breve. Assim como também fico na torcida para que novos talentos consigam mais oportunidades e que os gestores de rádio possam abrir mais portas para as novas gerações. Afinal, tem muita gente que aguarda por narrar seu primeiro gol no Maracanã. E de preferência pelo rádio.

Gabriel Gontijo é jornalista

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