“A favela vai tirar o Crivella e me levar ao segundo turno”, diz Benedita no morro

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A candidata da coligação “É a vez do povo” à prefeitura do Rio, Benedita da Silva subiu nesta sexta-feira, 13/11, as madeiras da comunidade da Vila Cruzeiro, na Penha.

Amanhã, véspera da votação, ela volta às favelas, dessa vez na Maré, para agradecer o entusiasmo e o calor humano com que foi recebida nas áreas pobres durante todo o primeiro turno.

“Em muitos lugares eu tenho vivido emoção muito grande, mas aqui minha emoção aumentou. E por que, minha gente? Porque a gente é raiz, a gente é chão, sabe, conhece, é diferente. A gente sabe que está pisando em um chão sagrado de batalha de muita gente, sacrifício de muita gente para botar sua casa em pé, sua comida na mesa, para dar duro, pra botar seus filhos na escola e para ver a vida melhorar”, discursou Benedita no morro.

Ela apontou o desemprego, especialmente de jovens e mulheres, como o maior problema da cidade.

*Explicando a Moeda Carioca e o Banco Popular*

A candidata explicou em detalhes seu programa complementar de renda básica chamado Moeda Carioca. Será uma ajuda de R$ 100 mensais, que só podem ser gastos na própria comunidade, fortalecendo o comércio e os empregos locais.

O programa inclui a criação de um banco popular para fazer empréstimos a juro zero para pequenos empreendedores. “L

“Vai emprestar pra você, que tem uma moto e precisa modernizá-la, terá um empréstimo sem burocracia. Pra você, que precisa abrir sua confecção, quer empregar mais alguém, pegar mais encomenda, vai poder usar essa moeda”, exemplificou.

No alto do morro, ela agradeceu a recepção e disse que espera o voto “dos cariocas que mais precisam de atenção do poder público” para vencer as eleições. “A favela vai tirar o Crivella e me levar ao segundo turno”, afirmou.

“Foi pensando nas nossas comunidades que eu me atrevi, aos 78 anos, a ser candidata a prefeita do Rio de Janeiro. Estou na vida pública há 40 anos e quero dedicar a vocês o que resta da minha energia, fazendo com que a gente volte a ser feliz, a ter emprego, saúde e que as mulheres possam colocar seus filhos na creche e a nossa juventude possa ter os seus sonhos”, discursou.

*Investimento na cultura e na juventude*

Ela reiterou que vai pressionar a Cedae, que é estadual, para subir o morro e sanear as partes mais pobres da cidade, e turbinar a economia desses locais apostando no empreendedorismo cultural dos jovens.

“A gente fala para a comunidade inteira, independente da religião de cada um, que a gente quer investir na cultura. Cada um na sua, vamos investir na cultura para que os talentos da comunidade possam também produzir, seja da dança, da música, da artes plástica, nós estaremos junto com vocês.“

*Parceria para dobrar população no Centro*

Antes da passeata na Vila Cruzeiro, Benedita visitou a feira livre no Grajaú e liderou uma caminhada pela Avenida Rio Branco, da Candelária ao Largo da Carioca.

Ela afirmou que vai buscar parceria com o Estado e a União para “povoar o Centro”.

Ela quer criar condições para a conversão de vários imóveis comerciais em residenciais, além do uso de imóveis que estão fechados ou abandonados.

A região, apesar de ter a melhor infraestrutura de transporte e de equipamentos culturais da cidade, tem pouco mais de 40 mil habitantes, segundo o Censo de 2010 do IBGE.

Na estimativa do coordenador do programa de governo, Jorge Bittar, é possível dobrar essa população em menos de 10 anos se houver uma política pública estratégica da prefeitura neste sentido.

A candidata ressaltou a importância de melhorar a iluminação, a segurança, o ordenamento do comércio ambulante e o acolhimento de pessoas em situação de rua.

“É muito importante revitalizar e abrigar a população de rua. Eu vou conversar com o governo do Estado e com a União, pois há muitos prédios públicos, para aumentar o numero de residências que pode ser A, B ou C, para classes alta, média e baixa. Temos que melhorar a iluminação, pois o Centro fica muito às escuras. A gente quer atividades culturais, abertura de teatros e museus, que precisam ser reformados, as catedrais, que aqui tem muitas”, afirmou.

Conversa com o Presidente Lula

Em live com veículos de comunicação das comunidades do Rio, Presidente Lula diz que Benedita é a “Mandela do Rio”*

“A eleição de uma mulher de favela, com 78 anos e bisavó, como prefeita do Rio será uma revolução. Bené é a nossa Mandela no Rio de Janeiro. E a causa dela é o povo pobre e negro da cidade”, declarou, na noite desta quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele e a candidata do PT à prefeitura do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, participaram de uma entrevista coletiva com oito veículos de comunicação comunitária da cidade.

“Ela vai dar uma lição de como uma bisavó negra vai cuidar do Rio de Janeiro como nenhum branco jamais cuidou”, afirmou Lula.

A live contou com mediação de Dandara Batista e André Constantini e a presença dos jornalistas comunitários Anderson França (Coluna de Terça), André Fernandes (Agência de Notícias das Favelas), Gracilene Firmino (Favela da Rocinha), Zen Ferreira (Penha Notícias), Bárbara Nascimento (Portal Favelas), Wanderlei Gomes (Rádio Estilo Livre FM), Erika Alves (Conexões Periféricas – RP) e Felipe dos Anjos Pereira (Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro – FAFERJ).

*Novo PAC das favelas*

Questionados sobre projetos para melhorar a vida nos locais mais pobres, Lula e Benedita focaram na criação de empregos.

“Você não tem ideia do orgulho que eu tive de fazer o PAC (das Favelas). Foi o mais consolidado projeto de investimento nesse país. As empresas tinham que contratar trabalhadores da comunidade. A gente precisa fazer as obras gerando empregos para o povo desses lugares. Posso dizer que, nunca antes na história desse País, um presidente colocou tanto dinheiro no Rio de Janeiro para obras de infraestrutura quanto eu e Dilma colocamos”, disse Lula.

Benedita explicou como funcionará a Moeda Carioca, um complemento de renda básica que os beneficiários só poderão usar na própria comunidade, para gerar emprego no comércio local.

Falou também dos mutirões remunerados e da atuação firme da prefeitura para promover a cultura na favela como acontece nas outras partes da cidade, com estímulo ao empreendedorismo dos jovens e à manutenção de espaços culturais.

*Estado laico*

A candidata está confiante em tirar o prefeito Marcelo Crivella do segundo turno e que conta com a força dos veículos de comunicação das comunidades para seguir na disputa pela Prefeitura.

“Segundo a pesquisa, estamos embolados no 2º turno. E conversar com vocês nesse momento, informando e ajudando a gente a falar com mais comunidades vai ser a forma do desempate. Quem vai tirar o Crivella do segundo turno vai ser a favela. Quem vai me levar para o segundo turno vai ser a favela”, disse Benedita.

Ao ser questionada se eleita colocaria um aparelho tomógrafo numa igreja, como Crivella fez na Rocinha, Benedita, que é evangélica “PTcostal” como gosta de brincar, foi categórica.

“Isso é uma coisa muito grave. É um recurso público que não deu assistência a ninguém da Rocinha por estar num espaço privado. Nós de imediato vamos retirar o equipamento lá da Igreja Universal e ver se está em boas condições para ser colocado em uma UPA ou clínica da família. Púlpito é uma coisa. Palanque político é outro. Igreja é uma coisa. Prefeitura é outra. No meu governo nenhum equipamento público vai ficar em igreja nenhuma. Nem na minha”.

*”Bené batendo um bolão”*

Ao agradecer a Lula e ao PT a oportunidade de se candidatar a prefeita e combater o racismo na cidade, Benedita brincou com sua idade, de 78 anos.

“Olha Lula, eu “tô” batendo um bolão, “tô” deixando todo mundo para trás. Todo mundo (que me acompanha) fica caído e eu “tô” lá, indo pra frente. Eu botei o coração nos pés e na cabeça, e sei que a gente vai chegar lá”, disse a candidata. “Nunca estive tão feliz como estou agora nesses dias. Eu tenho sido muito abençoada, vendo meu povo, as pessoas que mais necessitam.”

Lula também falou de sua energia para “impedir que o Brasil seja simbolizado por um miliciano”, referindo-se ao presidente Bolsonaro. “L

“Tem que ter muito tesão pela vida, energia. O maior tesão pela vida é uma causa. A causa de defender o povo pobre, negro e trabalhador do Rio de Janeiro é a tua causa, Bené. Tem pessoas achando que é bom ter major, tenente, delegado para ser candidato. Mas a Bené é lutadora, é nossa Mandela. Nelson Mandela ficou preso muito tempo , teve força para levantar a cabeça, unir e governar o país. Bené tem uma causa, que é o povo negro do Rio de Janeiro, o povo trabalhador. São as mulheres negras, as mulheres que são violentadas todos os dias”, disse Lula, brincando com a colega de partido: “Você está parecendo uma menina de 18 anos.”

*Vai ter médico e medica negra sim senhor e senhora*

Benedita apresentou também suas propostas para melhorar o sistema de saúde, a começar pela reabertura das Clínicas da Família e a remontagem de equipes especializadas para tratar das cerca de 370 mil pessoas que estão na fila do Sisreg esperando atendimento.

Afirmou também que irá garantir nos concursos públicos a proporcionalidade entre médicos e especialistas negros e brancos.

“Esses profissionais existem. Então é preciso criar ações afirmativas e garantir nos editais essa proporcionalidade entre negros e brancos no sistema de saúde da cidade do Rio de Janeiro. Vamos tomar uma iniciativa legal para garantir isso. Quero uma política antirracista na cidade do Rio de Janeiro. No meu governo nós vamos trabalhar a questão do racismo institucional”, ratificou Benedita.

Perguntado sobre a participação do PT na construção de uma frente ampla contra os fascistas, Lula respondeu que é preciso atuar nesta direção, mas sem impedir a liberdade dos partidos de lançar seus candidatos. ”

“Se depender do PT e de mim, vamos ter aliança de toda a esquerda. O que as pessoas não podem achar é que o PT, maior partido do país, não pode ter candidato. Eu gostaria que o Psol apoiasse o PT no Rio de Janeiro, pois a Bené aceitou ser vice do Marcelo Freixo. Mas, como não teve jeito, paciência. Eu sei é que eu vou brigar para que um miliciano não seja o símbolo do meu país. O Brasil não precisa de uma figura dessas governando o país.”

*Contra o ódio bolsonarista*

Um dos jornalistas perguntou a Lula o que poderia ser feito para evitar a polarização nos níveis atuais e trazer a política de volta para o campo do diálogo. Ele respondeu recorrendo à imagem do futebol.

“As torcidas do Vasco e do Flamengo nunca se entenderam em dia de jogo, mas, passado o jogo, iam para o bar tomar cerveja juntos. No mundo todo há polarização, mas hoje o que acontece é diferente, é a política de ódio”, afirmou Lula.

O ex-presidente disse que os meios de comunicação contribuíram para estimular o ódio com o objetivo de criminalizar a política, o que abriu caminho para o fundamentalismo bolsonarista.

“Antes, você podia entrar em um bar e encontrar gente de todos os partidos convivendo, dialogando. Mas passaram a vender a esquerda como algo maligno, ao ponto de uma figura como Chico Buarque ser ofendido no restaurante por um cidadão que é um miliciano. Um cidadão que presta, que é responsável, não fica provocando ninguém. Esse ódio é fruto da tática de destruição da política. *Depois da política, vem Bolsonaro, vem Mussolini, vem Hitler*”, comparou o ex-presidente.

“Quando restabelecermos a paz e o diálogo, vamos voltar a ser uma sociedade civilizada. Eu posso divergir de você, mas também posso te abraçar e conversar, pensando diferente. Eu tenho 75 anos, mas quero viver o suficiente para recuperar a democracia no país, para que vocês, jovens, e seus filhos vivam em um país melhor”, acrescentou Lula.

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