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Mimoso do Sul: Uma cidade destruída por uma avalanche de água e lama

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Por Vera Moll

MIMOSO DO SUL, no estado do Espírito Santo, é uma cidade centenária em cuja fundação minha família esteve presente: seu Gamboa, nosso avô paterno, fez o primeiro calçamento de pedra e construiu sua rede de esgoto; nosso avô materno, o português, seu Motta, tornou-se o maior produtor de café Do Estado.

Leia mais sobre o caso aqui: https://www.agazeta.com.br/es/cotidiano/o-antes-e-depois-de-mimoso-do-sul-apos-as-chuvas-0324

Quando Mimoso foi tomado pela avalanche de lama e água, meu próprio berço foi destruído, levando com ele nossa história, a história da cidade, do nosso povo agora sem casa, cozinha, alimento, colchão, comércio, seus pertences todos perdidos, seus carros levados pela chuva.

Com eles ficaram as casas condenadas, vazias, sem água para lavar os destroços que lhes restaram, documentos perdidos e sem eles, a cidadania. Para nós que moramos fora, porém, deixamos lá nosso quintal, onde aprendemos metade do que sabemos na vida, instalou-se o pavor, como estão nossos irmãos, nossos primos, nossas famílias? Não havia comunicação, só víamos na Internet os vídeos com as casas que conhecíamos desde sempre com água até o teto, as ruas, por onde transitamos por tantos anos transformadas em rios caudalosos, o que será desse povo, da minha gente, da minha família, que será deles, Meu Deus, que aflição! À noitinha tive notícia, Marcela, minha sobrinha, passou a melhor mensagem que recebi anos a fora, Estamos vivos, tia.

A comunicação restabelecida, falei com Gamboinha, meu irmão, sua casa situada na parte alta da cidade, nada sofreu. Os vídeos continuavam chegando, Beto e Helinho, nossos primos, na entrada do terceiro andar de seu prédio. Em nossa família todos vivos, amém.

Uma notícia muito triste, Rosita foi encontrada morta em casa afogada. Oh, Meu Deus, perder dessa maneira a amiga, grande professora de literatura da cidade, que tanto apoio me deu na leitura dos meus livros. Que sua alma descanse em paz, ela que, conseguiu realizar com honra a missão a que lhe foi destinada no mundo.

Para aqueles que acordaram a tempo na madrugada, com água pela cintura ou pescoço, tiveram sorte e muita ajuda para sair pela janela ou pelo telhado, dali levados pelos barcos dos amigos, heróis da cidade. Ou ficaram esperando até serem resgatados para algum lugar seguro na manhã de sábado pelos helicópteros. Na dimensão da tragédia que ocorreu em pouquíssimas horas na madrugada do dia 23 de março de 2024, a maioria salvou-se.

Muito doído para aqueles que perderam seus entes queridos.  Não há palavra que possa ser dita, que console.

A defesa civil nacional a elegeu como a 3ª Maior Catástrofe do Brasil, atrás apenas de Brumadinho e Mariana.  O rio Muqui do Sul subiu quase 8 metros. Na praça de mimoso a água ficou à altura de 6 metros. A parte baixa da cidade foi toda inundada. Só a parte alta ficou a salvo da fúria das águas. A cidade perdeu 90% de suas casas, com elas as cozinhas e seus eletrodomésticos, os colchões e móveis inutilizados, o que sobrou são restos aos cacos. A prefeitura perdeu todos os carros.

A cidade que se construiu no vale está devastada. A perda do comércio foi de 90%. Estoques perdidos, consultórios e farmácia destruídos. Não tinha caminhão pipa que fornecesse água para limpar a lama, os destroços e bichos mortos permanecem nas casas e nas ruas. Os vírus e as bactérias espreitam seus habitantes.

Na explicação do engenheiro agrônomo, Leonardo Cosendey Coelho, a causa desse tsunami que, na madrugada, sorrateiramente, atingiu Mimoso, foi uma precipitação anormal de chuva. Segundo observações não oficiais, o cálculo que se faz é que nas cabeceiras tenha chovido mais de 400 mm durante à tarde e noite do dia 22 para o dia 23 ou até mais.

Para se ter uma ideia da quantidade de chuva, a média em Mimoso fica em torno de 1300 mm por ano, ou seja, um terço do é esperado para o ano inteiro choveu em poucas horas.

Mimoso possui 3 bacias hidrográficas de captação: Bacia de Belmonte, Bacia de Conceição de Muqui onde nasce o rio Muqui do Sul e a Bacia do Café Moca.

O principal Rio é o Muqui do Sul que nasce na Comunidade Oriente, na parte mais alta do município, localizada em Conceição de Muqui. Ele corta Mimoso em duas partes. Os outros dois alimentam o rio Muqui. Foram trombas-d’água que caíram nessas 3 cabeceiras. Da comunidade Do Oriente até Mimoso ele percorre entre 35 a 40 km.

A chuva começou à tardinha e a água chegou à cidade em torno das 10/11horas.

O desastre acontecido castigou impiedosamente o povo da cidade. Mas há uma esperança, na fala de Leonardo Cozendey, o engenheiro.

A causa foi um fenômeno natural e atípico que espera-se, não aconteça novamente para essa atual geração.

Continua…

Vera Moll é escritora, autora de vários livros, entre eles “Meu adorado Pedro”

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