domingo, maio 5, 2024

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Renan Portela: Golden Shower, o ator e outras aventuras no país dos bobos

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O presidente compartilhar o vídeo do “golden shower” não me seria um assunto digno de tratar, não fosse por sua deprimente repercussão (até global). Seria algo que me provocaria uma risadinha e sumiria da minha cabeça em poucos segundos. Não vi nada demais! Talvez me fosse mais interessante se o vídeo fosse do próprio presidente mijando em alguém numa suposta suruba com um governador. Se fosse solteiro, o governador negaria que estava no vídeo da suruba ou teria talento politico, mesmo que fosse armado, para assumir que era ele? Muito me questionei sobre isso, mas não é sobre o que quero tratar.

Embora eu não veja problema nenhum na liberdade de expressão de um presidente de se manifestar sobre algo que desgosta, devo considerar bobo e desnecessário, principalmente se comparado com os assuntos que deveriam/poderiam habitar o primeiro plano do debate brasileiro. Tão bobo e desnecessário quanto foi a surreal dimensão polêmica que esse compartilhamento gerou, muito por conta de pessoas que são moderninhas demais para algumas coisas, mas são as mais presas a padrões conservadores de comportamento quando o alvo convém para alimentar a narrativa que querem disseminar. Afinal, não condiz com a “liturgia do cargo”, né?

A noticia mais interessante sobre o assunto foi a que li no portal IG, dando que o Pornhub (site pornográfico, se não ficou óbvio pra você sem conhecimento) agradece ao Bolsonaro pelo aumento em 688% das pesquisas com o termo “goldem shower”.

Do outro lado da privada temos um ator agindo de maneira imbecil se autointitulando presidente da república, debochando da calamitosa situação da Venezuela, enquanto é aplaudido por uma corja de jumentos infantilóides, que juram que estão lutando para mudar o mundo com esse circo.

Ao contrário do tal palhaço (com respeito aos palhaços de respeito), Juan Guaidó é presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, autoproclamado presidente do país na tentativa de convocar novas eleições contra o governo ilegítimo do ditador Nicolás Maduro, reconhecido por dezenas de países. Aliás, se nos tornamos bobos aqui, nos tornamos bundões a nível internacional, o que tratarei em outra oportunidade.

O ator é um bom ator, confesso, mas zomba da cara de um povo que foge de seu país e passa fome, enquanto o ator está confortável fazendo seus gracejos e o ditador de esbalda em banquetes. Nossos espelhos realmente nos mostram doentes! O ator que, aliás, também é bastante reconhecido por seu papel deprimente de cuspir na cara de uma mulher, defendendo outro bandido na ocasião. Mas isso não importa, porque ele está do lado em que é permitido fazer esse tipo de coisa!

Fato é que considero o debate público brasileiro extremamente bobo, e não podemos negar que existe perversidade nas sombras da bobeira. Não me prendo só ao vídeo da mijada carnavalesca ou do ator infeliz e irrelevante querendo chamar a atenção, mas vislumbro um cenário que abarca quase toda a coleção dos assuntos que são levados ao palanque.

Muito menos penso que o problema se resume aos temas, pois também inclui os modos de se discutir as coisas, algo que se agrava ainda mais com a constante visão caricaturada que temos dos personagens que se movimentam nos campos opostos, algo que infelizmente é reforçado por esses próprios personagens num circulo vicioso aflitivo. No caso, não existe lado e bandeira politica, todos estão num liquidificador de irrelevâncias.

Substituímos a “extrema-esquerda” e a “extrema-direita” — que disseminaram recentemente qualquer possibilidade de um centro politico não fisiológico — pela “extrema-bobeira”. É como se estivéssemos numa versão nacional da quinta série, com as dimensões continentais que o território brasileiro nos possibilita, e com a amplificação quantitativa das vozes idiotas, ocasionadas pelas redes sociais. Veja bem, não tenho nada contra discutir idiotices, meu problema é transformar as idiotices em verdades e seriedades.

A bobeira generalizada não é um fenômeno que se origina com a chegada do novo governo, tão recente. Apenas algumas coisas mudaram de lado e alguns chiliques se autopromoveram. A coisa mais característica que pode ser tomada como oriunda do novo governo é que a camada intitulada de direita se tornou tão adepta de ataques de pelanca, e tão excludente da autocritica, quanto era a esquerda que criticavam no governo anterior. Sabe o perigo de se tornar igual ao seu inimigo na ânsia de combate-lo?

Considerando que o que chamamos de esquerda não perdeu essa característica, e que esses opositores acordam babando por qualquer coisa que possam usar pra fazer oposição estridente, temos agora uma generalização de pessoas afetadinhas, padronizadas e rasas. Curiosamente, quanto mais aparentemente nos distanciamos, mais nos tornamos iguais na prática! Frases feitas, comportamento tribal e aversão a questionamentos.

Já mencionei em outros textos o quanto essa seletividade hipócrita (sei que soa redundante) é visível nos debate sobre liberdade de expressão e politicamente correto, por exemplo.

A direita é a primeira que aponta vitimização quando uma fala ou piada é condenada por grupos de esquerda, mas são os primeiros a se vitimizarem e fazer barraco quando alguma fala ou piada ataca algo que lhes é de valor, como a religião, seu presidente, seu filósofo ou suas incoerências. Da mesma forma a esquerda mimizenta da lacração é mestra em usar subterfúgios, dignos do mais apto sofista, para legitimar ofensas aos seus opositores como justas, enquanto dizem combater o que chamam de “discurso de ódio”.

OBS- Uso “direita” e “esquerda” na intenção clara de facilitar o diálogo com o “costumês”, antes que algum gênio com imenso senso critico, e avesso a rótulos, faça as honras de mais uma bobeira.

Com essa polarização incapaz de gerar qualquer diálogo produtivo, instaura-se outros debates no Brasil, em que apenas a autoafirmação conquistada no discurso de sua própria bolha, basta para que o sujeito encha o peito de certezas. Basta pouco para se considerar um privilegiado intelectual que precisa domesticar os incautos que insistem em cuspir nesse planeta!

Tomemos o debate sobre o aborto como exemplo. No debate sobre o aborto não temos A discutindo o tema com B. Normalmente temos A discutindo com um imaginário C, e B discutindo com um imaginário D. Temos a turma de direita mais religiosa tratando quem aborta como assassino, porque acreditam que a vida começa na concepção. Do outro lado temos a turma feminista e progressista acreditando que um feto ainda não é uma vida humana em suas primeiras semanas de gestação, sendo um direito da mulher dar ou não prosseguimento na gravidez, jurando que a intenção do outro lado é a de controlar o corpo feminino.

Não faz o menor sentido, para a direita do exemplo, que a esquerda levante dados de mortes em abortos clandestinos ou qualquer outro argumento em defesa da mulher, porque nada disso seria justificativa para legalizar a morte de uma vida que já deve gozar do direito de existir e ser protegida pelas normas do Estado. Do outro lado, de nada adianta para a esquerda que defende a legalização do aborto ser chamada de assassina, porque não existe assassinato nessa sua visão de mundo, e o argumento do inicio da vida, pregado pela camada religiosa, fere as premissas de Estado laico e de direito de não crença.

Teremos mulheres que seriam favoráveis ao aborto mesmo reconhecendo que ali em seu corpo já existe uma pessoa? Sim. Teremos pessoas que não se importam com a vida do feto, mas sim em “punir” a mulher por sua gravidez irresponsável? Sim. Mas usar esses dois tipos como generalistas nas tratativas do tema, soa como mera desonestidade intelectual com a intenção de simplesmente provar que se tem uma visão de mundo justa e intocável.

Temos um papo de louco, uma conversa com as paredes, um debate em que nenhum ponto é capaz de convergir de maneira sensata, porque o outro é inimigo por motivos que outro sequer reconhece.

Você transou com um(a) desconhecido(a) na noite passada. Conheceu num bar, foi pra casa da pessoa e fez tudo o que você não quer pensar que seus pais já fizeram. No dia seguinte você percebe que muitas pessoas estão te julgando e te atacando porque você é infiel e foi exposta(o) publicamente por seu parceiro(a). Só que você não tinha um relacionamento com outra pessoa, não sabe quem é a pessoa que te acusou de traição, mas todos já tomaram inúmeras conclusões e você pouco tem o que fazer para esclarecer o fato de que, se não sofre de amnésia, estava solteiro(a) na noite anterior.

Na quinta série que é o nosso país, os pais esqueram de buscar as crianças. Praticamente não existem adultos na escola, e os que existem se consideram incapazes de conter a guerrinha entre a quinta A e a quinta B. Não existe direção, nem professor, nenhum poder moderador, e nada se aprende. Cada turma fica do seu lado do corredor, pregando peças e tacando bolinhas de papel nos rivais, e a gritaria chega a incomodar os moradores vizinhos, enquanto a escola continua impossibilitada de cumprir sua função. Na verdade, nem existe escola, existe um prédio!

Dentro das salas, conflitos pipocam dentro das próprias turmas de crianças mimadas, burras e autoritárias. Vez ou outra alguém toma um cuecão e seus amigos partem em defesa contra os que teoricamente são aliados. Picuinhas internas são constantes, mas o senso de pertencimento é enorme, e qualquer autocrítica pode ser considerada uma traição, principalmente se os alunos mais influentes derem pitaco, como verdadeiros gurus.

A única coisa que parece não ter fim nessas turmas é a quantidade de papel para criar bolinhas para jogar na porta da turma oposta e dizer que acertou o alvo, enquanto seus colegas aplaudem e dão risadinhas, mas ninguém sabe se terá merenda. Ai de quem fizer do papel um aviãozinho, uma carta, um laço!

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