Casa da Flor: uma obra de arte viva

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Com quantos cacos se faz uma casa? Na Casa da Flor é impossível saber. Ela foi construída e decorada por pedaços de azulejos, porcelanas, vidros e tudo mais que Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985) conseguisse carregar em suas costas, um homem simples, filho de uma índia e de um escravizado, que por 60 anos construiu a obra de arte deixada para o município de São Pedro da Aldeia, com paredes em taipa e utilizando esteios em madeira roliça, decorada com mosaicos, esculturas e enfeites criados a partir do lixo e objetos quebrados e que hoje é reconhecida por sua particularidade artística e complexidade arquitetônica.

A história da casa é contada pelo sobrinho-neto de Gabriel, o senhor Valdemir, que administra e cuida do local. Ele conta aos visitantes com um orgulho e emoção como foi o processo de construção do local, explicando que mesmo sem o conhecimento de engenharia, Gabriel desenhou a casa para ser fresca durante o verão e até o próprio sistema de refrigeração de água. “A alma do ser humano tem carência da simplicidade e essa casa simboliza isso. Gabriel não tinha nada e fez isso tudo (a Casa da Flor). Ele viajava a frente do tempo e sempre me falava que quando morresse a casa iria ficar na história”.

 

Gabriel estava certo! A Casa da flor e hoje é conhecida mundialmente comparada ao Parque Güell, um enorme jardim com peculiares elementos arquitetônicos realizados pelo singular arquiteto Antonio Gaudí que foi reconhecido em 1984 como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO; à Watts Towers, em Los Angeles (Estados Unidos), criadas por Sabato Rodia (1879-1965), um imigrante italiano trabalhador da construção civil; e o Palais Idéal du Facteur Cheval, em Hauterives (França),construído por Ferdinand Cheval (1836-1924), um carteiro francês.

Em 2016, o tombamento da Casa foi aprovado por unanimidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entre as justificativas para o tombamento da Casa da Flor está o ineditismo criativo, que instiga ao debate sobre os processos de produção cultural. O documento destaca que “a Casa da Flor condensa esse esforço de ordenar a desordem, a fragmentação e as oposições, de acordo com um conhecimento do valor das coisas e não da sua utilidade meramente funcional.”

“Esta casa não é uma casa, isto é uma história, porque foi feita por pensamento e sonho”.
Gabriel Joaquim dos Santos

Durante a visita de quase 1 hora, pudemos notar a complexidade da construção e como cada coisa tem um significado muito próprio. Gabriel começou a construir a casa em 1912 para cumprir uma intuição de que teria que viver sozinho. Em 1923, ele teve o sonho de que teria que enfeitá-la, mas como não tinha recursos para comprar os materiais, ele andava pela região, coletando tudo que pudesse levar nas costas. Ele era conhecido por andar nas ruas com uma pedra na cabeça, um paletó velho, um chapéu de palha, chegava a ser ridicularizado nas ruas.

Até 1985, ano de seu falecimento, Gabriel, o criador e único morador da habitação, criou enfeites para embelezar a sua moradia. Ele foi pedreiro, marceneiro, construtor e artista sem jamais ter frequentado uma escola. Em uma passagem deixada, ele conta: “Eu não tive escola. Aprendi no ar, aprendi no vento. Esta casa não é uma casa, isto é uma história, porque foi feita por pensamento e sonho”.

 

 

Para visitar, basta ir durante um final de semana e chamar na casa ao lado da Casa da Flor. A visitação custa R$5,00 por pessoal

Fonte de pesquisa: Iphan

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