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Coluna da Caroline Rocha: Cidade maravilhosa e alagada

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Rio de Janeiro - Passageiros de um ônibus ficaram ilhados no alagamento na Rua do Lavradio, na Lapa, região central, durante temporal com forte chuva e vento que deixou a cidade em estágio de atenção. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Na semana que passou, choveu bastante durante alguns dias, e, na ocasião, enquanto admirava as gotas que escorriam pela janela, e me irritava, a cada hora, com a água que entrava por debaixo da porta, pensava em todas as ruas que foram alagadas, em todas as pessoas que ficaram ilhadas e em todo o caos que esse volume de gotas, precisas, sempre causa para a nossa querida cidade.

Não deveria ser assim, não é mesmo? Afinal, todos os anos, desde que me lembro, isso acontece. Tenho recordações de assistir notícias desse porte na TV, ainda menina, ou de ouvir minha mãe falar ao telefone com meu irmão, preso na Leopoldina por causa de uma alagamento desses, sem conseguir voltar para casa.

O carioca tem um pé atrás com a chuva, e não é de se admirar. A água começa a cair do céu e já corremos para desmarcar compromissos e adiar saídas. Acredite, não é preguiça, é medo, e um medo completamente real, válido e fundamentado. Já disse que sofremos com os pés-d’água há muitos anos, né?

E diante de toda essa reflexão interna, que fazia de frente para o meu quintal, privilegiado por estar no alto e, ainda assim, um pouco alagado, concluí que sempre estivemos abandonados por quem deveria nos cuidar, e assim ainda continuamos.

Não vou lembrar dos atos dos prefeitos passados há muitos anos, enquanto o que queria era brincar e correr na rua, mas, desde que criei consciência social e política, vi governantes debocharem dos temporais, menosprezarem os dilúvios e continuarem plenos, em suas cadeiras secas, sem nada fazerem para resolver o problema, enquanto boa parte da população, ano após ano, perdia tudo o que tinham, e, por muitas vezes, a própria vida.

Não importa se o céu nos manda sua torrente em janeiro, abril, março ou setembro, o que importa é saber quantos meses ou anos mais teremos que viver dessa forma, largados à própria sorte.

Estamos em ano eleitoral, salvo qualquer mudança pandêmica. Logo aparecem vários salvadores da pátria, discursando belas palavras sobre engenharia da cidade, rede de esgoto, coleta de lixo e etc, mas, lembre-se, suas falas, quando muito, caem pelo ralo mais rápido do que as gotas que, durante a chuva, escorreriam pela minha parede.

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