Ruínas
Houve uma dor
Que calou a voz lá no fundo,
Num poço profundo de aflição.
E da solidão mais visceral
Uma escuridão descomunal
Se fez presente.
Na presença da ausência
Eu sofri tua partida,
E tua ida, indelével,
Reabriu toda ferida
Que um dia fez minha alma sangrar.
Dia após dia, as lágrimas, sedentas,
Tornaram-se minha única companhia.
Das letras mais nada sabia,
E a poesia eu não sentia.
Meu corpo era vazio,
Morada absoluta da agonia.
Porém, o tempo, sábio, tudo remedeia,
E até o que é ausente,
Mesmo persistente e diligente,
Pode ser docemente lembrado,
No âmago afável da mente.
Assim, te transformei em lembrança,
Concreta, feliz, autêntica, evidente…
E do palpável do imaterial,
Do amor intransponível e persistente,
Sentido no mesmo universo,
Recriei meus versos em vida e luz.