Um dia para a biodiversidade e o futuro do meio ambiente, por Daniel Damasceno Júnior

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O morceguinho sai da caverna, buscando frutos para comer, sem sequer imaginar, que talvez todo o planeta dependa dessa ação. Ele come um fruto, e na volta para seu abrigo, no caminho ele defeca as sementes. O planeta precisa dessa atitude diária, mas ele não sabe, nem os humanos. Parece exagero, certo? Mas não é…

Na primeira semana de junho é comemorada a Semana do Meio Ambiente, atingindo seu ponto alto no dia 5 de junho, o Dia Internacional do Meio Ambiente. É complexo imaginar que um equilíbrio em escala global seja sustentado pelos serviços de diversos animais de diversas espécies. E é sobre isso que se trata o Dia Internacional do Meio Ambiente.

MEIO AMBIENTE ONTEM

Enquanto fazia um curso técnico de gestão ambiental há alguns anos, me recordo, que enquanto organizávamos a Semana do Meio Ambiente (SeMAm), minha grande preocupação era de não conseguir fazê-lo na primeira semana de junho, como de costume. Então, um dos meus professores me disse a seguinte frase: “Todos os dias são dia do Meio Ambiente. Pois sem ele, não haverá amanhã”

A Conferência de Estocolmo, em 1972, reunia 113 países e 250 organizações não governamentais (ONGs). Ali ecoava a preocupação sobre como o ser humano estava interagindo com o meio ambiente

Desde então, surgiram surtos epidemiológicos mundiais e locais como Marburg, Nipah, Hendra, Ebola, Zika, Chikungunya, SARS (SarsCov 2003), MERS (2012), Raiva, Malária, Leishmaniose, entre tantas outras doenças infecciosas.

E agora, cerca de 50 anos depois, é possível observar a importância dessa preocupação. Surge a Covid-19, causada pelo vírus SarsCov-2.  O que se sabe até o momento sobre a Covid-19, é que o vírus SarsCov-2 surgiu de uma interação inadequada entre homem-natureza

MEIO AMBIENTE HOJE

Em 2020, o tema é Biodiversidade, cujo objetivo é sensibilizar as pessoas sobre a importância dos diferentes tipos e espécies de animais (como ninguém é capaz de mexer com a consciência das pessoas, tentamos torná-las sensíveis à questão).

Biodiversidade é a variação de espécies de animais num local, região, país ou tipo de vegetação. *Na natureza, existe o que chamamos de serviços ecossistêmicos*. Quando um animal come muitos insetos, diminuindo a quantidade deles no ambiente, ele está controlando a população de insetos. Quando come frutos e leva as sementes para longe da árvore-mãe, ele está espalhando e semeando essas sementes. Ou quando está bebendo o néctar de uma flor, e sem perceber, está levando o pólen de uma flor para outra, aquele animal está ajudando na reprodução da planta (polinização). E cada espécie tem um valor especial servindo na natureza.

Mesmo que muitos animais façam serviços ecológicos semelhantes, sua importância é única. Pois em muitos casos há uma relação de dependência entre o animal e o serviço. Como no exemplo do morcego polinizador e a flor do agave. Caso o morcego seja extinto, a agave também será (e adeus, tequila).

Os morcegos insetívoros, por exemplo, comem de 500 a 1000 insetos por hora, retirando toneladas de insetos do ambiente

Podendo representar uma economia de bilhões de dólares que seriam gastos com pesticidas na agricultura. Morcegos frugívoros plantam dezenas de mudas todas as noites, defecando sementes durante o voo (o que chamamos de chuva de sementes). A tequila é produzida a partir da flor de um cacto que só pode se reproduzir com a ajuda de morcegos polinizadores

AQUIEntenda por que o trabalho dos morcegos pode ‘valer’ US$ 1 bilhão

 

TALVEZ TENHAMOS UM AMANHÃ…

Quando olhamos um pouco mais distante da pintura, podemos observar o quão ampla a imagem é. A Biodiversidade cuida da natureza, e a natureza retorna o cuidado (não de uma maneira mística, mas muito concreta). Não é surpresa que tenha ocorrido tantos de surtos de doenças nos anos recentes, fenômenos naturais incomuns (como chuvas torrenciais, ventanias, entre outros) e uma preocupação crescente com o meio ambiente.

Cada organismo possui um conjunto de micro-organismos em seu corpo, chamado de microbioma. Nisso, estão conjuntos de vírus e bactérias os quais o organismo aprendeu a suportar e controlar. A caça, a alimentação, o manejo inadequado de animais selvagens nos coloca em contato com esses organismos que não estamos preparados para enfrentar.

As cavernas por exemplo, são importantes para o turismo, pesquisa, armazenamento de água, sítios arqueológicos, entre outros. Florestas como a Floresta Amazônica e Mata Atlântica, são reguladoras do clima, armazenando gases quentes da atmosfera, água e mantendo nutrientes no solo. Além de sustentar os chamados “Rios Aéreos”, que são as correntes de vapor que flutuam pelo ar irrigando o solo. E, felizmente, impedindo nosso país de se tornar mais um deserto, como os demais dessa mesma faixa.

SE CUIDARMOS DO MEIO AMBIENTE AGORA

O Dia Internacional do Meio Ambiente de 2020 teve diversos eventos online da Organização das Nações Unidas, a sede foi a Colômbia. Foi levantada a campanha nas redes sociais chamada #HoraDaNatureza estimulando atitudes para o cuidado com a natureza.

 

Os cuidados mais abordados são:

Economia de água, minimizando o desperdício, de água potável.

Minimizar a produção de lixo, reduzindo, reutilizando e reciclando (Os 3 R’s).

Diminuir poluição, evitando jogar lixo em terrenos vazios, queimando, jogando esgoto em rios e etc.

Ajustando a alimentação para um consumo mais ecológico.

Não manejar animais selvagens.

 


Além do mais, acompanhar com atenção a legislação referente ao ambiente, como leis que queiram afrouxar a fiscalização ambiental ou permitir uso inadequado de Unidades de conservação e terras indígenas protegidas.

Talvez você acredite que a sua atitude apenas não faça diferença, mas lembre-se do morceguinho que sai toda noite para comer. Você não saiba, mas nunca está sozinho nas atitudes que buscam cuidar do bem-estar da natureza e da vida animal.

 

Daniel A. Damasceno Júnior é biólogo, técnico em Gestão Ambiental e Divulgador científico. Faz pesquisa sobre a biologia de morcegos animalívoros desde 2016 e trabalha em parceria com o Laboratório de Ecologia de Mamíferos (UERJ) e com o Projeto Morcegos na Praça (UFRRJ).

Tem também a página de divulgação científica no instagram e facebook (Morcegando na Rede).

Insta: Morcegando.na.rede

Facebook: Morcegando na Rede

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