Renan Portela
Se um anjo (ou qualquer outra coisa) te apresentasse a Dona Maria, 75 anos, ainda com bastante energia mesmo com os problemas da idade, com seus 2 filhos e seus netinhos que ela tanto ama, e te falasse:
“Fulano, está vendo a Dona Maria? Legal a Dona Maria, né? Coma um pedaço desse bolo que ela fez com muito carinho! Eis o teu desafio: Você precisa ficar 2 ou 3 meses trancado em casa, sem garantia de renda e lutando com todas as adversidades para que Dona Maria continue viva. Caso contrário, Dona Maria morrerá com falta de ar e bastante sofrimento, sem sequer garantia de um atendimento digno no Sistema de Saúde em seus últimos momentos de vida! A escolha sobre o destino de Dona Maria está contigo!”
O que vocé faria pela Dona Maria? Agiria de maneira egoísta ou se dedicaria ao máximo para tentar salvar a vida dela? Sua preocupação principal seria abdicar de garantias econômicas ou salvar a vida de Dona Maria? Se fosse preciso comer mal e até passar fome (em casos extremos) por um curto tempo pra salvar a vida de alguém, você salvaria? Seria forte o bastante para fazer esse esforço? Você escolheria ensinar aos seus filhos coisas valiosas como o amor ao próximo e como agir nas adversidades, ou ia preferir ignorar a chance que você tem de salvar a Dona Maria com a desculpa de que é por seus filhos? Ou talvez uma ou outra conta não paga te faça esquecer a Dona Maria? E se alguém te tentasse falando que o anjo (ou qualquer outra coisa) estava mentindo, ou exagerando, ou não se importando com as suas necessidades e só pensando na Dona Maria, você daria ouvidos e viraria as costas para a Dona Maria? Afinal, o que você estaria disposto a enfrentar para salvar a Dona Maria? A resposta para essas perguntas dizem muito sobre você!
Um dos problemas com a crise do Coronavirus é que nos acostumamos a tratar o próximo como meros números atualizados nos jornais, o que é compreensível até certo ponto, mas isso também nos faz negligenciar o lado humanitário de nossas atitudes e minimizar a gravidade desses números, e os bois precisam de nomes. Talvez com um olhar um pouquinho mais humanitário, e percebendo o que você seria capaz para salvar a vida de alguém, os bois consigam se sensibilizar mais com as possíveis vítimas que podem evitar que se tornem meros números.
No momento (17/04/2020), muitas pessoas que poderiam ser a Dona Maria, que amavam suas famílias e também eram amados, que tinham seus sonhos, seus gostos e sua história, estão mortos porque não demos o melhor de nós para salvar as suas vidas. Porque fomos fracos e apenas contamos os números! E sobre os números, mais de 2 mil brasileiros já nos deixaram por conta desse vírus (considerando apenas os que foram contabilizados), os hospitais estão lotados, e a tendência é que esse número de mortes se multiplique consideravelmente nas próximas semanas, muitas que poderiam ser evitadas se tivéssemos um pouco mais de cidadania e fôssemos até as últimas consequências para salvar as suas vidas. A negligência e o egoísmo te faz cúmplice da dor que a morte da Dona Maria causou! E poderia ser só pela Dona Maria, uma só pessoa, você não faria mais?
Eu estou cagando pra se você é de direita, esquerda ou isentão. Estou cagando se você chupa as bolas velhas do Lula ou as bolas velhas do Bolsonaro. Tô cagando pro PIB da China, pra conspirações malucas, pro seu time ou pra propaganda de cerveja em live de sertanejo. Eu te peço pra fazer por muitos o que você faria pela vida de uma! Só te peço pra se informar com critérios, pra agir com cidadania, pra ficar na sua casa o máximo que puder e tomar todas as precauções necessárias se precisa sair ou se trabalha em áreas fundamentais pro momento. Tenha como prioridade a vida da Dona Maria por um tempo! Você é capaz disso, não é?