Sites pró Bolsonaro querem pautar o jornalismo?

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A guerra Jair Bolsonaro versus imprensa ganhou novos contornos no último final de semana. O site pró Bolsonaro Terça Livre, que se propõe liberal mas é mais pautado por ser um site ideológico e ativista e não propriamente de jornalismo, acusou o Jornal Estado de São Paulo e a jornalista Constança Rezende de tentarem arruinar o presidente e seu filho Flávio Bolsonaro, através das denúncias do COAF sobre movimentações atípicas, caso bem explicitado aqui em GAZETA RJ.

Não se pode negar que a relação entre Jair Bolsonaro e a imprensa tradicional sempre foi conflituosa. Desde seus tempos de deputado do baixo clero, ele sempre foi tratado de forma histriônica pela imprensa, pelos seus posicionamentos pró ditadura militar e tortura e mais recentemente por homenagear o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, já falecido.

Voltando ao Estadão, a jornalista Constança Rezende foi acusada por conta de um vazamento de uma conversa telefônica entre ela e uma pessoa identificada como Alex MacAllister e sim ou não o tal de Jawad, jornalista francês que queria investigar a atuação da imprensa segundo ele “contra Bolsonaro”

Porém o site Terça Livre, que além de ativistas reúne até jornalistas experientes como Políbio Braga, cometeu um erro crasso, um erro imperdoável no jornalismo: colocar uma frase entre aspas que nunca foi dita. Dizer que a jornalista tinha a intenção de arruinar Bolsonaro além de ser grave, é passível de punição por calúnia.

A manchete do Terça foi a seguinte: “BOMBA!! Jornalista do Estadão confessa: “A intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”.

A frase jamais foi dita.

Constança jamais fez tal afirmação e em momento algum diz que tenha a intenção de acabar com o governo ou prejudica-lo.

Ela diz que está há trinta dias no caso e esse caso poderá arruinar os Bolsonaro, sem colocar intenção e sim uma constatação, segundo ela, diante do caso COAF.

Terça Livre ainda questiona os documentos do COAF terem chegado a jornalista mas dentro do jornalismo profissional essa é uma prática absolutamente comum e rotineira. Existem fontes. Das fontes podem sair grandes matérias e furos e documentos já deram origem a grandes reportagens.

A Operação Lava Jato foi um exemplo puro de como a indústria do vazamento de documentos atuou.

Porém como em grande parte, o PT era o culpado, para eles tava tudo bem.

Pior é que o site quer condenar a jornalista atribuindo isso a uma suposta onda de conspiração contra o governo.

A militância bolsonarista passou a atacar ferozmente Constança nas redes sociais e citar seu pai, o também jornalista Chico Otávio do jornal O Globo.

Chico é um dos jornalistas que mais investiga a ação das milícias no Rio e já escreveu um livro sobre a história dos bicheiros donos de escola de samba no Rio.

É preciso ressaltar. O Terça Livre assim como outros sites somente defendem o governo Bolsonaro e ao invés de entrarem a fundo sobre a história do COAF, preferem atacar o jornalismo profissional a todo tempo, da mesma maneira como os blogs petistas atuavam.

Constança não foi a primeira a fazer matéria sobre o caso COAF e sim Fábio Serapião e não há evidência alguma de que ela tenha dito que queira arruinar o governo.

O pior foi o próprio presidente Jair Bolsonaro entrar na onda de desinformação e compartilhar a “informação” do Terça Livre.

O perfil do Twitter Isentões, também pró Bolsonaro supôs que o problema do Estadão fosse a verba de publicidade estatal, como se os grandes meios de comunicação dependessem disso.

De fato, uma parte da imprensa é hostil ao governo, da mesma forma como foi nos governos petistas e no governo Michel Temer.

De fato os grandes grupos tem suas preferências e interesses mas os sites militantes tem que entender que os jornais não são piores por não falarem aquilo que não querem ler.

Mas tão grave quanto a Fake News do site, é a descoberta de que a repórter que escreveu a matéria caluniosa contra Constança, trabalha para o gabinete do deputado Bruno Engler do PSL de Minas Gerais. A informação veio do site do ótimo jornalista Ruben Berta. Fernanda Salles Andrade faz jornalismo ou militância partidária?

O Terça, outros sites e canais Bolsonaristas na internet se valem muito dos ataques a imprensa no geral. Será que eles querem uma imprensa que só fale como eles e que só defenda pautas deles? Por que continuam achando que os grandes jornais são de esquerda?

A briga ainda por cima é burra. Paulo Guedes deu uma entrevista ao mesmo Estadão que poderia ser positiva ao governo.

Jair Bolsonaro não pode tratar a imprensa como inimiga. Isso relembra os piores tempos contra a liberdade de expressão.

O caso COAF não é Fake news, Constança em momento algum disse que queria prejudicar o governo, o Terça mentiu e promoveu desinformação e em momento algum se retratou.

Em uma live na noite de segunda feira, as provocações a grande imprensa continuaram. Hoje, o tal jornalista francês reafirma que não há mentira na conversa.

Sim. A conversa é real. A interpretação dela é que está equivocada.

Colocam ainda uma suposta fala de uma pessoa do minúsculo The Washington Times, para atribuir uma veracidade inexistente ao caso.

Mais uma vez, o jornalismo profissional está em xeque. Mas deverá resistir.

Eu sou a favor do jornalismo independente, mas ele precisa ser pautado nas regras primordiais da função e não pode ser desonesto. A credibilidade é o nosso maior bem. O jornalismo independente dos grandes grupos devem ser apoiados, mas mentiras não podem ser toleradas. E isso não tem a ver com sua linha ideológica.

A mentira faz parte do objetivo de desinformar.

O que o Terça Livre fez passou totalmente dos limites do bom senso e seu autor, Allan dos Santos e Fernanda devem ser responsabilizados.

Bolsonaro precisa parar de querer controlar a mídia e incentivar o linchamento moral. Ele precisa largar o Twitter e começar a trabalhar

Seu início de governo nem os sites Bolsonaristas salvam.

1 COMENTÁRIO

  1. O problema é que não existe jornalismo independente no Brasil, as eleições do ano passado escancararam de que lado estavam Estadão, Veja, Globo, Folha/UOL, entre outros veículos.

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