Editorial: Ricardo Boechat, referência de jornalismo

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Num mar de acontecimentos trágicos em 2019, seja as mortes de pessoas queridas ou desastres ou tragédias, ontem quando pensávamos que teria um dia de calmaria, um duro golpe.

Morreu o jornalista Ricardo Boechat, aos 66 anos, numa queda de helicóptero em São Paulo.

Foi se uma das maiores referências da indignação contra tudo que há de errado neste país. Uma das maiores vozes do bom jornalismo, de furos, de ir atrás da verdade.

Boechat foi um dos grandes da sua geração. Não concluiu o ensino médio, mas foi brilhante e daria aula em qualquer faculdade.

Começou no Diário Carioca. Passou nas principais redações do país, como Estadão e O DIA e teve destaque em O Globo e Jornal do Brasil, antes da Band.

Boechat soube se reinventar.

No Globo nos anos 80 trabalhou na coluna do grande Ibrahim Sued e ao voltar, era dele a coluna Swann.

No JB trabalhou com Zózimo Barroso do Amaral.

Voltou ao Globo, foi colunista da página 2, com seu comentário político, que pautava todos os outros jornais do país.

Era audacioso, buscava a verdade, trabalhava demais e era exigente também.

Muitos classificaram uma bronca que ele deu na produção semana passada como assédio moral. Broncas como essas são rotineiras em redações, escritórios e fazem parte da rotina e do dia a dia da notícia.

Mas certamente após a bronca, Boechat foi lá e afagou a produção e ficou tudo bem.

Em 2001, sua carreira quase acabou. Foi colocada em xeque sua reputação e credibilidade, quando a Revista Veja divulgou áudios de uma conversa dele com o amigo e jornalista Paulo Marinho, sobre uma matéria em que relatava problemas entre o banqueiro Daniel Dantas, o Grupo Oportunnity e Nelson Tanure, que acabara de adquirir o Jornal do Brasil.

As Organizações Globo o demitiram em Julho de 2001 por falha ética.

A tal matéria da Veja sumiu do noticiário nos dias seguintes, não resultando em absolutamente nada.

Boechat em texto no Observatório da Imprensa, relata que mereceu ser demitido, mas não por isso. Mas pelo fato de ter se envaidecido pela possibilidade de reerguer o JB dentro de O Globo.

A verdade é que Boechat nunca esteve errado nesse caso. O Globo usou um suposto escândalo fabricado por VEJA para punir

Mas o destino é tão incrível que se ele não tivesse saído da Globo não teria sido o que foi dentro da Band.

De lá assumiu uma coluna no JB, onde ficou até 2002, já na derrocada do jornal, trabalhou também na Rádio K, hoje Rádio Sagres de Goiás e foi para a TV Bandeirantes.

Na Band ajudou a implantar a Rádio Band News e lá ajudou a construir uma marca da rádio, que era independente do que fosse, dar preferência a fala do ouvinte.

Polêmico, opinião firme que desagradava a ala mais baixa do petismo e do Bolsonarismo e da velha política.

Crítico de Temer, Jucá, Sarney, Aécio, gerou revolta de blogs sujos petistas com suas críticas ácidas ao ex-presidente Lula.

Para a suposta jornalista Nathali Macedo, Boechat era o que de pior havia no jornalismo e seu jornalismo opinativo era duvidoso, já que esses veículos de esquerda não aceitam críticas a eles e ao partido.

Boechat gerou revolta nos pró Bolsonaro com críticas a respeito de manifestações do então deputado e pedia recentemente explicações mais razoáveis de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz.

Sua famosa briga com Silas Malafaia, onde os dois estão errados, gerou um processo resolvido mas idiotas que se dizem cristãos diziam que era vingança de Deus, tese absurda.

Chamou Crivella de canalha no ar, criticou Eduardo Paes num período em que a imprensa, especialmente as Organizações Globo, só elogiavam o ex-prefeito.

Lutou incansavelmente para dar voz aos que não tinham voz e não ligava a mínima para declarações oficiais, seja de que lado fosse.

Esse jornalismo sério e crítico com todos está em falta.

Hoje vemos uma parcialidade dos meios de comunicação gigantesca

Boechat já me irritou e muito, quando eu discordava dele mas era tão referência que virou minha companhia todos os dias, as 7 e meia da manhã.

Um dos meus projetos é ir a São Paulo este ano, conhecer as redações dos grandes veículos de comunicação e sem dúvida, eu gostaria de ter conhecido, conversar e entrevistar Ricardo Eugênio Boechat.

Se foi uma referência de bom jornalismo, num momento em que ele precisa se fortalecer cada dia mais.

A Band, que atravessa uma grave crise financeira sofre um baque tremendo que certamente irá influenciar na audiência da Rádio e da TV.

A CNN já estudava a sua contratação no Brasil a peso de ouro.

Se foi um dos grandes. Eu vi na minha rede social diversas mensagens de homenagens.

Taxistas o homenagearam.

Queira na vida ser alguém digno de receber tamanhas homenagens.

Em vida, foram muitas. Muitos prêmios e o digno reconhecimento.

Uma lacuna fica no jornalismo brasileiro.

Obrigado pelos ensinamentos, Ricardo Eugênio Boechat.

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