A Cigarra e a formiga

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Rio de Janeiro - Blocos carnavalescos tocam na Abertura do Carnaval Não Oficial neste domingo, no centro da cidade (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Aloisio Villar

Todo mundo conhece a fábula da cigarra e da formiga, né?

Não preciso entrar em detalhes da história moralista que conta que a cigarra só cantava enquanto a formiga trabalhava e no inverno a cigarra se ferrou enquanto a formiga estava protegida. Acho essa história moralista, conservadora e um tanto “bolsonarista” porque pessoas são diferentes, não dá pra dizer que a formiga é melhor que a cigarra só porque faz trabalho burocrático enquanto a outra fazia arte. Prefiro a música de Raul Seixas que diz que a “Formiga só trabalha porque não sabe cantar”.

O colunista enlouqueceu por colocar essa fábula no dia da coluna de esportes? Não, caro leitor. Não por isso pelo menos.

Uso esse exemplo para falar do Grêmio e gargalhar que apesar do recente 3 a 0 tomado contra o Sport em sua arena, o Grêmio cresceu nas mãos de Renato Gaúcho. O time, que estava em franca decadência, nas mãos de Renato se levantou, voltou a vencer, briga pelo famigerado G6 e está na final da Copa do Brasil. Sua primeira grande final em nove anos.

Chegou nessa fase nas mãos de um cara “fanfarrão”. Um cara que em vez de ir para Europa estudar, em vez de fazer cursos, conhecer clubes do exterior, se reciclar como os neo jornalistas capitaneados pelo rapaz mal humorado Mauro Cezar Pereira pregam ser o ideal, ficou na praia jogando futevôlei por dois anos, desde que foi demitido pelo Fluminense.

Eu gargalho com essa situação, chego quase a passar mal de tanto rir porque o malandro gaúcho quebrou toda essa sisudez e análises de jornalistas que trocaram a boleiragem pelas estatísticas e tratam futebol como ciência exata. Renato é a cigarra, ele se permite ser a cigarra.

É o melhor técnico do mundo? Não, longe disso. Queria no Flamengo? Hoje não, mas Renato é um treinador que ganhou a Copa do Brasil de 2007 e fez final da Libertadores de 2008. Não tem currículo inferior a Mano Menezes, por exemplo, o queridinho dessa imprensa que tem um título da Copa do Brasil pelo Corinthians e duas Séries B. Mano nunca fez final de Libertadores, Renato fez.

A formiga nessa história nem é o Mano, é o Roger, o técnico anterior do Grêmio. Roger até mostra ser um bom técnico. Ano passado pegou um elenco devastado pelo ex-Felipão (ex, porque o verdadeiro morreu em 2014) e conseguiu levar o clube ao terceiro lugar no Brasileiro. Com isso, passou a ser cultuado pela imprensa como o novo Telê Santana.


Detalhe: terceiro lugar entrando no lugar de um medalhão é o mesmo que Zé Ricardo está fazendo agora. Na frieza dos números, ele fez nada muito mais importante que Zé e Jair Ventura.

Esse ano fez uma péssima Libertadores, perdeu de novo o Campeonato Gaúcho e começou bem o Brasileiro, mas despencou, não ganhava mais de ninguém, se afastou dos lideres e aí entrou Renato fazendo tudo o que eu já citei.
Aí o que acontece? Você coloca na ESPN em um daqueles intermináveis Bate-Bola ou na mesa redonda, e está o tal do Mauro Cezar, o rapaz cuja esposa dorme de calça jeans, dizendo com todas as letras que o Grêmio de Renato faz sucesso porque não atrapalhou o trabalho de Roger.
Que trabalho? Terceiro lugar de um Brasileiro ano passado e vexames em 2016? Porque Roger é estudioso e faz cursos na Europa? Por isso ele é mais valorizado? Nesse caso Roger é sim a formiga e Renato a cigarra e como disse Raul, Roger só é a formiga porque não tem talento nem carisma para ser Renato.

Renato é boleiro, fanfarrão, joga futevôlei, fala frases de efeito, saiu com milhares de mulheres e isso prejudica a sua imagem. Mas ele é assim, é a sua essência, mas por preconceito botam dentro de campo a imagem que criou. Foi assim que fizeram com Joel Santana, um dos nossos técnicos mais vitoriosos e que de tanto sofrer deboche acabou incorporando o personagem. Bons para eles são Roger e Mano, os vitoriosos que não vencem. 

Enoli Lara e Renato no antigo Baile do Vermelho e Preto… Bons tempos.. 

Renato é marrento? Ele pode e não porque tem o rei na barriga, mas porque virou rei com a barriga.

No reino das fábulas, eu prefiro as cigarras

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

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