Por Marcello Cohen
Nesse exato momento, chega ao fim um capítulo extremamente complicado da história do Brasil. Um capítulo que começou dia 26 de outubro de 2014 por volta das 8 da noite, e se encerra dia 31 de agosto de 2016 por volta de 1 da tarde. É bom lembrar, tudo que aconteceu até agora só foi possível pelos inegáveis equívocos da presidente da republica oficialmente afastada. Tudo que aconteceu até agora ainda é muito quente para julgamento imediato. A história vai responder nossas dúvidas, mas acompanhando de perto tudo que aconteceu eu vejo com muita preocupação.
Nesses dias, vi um preocupante avanço da extrema direita no Brasil. Vi muita gente saindo do armário. Vi pessoas pelas quais tinha muito carinho e profunda amizade se revelarem verdadeiros fascistas. Hoje infelizmente não consigo olhar elas da mesma maneira. Que fique claro, não me refiro a direita equilibrada e justamente indignada com a politica brasileira, e sim o seu extremo. Enquanto isso, muitos brasileiros foram para as ruas com as melhores intenções, mas infelizmente outros tantos fizeram manifestações extremamente semelhantes com aquelas que deram origem a ditadura militar nesse país.
Não concordo com o julgamento concluído, não estou nem um pouco feliz com o dia de hoje, mas nunca fiz uso da palavra golpe. Gostando ou não, o rito constitucional foi seguido rigorosamente. O que vale o debate são as denúncias, e principalmente, as intenções do senhor Eduardo Cunha ao iniciar isso tudo – assim como as intenções de alguns na hora de votar. Para encerrar, gostaria de deixar claro que um senador foi contra a minha posição nesse momento, mas continua gozando de todo o meu respeito. Cristóvão Buarque foi digno mesmo em lado oposto. Discursou com invejável equilíbrio e deu sua posição justa sobre os enormes problemas enfrentados por uma esquerda brasileira muito mal representada. Respeito profundamente meus amigos que estão comemorando o dia de hoje, mas honestamente, não concordo com nada que aconteceu e estou extremamente preocupado. Tenho poucas esperanças de dia melhores, mas sim muito temor. As páginas de livros de história em 2022, 23 e por ai vai vão deixar claro qual é o lado certo desse capítulo da nossa história.
Falando diretamente da Dilma, tenho inúmeras criticas ao seu mandato. Esses erros fizeram tudo ser possível, mas uma coisa eu admiro profundamente nela. O que essa mulher aguentou nesses últimos dois anos não foi brincadeira, mesmo que no fundo tenha culpa disso. Aguentou firme e com dignidade encarou seus detratores de peito aberto, dignificando sua despedida. Eu não aguentaria metade do que foi submetida.
Marcello Cohen é estudante de jornalismo, é dele o site coração de metal, destinado ao rock.
