Governo inclui cloroquina em tratamento de casos leves de Covid-19

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BRASÍLIA (Reuters) – O Ministério da Saúde liberou nesta quarta-feira um novo protocolo de uso do medicamento cloroquina desde os sintomas iniciais da Covid-19, atendendo a exigência do presidente Jair Bolsonaro de ampliar o uso do remédio, apesar de não haver estudos que comprovem sua eficácia.

O novo protocolo lista a dosagem para o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, associada ao antibiótico azitromicina, para uso no caso de sintomas leves em duas fases da doença, do primeiro ao quinto dia e do sexto ao 14º dia e também para casos moderados.

Até agora, o uso da cloroquina tinha um protocolo do ministério apenas para casos graves, adotado ainda pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Apesar da falta de comprovação científica, o fato de não haver tratamento adequado para a Covid-19 ainda, levou Mandetta a aceitar a criação de um protocolo para o caso de outras alternativas não darem resultado.

Junto com o protocolo desta quarta-feira, o ministério divulgou um termo de consentimento que deve ser apresentado ao paciente alertando para possíveis efeitos colaterais do uso da cloroquina, como redução dos glóbulos brancos, disfunção do fígado, disfunção cardíaca e arritmias, e danos na retina.

Além disso, o termo ainda alerta que “não existe garantia de resultados positivos, e que o medicamento proposto pode inclusive agravar a condição clínica, pois não há estudos demonstrando benefícios clínicos.”

A ampliação para casos leves, proposta pela oncologista Nise Yamaguchi, foi uma das causas da demissão de Mandetta, que se recusava a fazê-lo sem comprovação de resultados científicos, e também levou ao pedido de demissão do comando do Ministério da Saúde de Nelson Teich, na semana passada.

Teich foi pressionado por Bolsonaro para alterar o protocolo depois que os grupos bolsonaristas nas redes sociais começaram a cobrar o ministro por ter dito que não havia evidências científicas da eficácia da cloroquina. O então ministro preferiu então pedir demissão.

O novo protocolo foi publicado sob o comando do ministro interino, general Eduardo Pazuello. A decisão do Planalto foi atender a exigência de Bolsonaro antes que um novo ministro seja nomeado para não ressuscitar novamente o problema.

 

Novas orientações

As orientações divulgadas hoje para o tratamento precoce de pacientes diagnosticados com o novo coronavírus incluem, na fase de sintomas leves e moderados, o uso da cloroquina ou do sulfato de hidroxicloroquina associados à azitromicina por 14 dias. Após o 14º dia devem ser prescritos medicamentos de acordo com os sintomas apresentados.

Casos leves são aqueles pacientes que não precisam de internação e apresentam sinais como coriza, diarreia, febre, perda do paladar e olfato, dores musculares e abdominal, tosse, fadiga e dores de cabeça. Tosse e febre persistente, com piora de algum dos outros sintomas e presença de fator de risco, são sinais moderados de covid-19. Para os casos moderados, a equipe médica deve avaliar a necessidade de internação e a presença de infecção bacteriana e considerar o uso de anticoagulantes e corticóides.

Já os casos graves são aqueles que apresentam falta de ar e baixa pressão arterial. Para esses pacientes, o Ministério da Saúde orienta a administração do sulfato de hidroxicloroquina e da azitromicina, sem período de tempo determinado. O médico deve ainda considerar o uso de imunoglobulina humana, anticoagulante e pulso de corticoide.

No documento, a pasta informa ainda que são contra-indicações absolutas ao uso da hidroxicloroquina gravidez, retinopatia/maculopatia secundária ao uso do fármaco já diagnosticada, hipersensibilidade ao fármaco, miastenia grave. Em crianças, deve-se dar sempre prioridade ao uso de hidroxicloroquina pelo risco de toxicidade da cloroquina. E a cloroquina deve ser usada com precaução em portadores de doenças cardíacas, hepáticas ou renais, hematoporfiria e doenças mentais.

O Ministério da Saúde orienta ainda que a hidroxicloroquina não deve ser coadministrada com amiodarona e flecainida. Há ainda a constatação de interação moderada da hidroxicloroquina com digoxina, ivabradina e propafenona, etexilato de dabigatrana, edoxabana, e de interação leve com verapamil e ranolazina. A cloroquina deve ser evitada em associação com clorpromazina, clindamicina, estreptomicina, gentamicina, heparina, indometacina, tiroxina, isoniazida e digitálicos.

De acordo com o Ministério da Saúde, a pasta está consolidando novas orientações para o manejo de pacientes com covid-19. Além de fármacos, equipamentos e recursos humanos também estão sendo trabalhados.

Reportagem de Lisandra Paraguassu da REUTERS  e infos da Ag Brasil

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