Toda Olimpíada é a mesma coisa. A gente olha as meninas do futebol com esperança, com aquele sentimento de “agora vai” e até com um olhar de pena já que sempre pensamos que o futebol feminino não tem investimento e tal..
Aí um outro lado diz
– Claro, não tem investimento porque não tem público, não atrai mídia e patrocinadores. Se não tem tudo isso é porque não é interessante. –
Alguns aspectos dessa segunda observação estão corretos como a falta de investimento somada a falta de público e mídia.. é uma avalanche.
Só que nesse país, os maiores problemas são todos debatidos de maneira rasa sem discutir o que em outros lugares é meio óbvio: o cerne do problema.
Onde ele iniciou, começou e o porquê chegamos nesse patamar.
A CBF após a Olimpíada do Rio mais uma vez falou que iria organizar melhor o futebol feminino. Até houve uma pequena melhora com Campeonato Brasileiro cujo Santos venceu o Corinthians na final com bom público. Mas falta…
Falta um calendário em que as meninas se ocupem o tempo todo do que fazem de melhor que é jogar futebol. Elas são profissionais e deveriam ser pagas pra isso.
O problema é histórico, é social. Vivemos numa sociedade em que há dez anos atrás mulher jogando bola era “coisa de sapatão” esquecendo se de forma ignorante como o futebol feminino é melhor organizado no mundo.
Nunca houve incentivo a formação de jovens jogadoras de futebol nas escolinhas e faculdades.
Ainda assim, resultados começaram a aparecer. A seleção brasileira formada nos anos 90 teve resultados expressivos até os anos 2000 com o auge na chegada de Marta a seleção.
Marta venceu o prêmio de melhor jogadora do mundo e fez uma Olímpiada brilhante junto com a seleção comandada por Renê Simões em 2004 em que perdeu por detalhe a medalha de Ouro.
O que Ricardo Teixeira disse a ele e as meninas? Que o futebol feminino seria valorizado dali pra frente com calendário fixo, estrutura e tudo mais.
Nunca teve. Não é que futebol feminino não gera público.
É mentira.
É só ver todas as partidas que a seleção faz no país, sem falar na cultura formadora no nosso país que não existe.
Os jogos das meninas na Olímpiada, sem falar nos torneios de final de ano e no Pan 2007 deram bastante público.
O problema é outro. Aliás.. são outros.
Não há preocupação em formar novas jogadoras nas escolas. Não há preocupação e investimento do setor público nisso, não tô falando de investimento privado em escolinhas.
Toda escola nesse país seja de ensino fundamental e médio deveria ter uma atenção boa para os esportes e seguir o modelo norte-americano.
Colocar jovens no esporte é investimento em educação, segurança, investimento em vida e até na economia mas isso é assunto pra outro dia.
Mas..
A saída de Emily Lima do comando da seleção brasileira revela um equívoco e um certo machismo dos dirigentes brasileiros.
Emily estava formando uma nova equipe após a Olimpíada do Rio, escolheu adversárias difíceis como Austrália e Estados Unidos em amistosos, revelou novas jogadoras e as integrou com veteranas como Marta e Cristiane sem falar num calendário fixo que ela montou, o que desagradou o status quo da CBF. Ou seja, Emily estava fazendo uma renovação no método e na filosofia de trabalho enquanto os velhos dirigentes, muitos deles que não podem sequer sair do país porque podem ser presos não querem mover uma palha sequer.
O Brasil possui dois campeonatos. É um caminho. O Brasileiro Série A que foi vendido pelo Santos e que durou apenas quatro meses e o da Série A 1. O avanço vem no fato ainda inédito da equipe campeã ir para a Libertadores.
A transmissão de alguns jogos foi feita pelo SporTV.
O que falta ?
Investimento.
Da CBF em mapear e organizar esses campeonatos de forma que as meninas joguem o ano todo, como os homens jogam.
E criar junto com o governo, seja ele qual for um mecanismo de incentivo a prática do esporte pelas mulheres.
A mentalidade machista nossa regrediu e hoje somos mais liberais quanto ao nosso futebol feminino.
Alguns times do futebol feminino brasileiro não possuem apoio e nem patrocinadores. Chapecoense foi um exemplo. Deve voltar. Fluminense é outro. Cadê o ótimo time do Flamengo, tão bem anos atrás?
E isso não é só no profissional e sim em todas as bases.
Por isso é muito mais fácil seguir carreira fora do país.
A seleção permanente em 2016 na Olimpíada foi a mostra e a prova de que a CBF não tinha capacidade para mapear durante o ciclo olímpico.
Emily tentou fazer isso. Conseguiu mesclar e incomodou por isso. Incomodou dirigentes que não queriam e não querem ver nada acontecer.
Campeonato Mineiro feminino. Não teve jogos. Sabe o porquê?
Porque em nenhum dos jogos tinha sequer um médico!!!
Exigência para se ter jogo de futebol no país e não tinha um médico para um jogo de futebol feminino.
Enquanto as confederações cagam para o futebol feminino, Marta vai ficando mais velha e uma hora vai parar.
Teremos time depois disso?
O sistema precisa mudar. Incentivo público. Um calendário que comporte o ano todo e com mais equipes e que invistam como no masculino.
Nada a ver com retorno mas com a possibilidade de desenvolver o esporte aqui para as mulheres. Não parece mas engatinhamos muito ainda.
Se desfiliar da CBF e criar uma nova confederação apenas para o feminino é uma solução mas precisa passar pela FIFA.
Nosso país tem muito a evoluir.
Emily foi mais uma vítima do sistema.