As escolas esquecidas pela mídia 

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Aloísio Villar

Texto originalmente publicado no site “O Batuque”



Era uma vez duas entidades de samba. Elas surgiram após o fim de uma terceira acusada de tudo de ruim que possa se imaginar. As duas entidades nasceram com pessoas diferentes, ideias diferentes e nasceram antagônicas, se odiando.
Um ódio mortal que dividiu o mundo do samba. Trocavam acusações, ofensas e outras coisas mais sérias do que isso. O clima era tão hostil que muitos tinham medo do que poderia ocorrer.
Nesse clima péssimo, decidiram as duas realizar o carnaval das pobres escolas de baixo, que ficavam perdidas sem saber o que fazer ou caminho percorrer.
Uma entidade ficou com o grupo mais nobre – ou menos pobre – dessas escolas, a outra com o restante. Por coincidência quase todas as escolas que apoiaram a segunda entidade foram rebaixadas no desfile da primeira e assim se fez o carnaval.
Mais um carnaval veio, e para estranheza, os dois lados apoiaram o presidente da segunda entidade a vereador. O candidato infelizmente morreu antes da eleição e veio a maior surpresa: a segunda entidade resolveu, não só abrir mão de suas escolas, como apoiar a primeira. Antes acusava de tudo e agora aplaude e chama de exemplo de organização e transparência.
Isso tudo ocorre no carnaval carioca entre a Liesb e O Samba é Nosso, na Intendente Magalhães, com as escolas que ninguém dá a mínima e isso tudo tem um agravante: os dirigentes, que antes se odiavam e se uniram, decidiram sem consultas que as 11 últimas do Grupo E ficarão de dois a quatro anos sem desfilar. Onze em um universo de 19. Onze escolas que já não recebem subvenção, tem apoio nenhum, e a mídia ignora.

Onze escolas que têm seus pavilhões, histórias e comunidades deixarão de existir porque essa é uma pena capital. Onze escolas que são um fardo para as entidades, inexpressivas para a mídia, mas para quem as amam são tudo.
E nem podemos dizer que é para enxugar os desfiles, porque para 2017 cinco foram aceitas e outras serão no ano seguinte.
Ninguém olha por essas escolas, ninguém as defendem. Não recebem dinheiro, não recebem nenhuma ajuda e fazem seus carnavais na marra. Vivi esse carnaval ano passado e vi como é. Vi o diretor de Carnaval do Samba é Nosso, com truculência, expulsar essas escolas do barracão na madrugada do desfile, impedindo de terminar seus carnavais com dignidade ou o mínimo dela. Não vi a mesma fúria ou força para manter sua entidade agora, tanto que virou vice-presidente da outra.
Agora são todos amigos. Quem se odiava agora se ama, e quem ficou no meio dessa briga está nesse momento com cara de palhaço. Escola que defendeu por ideal, a entidade que abriu mão dela tem medo do futuro, e 11 escolas vão desaparecer. Entre essas escolas, o meu Boi da Ilha corre riscos.
Liesb e Samba é Nosso não parecem ligar para essas escolas, só queriam o poder, briga de vaidade. O samba nunca foi nosso, o samba é deles. A escola que devia ter brigado para vencer foi rebaixada, e o seu presidente disse que entraria na justiça para ficar no grupo, agora diz que foi tudo justo. A mesma escola que eu me indispus com o site que trabalhava lhe defendendo.
E as 11 escolas? Vão morrer porque ninguém dá a mínima, a mídia dá a mínima. Só querem saber das escolas do Grupo Especial, gravações de seus sambas e dar notas.
Pobres escolas do Grupo E, as escolas que a mídia esqueceu.

Twitter –  @aloisiovillar
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Aloisio Villar
Escritor, dramaturgo, cineasta. compositor de samba-enredo, autor de 32 sambas-enredo com destaque para Boi da Ilha 2001 (vencedor do Estandarte de Ouro de melhor samba do grupo A). Autor das peças "Eu matei Nelson Rodrigues", "Dona Carola" ,"Comédia em seis atos" entre outras. Autor dos livros Dinastia, Na Passarela do teu coração e Amor. Colunista de cotidiano e esportes no blog Ouro de Tolo, de carnaval do site OBatuque.com, SRZD, Carnavalesco, Blog do Léo, 100% Carnaval entre outros. Fundador e primeiro vice presidente do G.R.E.S. Nação Insulana, campeão do Grupo E do Carnaval 2016 e um grande filósofo do cotidiano carioca

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