Morre o escritor e filósofo Olavo de Carvalho

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Morreu na região de Richmond, na Virgínia, Estados Unidos, o escritor, filósofo e professor Olavo de Carvalho, aos 74 anos de idade. A informação foi confirmada pela família, que a divulgou nas redes sociais. Confira

“Nota de falecimento

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho (1947-2022)

Com grande pesar, a família do professor Olavo de Carvalho comunica a notícia de sua morte na noite de 24 de janeiro, na região de Richmond, na Virgínia, onde se encontrava hospitalizado. O professor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos. A família agradece a todos os amigos as mensagens de solidariedade e pede orações pela alma do professor.”

Olavo estaca internado na Virgínia, nos Estados Unidos onde morava há vários anos

Segundo informações, o escritor e professor estava internado após contrair a Covid-19

Biografia

Em fevereiro de 1977 começou a colaborar na Folha de S.Paulo (no caderno literário “Folhetim”).

Em 1979, fundou na cidade de São Paulo, a Escola Júpiter, no Jardins, juntamente com Antônio Carlos “Bola” Harres e Mary Lou Simonsen (filha do empresário Mário Wallace Simonsen), a escola organizava seminários, eventos e palestras tais como o Pequeno Seminário de Astrologia (fevereiro de 1979) e o Segundo Seminário de Astrologia (setembro de 1979). Um dos ex-alunos da escola foi a astróloga Barbara Abramo. Olavo de Carvalho ministrava cursos de astrologia e outros temas; um desses cursos, com duração de oito meses e uma aula semanal, Olavo ofereceu “Orientação Profissional Segundo a Astrologia. Como astrólogo, colaborou no primeiro curso de extensão universitária em astrologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1979, oferecido a formandos em psicologia.

Na década de 1980 tornou-se membro da Tariqa, ordem mística muçulmana liderada por Frithjof Schuon. Embora admita a importância do Islã em sua formação, hoje lamenta a sua expansão no Ocidente.

Estudou no Conpefil (Conjunto de Pesquisa Filosófica) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro por três anos, sob a direção do professor e padre Stanislavs Ladusãns. Apresentou os trabalhos Estrutura e Sentido da Enciclopédia das Ciências Filosóficas de Mário Ferreira dos Santos e Leitura Analítica da ‘Crise da Filosofia Ocidental’ de Vladimir Soloviov, mas não concluiu o curso, saindo dele após a morte de Ladusãns (1993); não possuindo, portanto, nenhum título acadêmico formal.

Até 2016 escreveu para o Diário do Comércio (veículo de propriedade da Associação Comercial de São Paulo) na coluna “Mundo Real”.

Em 1996, publicou O imbecil coletivo: atualidades inculturais brasileiras, no qual criticou duramente o meio cultural e intelectual brasileiro. A obra recebeu elogios do jornalista Paulo Francis e do economista Roberto Campos, que classificou Olavo como “filósofo de grande erudição”.

Debateu com o russo Aleksandr Dugin (cientista político, conselheiro do presidente da Rússia Vladimir Putin e principal ideólogo do eurasianismo) sobre a Nova Ordem Mundial, gerando em 2012 o livro Os EUA e a Nova Ordem Mundial. O ensaísta libertariano romeno Horia-Roman Patapievici elogiou muito a postura e os argumentos de Olavo no debate, considerando sua réplica brilhante.

Em 2013 publicou O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota. O livro é um apanhado de 193 artigos escritos por ele de 1997 até 2013, ano em que foi lançado, e vendeu algo próximo de 320 mil exemplares, recebendo elogios dos jornalistas Carlos Ramalhete, Euler de França Belém, Paulo Briguet e Reinaldo Azevedo, da Folha de S.Paulo e do Padre Paulo Ricardo.

Embora a obra de Carvalho tenha tido sucesso de audiência entre o público geral, não obteve grande repercussão na academia.

Em 2015, iniciou seu canal no YouTube intitulado com seu nome e atualmente (2019) com mais de 800 mil inscritos e pelo menos 43 milhões de visualizações (2019), seu canal no Youtube é categorizado como “Comédia”, no Facebook é acompanhado por mais de 600 mil seguidores (2019); nas redes sociais, os alvos de suas críticas são a imprensa, o cenário cultural e a universidade; atribui aos movimentos progressistas a deterioração desses espaços, que, segundo ele, teriam se tornado apenas campos de burocracia e rituais de doutrinação. Em 15 de agosto de 2018, suas páginas do Facebook foram bloqueadas por trinta dias, Olavo atribuiu o bloqueio a “piadinhas” que fez a dois ex-alunos de seus cursos de filosofia online, Carlos e Jorge Velasco.

Carvalho tornou-se um dos principais difusores das das ideias da direita no Brasil e ganhou grande repercussão depois da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, sendo um importe teórico de seu governo.

Visões

Olavo não avalia o mundo contemporâneo como uma realização do progresso, mas como um ocaso, expressão de uma crise da civilização que, segundo sua linha de pensamento, seria o adentrar na barbárie. Isso seria o resultado de um processo de fortalecimento da consciência coletiva, iniciado no Renascimento que atinge seu ápice na Revolução Francesa com a prevalência da “opinião pública”. Segundo Benjamin R. Teitelbaum, que chegou a entrevistar Olavo, esse pensamento é típico de um tradicionalismo que acredita “que a humanidade está ao fim de um longo ciclo de declínio e que vai ser concluído com destruição e renascimento”, em suas próprias palavras.

Olavo é crítico do que chama de “sacerdócio das trevas”, que engloba o kantianismo, o hegelianismo, o marxismo, o positivismo, o pragmatismo, o nietzscheanismo, a psicanálise, a filosofia analítica, o existencialismo, o desconstrucionismo, a teologia da libertação, o relativismo moral, cultural e ético, dentre outras correntes filosóficas e intelectuais. Segundo Carvalho, essas correntes transferem a responsabilidade de conhecer a verdade do indivíduo para o coletivo. Defende a teoria da conspiração conhecida como “marxismo cultural”.

Ele é um grande crítico do pensamento coletivo nacional por sua suposta despreocupação com o futuro. De acordo com seu pensamento, a cultura brasileira, orientada sobretudo para a autodefinição da especificidade, inclina-se a supervalorizar o popular, o antropológico e o documental acima do que chama de valores supratemporais.

Em um debate em 1998 Carvalho afirmou que os mesmos que defendem o relativismo moral também possuem forte indignação moral, e que apesar de sua desvalorização no campo intelectual, no campo emocional as pessoas estão fortemente apegadas à ideia de moral.

No seu livro Aristóteles em Nova Perspectiva, Olavo escreve que há embutida nas obras aristotélicas uma ideia central que passou despercebida por quase todos os seus leitores e estudiosos.

Carlos Heitor Cony elogiou as publicações de Carvalho sobre Otto Maria Carpeaux e Bruno Tolentino o classificou como “filósofo finíssimo, um erudito verdadeiro e um homem honestíssimo”.

Olavo afirma que suas ideias não se enquadram em uma categoria ideológica, condenando quem adota posições por automatismo sustentado por ideologias. Ele aponta que o coeficiente de esquerda ou de direita está nos olhos do observador e varia conforme as épocas e os lugares. Olavo diz que prefere se manter afastado dos enquadramentos ideológicos no Brasil, muito embora se veja alinhado à direita americana.

Para Carvalho esquerda política brasileira conseguiu dominar a universidade, a mídia, a cultura e a política do país, empregando os métodos da revolução passiva (a “revolução sem revolução”) de Antonio Gramsci.

Entre indivíduos já criticados por Olavo estão Lula, Fidel Castro, Barack Obama, entre outros. Poder-se-ia citar ainda entidades como o Foro de São Paulo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o eurasianismo, o Partido dos Trabalhadores, as FARC e a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. Critica bastante o desarmamento civil, e alega que as organizações desarmamentistas estão ligadas aos interesses de grupos milionários nacionais e estrangeiros.

Em um artigo jornalístico produzido em dezembro de 2010 para a revista Época, o autor sugeriu que Ladislav Bittman teria, na posição agente da StB, conduzido operações de bandeira falsa e desinformação, fazendo com que as agências de inteligência norte-americanas levassem a culpa pelo golpe de 1964 no âmbito das escolas e da mídia brasileira.

Em 1996, Carvalho “profetizava”, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, no telejornal da Globo Bom Dia Brasil, que apesar do então recente colapso socialista na URSS, a esquerda brasileira iria ascender ao poder com grande força, já que, de acordo com ele, “a partir da década de 1960, foram adotando a estratégia gramsciana, que é a de fazer a revolução cultural primeiro para fazer a revolução política depois”. Ainda acrescentou que “muitas vezes [os esquerdistas] têm poder, mas não assumem que têm, então continuam se sentindo perseguidos e infelizes”.

Em entrevista à BBC em dezembro de 2016, Olavo, quando perguntado sobre a direita brasileira, afirmou: “quis que uma direita existisse [no Brasil], o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê”. Para ele “atualmente é obrigatório estar na direita”, mas deixou claro que não tem “compromisso com nenhuma política em particular”.

Em abril de 2016, a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (Abia) condenou as declarações de Olavo de Carvalho sobre o episódio em que o deputado Jean Wyllys cuspiu no também deputado Jair Bolsonaro, durante votação do impeachment de Dilma. Nas redes sociais, Olavo afirmou que Jean, como “membro de um grupo de risco”, deveria se submeter a um exame para verificar “se sua saliva não transmite o vírus da Aids”. Em nota, a Abia recomendou que ele “seja imediatamente submetido a exames para verificar se sua saliva não transmite o vírus da ignorância e do preconceito” e lamentou as “doses vergonhosas de desinformação e desrespeito” de Olavo de Carvalho em relação às pessoas que vivem com HIV/AIDS no Brasil.

Brigas

Em virtude de críticas realizadas em seus artigos e talk show, Olavo foi acionado judicialmente em 2007 pelo professor aposentado de filosofia da Unicamp João Carlos Kfouri Quartim de Moraes. Em sentença de 28 de novembro de 2012 somente as empresas foram condenadas a indenizar Quartim por danos morais, constando ainda que Olavo deixou de fazer parte do processo, em virtude da desistência posterior do autor do prosseguimento da ação em relação a ele, por este residir em local incerto, fora do país.

Olavo acionou judicialmente em 2016 a Editora Abril devido a comentários feitos pelo jornalista Reinaldo Azevedo em blog mantido na página da Revista Veja, mas em primeira instância teve seu pedido de direito de resposta negado em duas ações. Uma terceira ação tramita na Vara Criminal de Barueri, por injúria, contra o próprio jornalista. Em 2019 foi condenado na justiça a pagar uma dívida milionária a Caetano Veloso, após dizer em rede social que ele seria pedófilo.

Em 2021, a 5.ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo determinou que a revista IstoÉ excluísse de seu site uma reportagem que mostra Olavo de Carvalho como um bobo da corte. A reportagem foi capa da edição de maio de 2019; nela, Carvalho aparecia com um chapéu de bobo da corte com a expressão “o imbecil”. Para o Tribunal, a matéria “acabou por, sem dúvida, encerrar ofensas à dignidade e à moral do demandante”, determinando ainda que a IstoÉ pagasse uma indenização de 40 mil reais a Carvalho.

O Mídia Sem Máscara (MSM) foi um website fundado por Olavo em 2002 com o objetivo de combater o “viés esquerdista da grande mídia brasileira”. O site se estrutura ao redor de um grupo de redatores e editores, majoritariamente brasileiros.

Em janeiro de 2018, o conselho editorial era formado por Olavo de Carvalho, Edson Camargo, Graça Salgueiro, Heitor de Paola, Percival Puggina, Nivaldo Cordeiro, Ipojuca Pontes e Carlos I. S. Azambuja, o editor executivo era Edson Camargo.

O Jardim das Aflições


O cineasta pernambucano Josias Teófilo, dirigiu um filme que aborda a vida doméstica, biografia e visão de mundo de Olavo de Carvalho, rodado na residência deste em Colonial Heights, EUA. O longa-metragem O Jardim das Aflições, título retirado de um de seus livros, contou com a produção de Matheus Bazzo e direção de fotografia de Daniel Aragão. O filme foi inteiramente realizado com recursos captados através de financiamento coletivo e lançou em 2017. Ao todo foram quase três mil doadores e arrecadação de 320 mil reais. No festival Cine PE, realizado de 27 de Junho a 3 de Julho de 2017, O Jardim das Aflições foi premiado em três categorias: melhor montagem, júri popular e melhor filme.

Vida pessoal


Segundo o próprio Carvalho, ele abandonou a escola na “4ª série do ginásio”, o equivalente à oitava série do ensino médio.

Olavo de Carvalho mora desde 2005 na área rural do Condado de Dinwiddie, ao sul de Richmond, no estado norte-americano de Virgínia. Segundo ele, um dos motivos para sua mudança do Brasil para os Estados Unidos foi a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República no Brasil.

Carvalho declarou em seu programa[qual?] que em dezembro de 2009 teria recebido do governo dos Estados Unidos o visto de residência após um tempo de espera de aproximadamente três anos, ao final do qual passou a residir naquele país. Olavo afirma que foi agraciado com um visto de “habilidades extraordinárias” (extraodinary ability, no original), concedido pelo governo americano a pessoas com talentos especiais. Segundo o site de notícias Catraca Livre, Carvalho não preenche os requisitos para esse tipo de visto, tampouco já provou alguma vez tê-lo recebido.

Desde que se mudou para os Estados Unidos, além da manutenção periódica de seu website com novos artigos e ensaios, Carvalho ministra cursos à distância e presenciais sobre História da Filosofia, bem como promove palestras e conferências. Estes cursos são para ele, uma forma encontrada para enfrentar o que define como a “morte da alta cultura brasileira”. Carvalho é também o presidente de uma organização não governamental (ONG) chamada “Inter-american Institute”.

Condecorações


1999 – Medalha do Pacificador
2000 – distinção honorífica da Ordem Nacional do Mérito da Romênia
2001 – Medalha do Mérito Santos-Dumont
2012 – Medalha Tiradentes
2019 – Ordem do Rio Branco, no grau de Grã-Cruz

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