Coluna da Caroline Rocha: O conto da sereia

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Certo dia, Eleonora cantava à beira de um rio, que era famoso por suas águas turvas e seus mistérios. Todos da pequena cidade contavam sobre as vozes que ouviam eclodir das rochas, quando ali se demoravam um pouco mais do que o necessário para banhar-se. Mas a grande sonhadora ignorava as histórias. Seus olhos fixavam o horizonte e sua mente viajava por todos os lugares que a imaginação é capaz de alcançar. O rio era uma mera paisagem para o seu devaneio, pois o fato era que ali, naquela pacata vizinhança, era o último lugar que queria estar.

De tanta distração, não percebeu o sono a cercá-la enquanto se deitava na beira das águas, apoiando a fronte em seu cotovelo e encostando os cílios para adentrar num universo paralelo, de sonhos e emancipação. No auge da sua ilusão, nadava de encontro a seres brilhantes, sedutores, que ecoavam a mais bela melodia já escutada. Explorar aquela imensidão azul, sibilando cânticos aquáticos com seus novos amigos, era tentador demais, e era bem ali que ela desejava ficar.

Dias depois, os jornais da região ainda não explicavam o sumiço da pobre jovem. Não havia nada que desse uma pista dos acontecimentos. O novo mexerico que circulava das bocas aos ouvidos mais atentos, davam conta de que ela havia ficado presa, para sempre, no maldito flume. Havia de ser verdade, afinal, qual outra explicação existiria? Só esqueceram de perguntar sobre o feito para a própria protagonista, que de tempos em tempos balançava sua calda enquanto cantarolava, livre, naquelas mesmas pedras que por todos eram amaldiçoadas.

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