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O desencadeamento econômico causado pelo home office por Marcelo Reis

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Quando pensamos em escritórios, centros comerciais e centros de cidade, uma das imagens que nos vem em mente é a de lojas, bares e restaurantes cheios, várias pessoas andando ou em filas, em transportes públicos lotados, em engarrafamentos ou disputando espaços para verem quem chega mais rápido nos seus destinos, especialmente nos horários de rush.

Por muitos séculos o horário diurno, de 8 às 17h, e presencial tem sido o padrão do mercado, com alguma flexibilidade nos últimos anos, especialmente com home office sendo instituído em algumas empresas e o conceito de “working from anywhere” (trabalhe de qualquer lugar) ganhando adeptos de maneira muito rápida, mesmo antes da pandemia.

Quando falamos destes locais de trabalho, imaginamos apenas os escritórios e por muitas vezes ignoramos o fato que existe a necessidade de um mínimo de serviços disponíveis ao redor, tais como limpeza, segurança, cartórios, salões de beleza, farmácias, papelarias, jornaleiros, restaurantes, muitas vezes médicos, autônomos e o mercado informal, além de tantos outros que vêm chegando e se instalando nessas áreas.

Já trabalhei e visitei diversos lugares que não tinham opções ao redor e posso garantir que o nível de satisfação dos funcionários, quando não existem estas opções, é baixo.

1. Março de 2020

Com a pandemia do Covid-19, de uma semana para a outra, milhares de funcionários de escritórios são transferidos para o home-office. Os centros empresariais se tornam verdadeiros locais fantasma. Aquele fluxo e economia pujante trava.

O grande problema de todos os serviços mencionados que são ligados aos locais comerciais é que eles não são projetados para visitas turísticas e eventuais, são fora dos bairros residenciais, de difícil acesso e complicados de se parar. Geralmente são pequenas empresas que têm o seu giro de caixa curto e que dependem de um fluxo constante de clientes. Logo, quando o fluxo trava, automaticamente os clientes somem e o dinheiro desaparece.

Estes pequenos empreendimentos garantem milhares de empregos que ficam automaticamente ameaçados quando não se tem clientes; e, de março para cá, vimos o impacto de um número interminável de estabelecimentos fechando.

Veja que a equação é maior do que apenas lojas baixando as portas, os transportes público e privado sem clientes também não se sustentam.

A cadeia de valor e de suprimentos sofreu um baque, pois além destes estabelecimentos que vemos nas ruas, existem também os fornecedores de fornecedores que também são indiretamente afetados.

O Agora

A imprensa tem noticiado um retorno gradual das pessoas aos escritórios, por outro lado, pesquisas apontam que a maioria dos funcionários não quer retornar mais àquela rotina obrigatória de se transladar todo dia útil de suas residências para os locais de trabalho, pois a qualidade de vida aumentou muito, com o tempo de deslocamento sendo substituído por mais tempo com a família, para a prática de exercícios e, em casos extremos, de mudança de residência para cidades ou bairros com custo mais baixo ou que apresentavam uma melhor qualidade de vida.

A tecnologia nos últimos meses se provou e foi possível ver que a maioria das empresas conseguiu sobreviver de maneira remota. O que se sente falta é do relacionamento mais próximo e da colaboração presencial.

E, pelo lado das empresas, também se viu uma potencial redução real de custos, pois a infraestrutura ainda é uma despesa alta.

Várias empresas publicamente já se manifestaram e disseram que este ano não retornarão mais aos escritórios; outras já se anteciparam e colocaram em definitivo seus times em home-office e outras resolveram inclusive mudar de cidade, reduzindo o espaço e deixando os funcionários com a escolha de onde trabalhar.

O movimento aos poucos retorna, mas muito aquém do que era antes.

E como ficam os serviços?

Creio que no curto prazo ainda veremos muitos estabelecimentos tradicionais fechando, pois além do fluxo ainda longe do que havia há alguns meses, o receio da contaminação pelo COVID-19 ainda faz com que as pessoas não se arrisquem.

O amanhã

Difícil fazer um exercício de futurologia, mas eu vejo 2 potenciais cenários:

A recuperação da cadeia num longo prazo:_

Vejo este cenário de maneira mais remota. Nele os escritórios voltam a ficar cheios de segunda a sexta, os serviços aos poucos vão ganhando tração novamente, a cadeia de valor vai se estruturando e, em alguns anos, voltaremos ao que estávamos acostumados antes.

2. Transformação

Neste cenário, o modelo de trabalho se transforma e vira 100% virtual ou híbrido, com pessoas dividindo seu tempo entre escritórios e home-office.
A tecnologia terá um papel fundamental nas interações profissionais e as pessoas ficarão livres para viverem longe mesmo do trabalho.

A área de serviços passará por uma grande transformação através de delivery, aumento da oferta de serviços digitais que antes eram necessariamente presenciais.

As cidades se espalharão e com elas os serviços precisarão se adequar para atender aos clientes em qualquer lugar.

O revés deste cenário é que grandes corporações passarão a competir com os negócios antes pequenos e familiares e estes últimos precisarão se adequar a terem vocação para encantar os clientes de maneira personalizada e pró-ativa.

Neste cenário, o número de oportunidades será imenso e quem souber e entender as mudanças se tornando um protagonista e não uma vítima do processo, tenderá a ter sucesso.

Enfim, só o tempo dirá para qual lado iremos, ou se uma potencial solução híbrida também aparecerá.

O que é certo é que no curto prazo os serviços ainda serão muito impactados e algumas adequações precisarão ser feitas para evitar o fechamento dos negócios.

Marcelo Reis é especialista em gestão empresarial e vendas

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