Opinião: Marielle e o medo que a gente tem de virar estatística

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Foto: Reprodução/Mídia Ninja

Quem vive no Rio de Janeiro mais especificamente na cidade do Rio sabe que ontem tivemos uma noite indigesta. Com muita chuva, sem luz em alguns bairros e com violentos assassinatos que entristeceram a cidade.

Estamos com medo. Em 2017 se registrou segundo o ISP, Instituto de Segurança Pública 6.731 homicídios. Número recorde desde 2009 no início das Upps.

A cidade ficou mais triste com o brutal assassinato da jovem vereadora Marielle Franco, do PSOL. Junto com ela, o motorista Anderson Gomes também morreu.

Assassinato não! Execução!

Marielle foi executada.

Por que foi? Precisamos dessas respostas mas parece não ser difícil supor.

Marielle denunciava o mau policial, criticava a intervenção federal a qual chamava de farsa e abria os olhos em relação as violações do estado aos direitos humanos.

Marielle representava um sopro de frescor da esquerda. Mais combativa e ética.

Na minha time line do Facebook vi diversas manifestações de carinho e homenagem a ela que sem dúvida, parecia um ser humano especial.

As desavenças, ideologias e discordâncias ficam para trás nesse momento.

Uma parlamentar foi morta. Uma pessoa. Mais uma pessoa nessa cidade onde a vida cada vez mais não tem valor.

É mais uma família que chora, é mais uma perda.

Vi hoje de manhã nas ruas do Centro da Cidade pessoas com o adesivo amarelo com o nome dela como uma forma de dizer que ela através de sua figura, suas palavras estão cada vez mais vivas.

Marielle era forte crítica aos governos Crivella, Pezão e Temer, também crítica a Intervenção Federal na Segurança Pública no Rio de Janeiro.

Já vemos nas redes sociais manifestações completamente fora de realidade como a do MBL e de outras pessoas que dizem que ela foi morta por aqueles que ela defendeu a acusando de defender bandido.

Mentira!

Já disse algumas vezes e repito novamente. Eu discordo demais da linha ideológica do PSOL e da esquerda mas discordo ainda mais do factoide de direita de dizerem que o PSOL defende bandido, mas isso é um texto para outro dia.

Marcelo Freixo combateu as milícias do Rio, todo mundo sabe.

Marielle atuava pelos direitos humanos, prática que deveria ser comum a todos: defender os direitos humanos, independente de ideologia.

Nas redes sociais acusações, guerras ideológicas.

A linha que a Polícia trabalha é a de execução. É muito claro que ela foi executada pelo tipo do crime que foi. E pela maneira que foi, não acredito sinceramente que tenha sido feito por bandidos, meros traficantezinhos.

Marielle neste domingo acusou e denunciou maus policiais em ação na favela de Acari, do 41° Batalhão.

Não quero acusar ninguém mas me lembra muito o caso Patrícia Acioly. Caso teve repercussão imensa na época onde uma juíza foi assassinada por policiais /milicianos que hoje estão presos.

A maneira como o crime foi, quantidade de tiros, tudo.

A polícia certamente irá trabalhar nessas bases, e os bandidos serão pegos.

Nesta mesma noite, um empresário foi assassinado após ter sido assaltado no Cachambi, Zona Norte do Rio.

Outro rapaz na Barra da Tijuca, também foi executado. A suspeita recai sobre Cristiano Girão, outro miliciano. .

Os crimes são obviamente diferentes em todas as suas circunstâncias.

Mas uma coisa me passa na cabeça:

Até quando as milícias vão continuar agindo e atuando a sombra da polícia e até quando vamos assistir isso impassíveis, sem que o governador e o interventor façam ou falem alguma coisa?

Até quando vamos andar com medo nas ruas?

Até quando vamos andar com medo de morrer, a cada passo que damos a noite?

Até quando vamos chorar a dor de entes perdidos no meio de tudo isso?

Até quando vamos viver diante disso?

Imagine pra uma mulher, pra uma pessoa negra, pra qualquer pessoa que se sinta ameaçada pelo clima de terror nesta cidade. Só sei que tenho medo.

Medo do que tem por vir.

Medo do que pode acontecer.

Independente de quem matou, eu não quero ser a próxima vítima. Eu não quero que um ente meu seja a próxima vítima, nem um amigo meu. Eu não quero que você seja a próxima vítima.

Sobre Marielle, mais uma voz da favela é calada no tiro, mas sua lembrança e seu legado estará na memória de todos aqueles que a acompanham desde sempre.

Marielle vive. Está viva!

Que merda de Rio de Janeiro estamos!

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