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A guerra vista de perto 

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Eu já pensava em escrever sobre isso desde ontem mas mais um intenso tiroteio preocupou e deixou em pânico moradores do Morro dos Macacos em Vila Isabel. Três bandidos,que eu até os conhecia pessoalmente morreram no conflito. Tá tudo errado. Começando pelo fato de ter tráfico ativo numa comunidade pacificada pelo estado em 2010 com a UPP. O que era um projeto bem sucedido virou uma sucessão de erros do governo Cabral e Pezão.

Como que há um baile funk de traficantes num lugar pacificado?  Como que em dois lados do Morro um na rua Petrocochino existem traficantes ali e as casas em volta estão todas as venda ja que ninguém quer que sua porta vire uma nova boca de fumo e no outro lado na rua Armando de Albuquerque  existe uma base da UPP com policiais armados ali. Como? Que permissividade é essa? Quanto custa esse arrego as vistas de um estado falido que não paga salário ao policial e que deixou uma grave catarse social.

Foto: Fabiano Lopes/Jornal EXTRA

A causa do tiroteio no Morro teria sido a realização de um baile funk não autorizado pela Polícia.  Vejamos. Como é que a Polícia vai checar denúncia de baile funk se nas outras semanas teve baile e não aconteceu nada? Impossível  a Polícia não saber. O que teria acontecido?

O medo foi grande. Fuzil, metralhadora, pistola. As crianças sabem o que é o tiroteio porque convivem desde cedo com uma realidade extremamente violenta e que gera vítimas.

Essa semana mais uma menina inocente foi vítima. Maria Eduarda de treze anos de idade foi vítima de quatro tiros disparados enquanto estava tendo aula de educação física na escola. ESCOLA.Issl na zona norte do Rio. Ainda não se sabe qual arma era. Ainda não se sabe ao certo se quem matou foi Polícia ou foram bandidos. Notícias falsas diziam que a perícia tinha apontado fuzil AK 47. Arma não usada pela Polícia brasileira, muito comum com os bandidos.

Independente de quem matou, isso é só mais um triste e cruel retrato de uma violência sistêmica que permite que discursos de que “bandido bom é bandido morto” e que “Polícia tem que morrer ” ganhem força.

Voltando aqui ao Morro dos Macacos, onde vivo desde criança, a UPP veio pro Morro em 2010 mas muitos moradores (minoria) ainda possuíam simpatia pelos traficantes, todos criados aqui principamente o chefe Scooby Doo por isso alguma revolta pela morte de traficantes em conflito armado. Ou eram amigos ou eram familiares. O enterro desses traficantes mobilizou várias pessoas na comunidade. O comércio foi fechado. Bandidos iam as casas das pessoas ordenando que se parasse de ouvir música em casa. A noite luzes apagadas, nenhum bar aberto. Sinal de luto? De respeito? Ou de medo?

Protesto na 28 de Setembro, principal via do bairro exigindo justiça a morte de traficantes que estavam em pleno conflito na hora em que foram mortos, ou seja. Não estavam em posição indefesa. Ou ele morria ou ele matava. Protesto que virou arrastão.E ordem de fechamento do comércio.

O homem quando vira bandido ele tem que ter a consciência de que vai entrar sabendo como vai sair. Ou preso ou morto. Que num conflito armado ele vai matar mas ele pode morrer. Muitos não sabem sequer o porque estão ali, pra que estão.  Defendendo  o quê?  Pelo dinheiro, pelo suposto poder? Mas que ao mesmo tempo não lhe permite ter uma vida de liberdade onde ele pode transitar livremente pela cidade ja que como um fora da lei, ele vai ser pego pela Polícia .  Liberdade que prende sem prisão.

O garoto que vira bandido na verdade é o reflexo de um todo que começa na sua formação e que tem reflexos na realidade em que vive e nas mazelas de uma sociedade. O livre-arbítrio que permite a alguns ser, permite a outros não ser escolhendo outros caminhos por isso não concordo e nem discordo do termo “vítima da sociedade” tão banalizado.

Os discursos extremistas são burros e calçados apenas no ódio e na vingança. A Polícia desde sempre sobe aos morros para combater o tráfico de drogas.

Aí paramos e pensamos na questão da droga. Quem abastece? Como a droga chega ao Brasil? Através muitas vezes da entrada ilegal nas fronteiras brasileiras. Armas, drogas entram livremente no Brasil. Quem lucra? A Polícia em dezenas de operações diárias apreende drogas e mais drogas e mais armas. Pra quê?  Enxugar gelo. A política de combate às drogas é errada. Trocar tiros pra enxugar gelo não resolve os problemas.

A política deve ser mudada. Nunca consumi na minha vida maconha ou qualquer outra droga considerada ilegal mas por outro lado muita gente usa. Rio de Janeiro, festas noturnas, zona sul.. A maconha rola solta ali.. vá a Lapa por exemplo, nas rodas de rap.. Tem como proibir o uso da maconha? Pensa bem você que defende que bandido bom é bandido morto. … Se tem como proibir a maconha. O discurso do Alexandre de Moraes dizendo que ia acabar com a maconha foi constrangedor.

A maconha faz menos mal que o cigarro e pode ser usada de forma medicinal. Ela deve ser regulada, ser legalizada porque liberada ela é e sempre foi. Casos como o da Cocaína devem ser estudados, mas o consumo não se dá na sua maioria nas favelas e sim na alta sociedade que por vezes revende e compra também .  A favela é um mecanismo pra esses de prazer da droga.

Em que isso reflete na guerra que estamos vivendo? Tudo. Porque através dessa insana guerra  às drogas se mata e se morre.

Se falou muito em excesso nos policiais que mataram dois bandidos do lado de fora da escola, que eles estavam caídos e sem chance de defesa. Outros dizem que ele iria reagir, outros dizem que mesmo caído e sem reação deveria morrer porque bandido bom é bandido morto .

Mas não . .  O Major Blaz em entrevista à Rede Globo apontou uma causa real. Que o tiroteio é guerra. Sim, é guerra. Vejamos o tiroteio de sábado. Infelizmente.  A guerra burra onde mata se sem saber o porquê. O erro dos policiais foi ter matado os caras já sem reação mas aquilo é a realidade. Acontece diariamente.  Pena de morte existe?

Certamente a maioria dos brasileiros é  a favor e temos programas de televisão que reforçam isso e tem casos que a gente quer mesmo que o bandido morra. Pensa num estuprador por exemplo. Mas não. A pena de morte não existe e até nos países que existe a pena há um critério.  Não se mata a esmo. Apesar que tem países que adotam o extermínio mesmo.

O policial só deve matar o bandido quando num conflito armado este apresentar se também atirando. O que no caso aconteceu na guerra no Morro dos Macacos. Aí tem quem discorde mas ali é guerra. Ou mata ou morre. Nessa guerra reflete se o fracasso contra as drogas e de uma falha do estado na educação.

As drogas são uma porta de entrada sim para as pessoas se afundarem. Conheço jovens que levam uma vida normal que ja usaram todos os tipos de drogas possíveis  mas leva a maioria a dependência. Isso é um problema que não é da Polícia e sim de saúde pública.

Educação. Os CIEPS foi o maior projeto de educação existente e o mais revolucionário.  A mídia julgou como caro mas tirou muitas pessoas do tráfico e fez dali um modelo a ser seguido e falado até hoje. De que a educação é o que muda tudo. Que as crianças que antes apenas voltadas ao mundo marginal possuem outras possibilidades. Os CIEPS de autoria do Professor Darcy Ribeiro e Leonel Brizola são referência de educação.  Mas foram esvaziados nos governos seguintes.  Passados ao município  hoje são escolas comuns. As escolas hoje são deixadas de lado, as políticas públicas foram jogadas ao léu pelas administrações públicas.  A UPP social fracassou. A iniciativa privada veio a favela, ofereceu empregos, deu cursos mas também saiu. Aqui o Centro Comunitário fechou e hoje é uma Igreja evangélica.

Projetos sociais ainda existem e  graças a eles muita gente vai pro esporte, pra uma profissão, quantos casos vemos aí.

É preciso encontrar alternativas, é preciso que a favela não seja só território de medo, de ódio. Custou tanto a passar uma imagem mais condizente com a nossa realidade de povo humilde, alegre e simples. De pessoas batalhadoras e humildes que são vítimas dessa guerra que não é nossa.

O policial que morre e o que mata também  é usado de forma safada pelo governo que não lhe dá  a mínima estrutura. Que ainda coloca a UPP em contêiner.  Que não tem carro pra circular,  que não recebe há meses. Nessa hora como ele vai recusar o arrego do tráfico?  O que fala mais alto? A honestidade ou a sobrevivência?  A Polícia erra. Erra muito mas pensar num fim de UPP é um suicídio e decretar que o Rio perdeu na segurança pública.

Aliás,  Cadê o secretário de segurança pública ?  Cadê o Desgovernador Pezão?

Uma nova UPP?? Punição severa para o Policial que agir fora da lei. Uma nova política para o tráfico de drogas para que o tráfico quebre de vez e a ocupação do espaço público pela Polícia seja menos repressiva com os anos. Projetos sociais, saúde, investimentos pesados em educação, saneamento básico.

Mas vemos um governo do Rio falido, atrelado em corrupção, vemos que nessa guerra que a gente perde alguns lucram. Empresários do setor de armas, quem permite que a droga e as armas entrem no país, políticos que levam drogas nas helicocas da vida e que sequer são investigados, pessoas que se beneficiam as custas do choro das outras.

Mortes e mais mortes. Esse sim é o fracasso da segurança pública. É ver a mãe chorando perdendo o filho. É preciso acabar isso. A guerra vista de perto dói. Dói muito mas é preciso encarar forças pra seguir.

É preciso sair da zona de conforto e parar de deixar o medo calar a nossa voz. E que a guerra acabe. Mas que não acabe conosco.

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Leonardo de Oliveira Brito é Jornalista. Participou de projetos como o CDD na Tela e da Agência Jovem de Notícias onde cobriu a Rio + 20, em 2012. Oficialmente começou sua carreira em 2013, no projeto Parceiros do RJ do RJTV na TV Globo. Em 2014 foi para o site SRZD onde cobriu os carnavais de 2015 e 2016 e depois, em 2018 e 2022. Também passou pelos sites Carnavalesco, Destino ATW e Na Tijuca e Eu Rio!, onde participou da criação do site. Criou o seu blog, em 2016 e em 2018 lançou o jornal online Gazeta do Rio. Hoje também é repórter do jornal A Tribuna, de Niterói.

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