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O que explica a derrota da Esquerda em 2016?

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​ARTIGO ESPECIAL DE RENAN PORTELA



É inegável que a esquerda tomou uma rasteira tremenda em 2016, e que a tendência nacional hoje é desenhada para uma solidificação das vertentes liberais e conservadoras. O mesmo  fenômeno é visto mundo afora, e intelectuais de esquerda se debruçam em textos e palestras sobre “a onda conservadora!” Isso é fácilmente observável com a polarização que toma conta dos debates políticos, e nos resultados vistos na prática.  

A esquerda brasileira sabe muito bem que o ano de 2016 foi para ela um ano tenebroso. O que por um lado parece estimular mais ainda a luta empenhada desses segmentos, que conseguem dessa maneira articular sua oposição contra um “inimigo” mais ameaçador na “luta de classes” e “justiça social”, mas por outro lado deve(ria) servir também para uma  autorreflexão, de maneira que a derrota possa de alguma maneira ser construtiva. 

Normalmente quando tentam fazer essa reflexão, vejo um ataque ao ponto errado, com o discurso no sentido de “perdemos, mas foi linda a nossa luta, seguiremos em frente”, e nunca tentando corrigir seus próprios erros e se atualizar. A culpa aliás é sempre do outro: do que não sabe votar, da mídia manipuladora, das elites que dominam a mente do povão, e tudo mais que puderem colocar. Isso não soa um pouco como um próprio atestado de incompetência no discurso? 

Tentarei fazer uma crítica construtiva em relação a esquerda, por mais que possa soar dura para os esquerdistas, e por mais que tentem me atingir com os mesmos meios que vou criticar. Buscarei assim entender os motivos que levaram essa esquerda a perder terreno e credibilidade, não só por minha visão pessoal, mas tentando captar a percepção da massa de brasileiros que se afastou do interesse de alimenta-la.

O primeiro e o principal baque para a esquerda brasileira no ano foi o Impeachment da presidente Dilma Rousseff, que levou uma multidão jamais vista para as ruas do país pedindo a cabeça do PT e gritando que a bandeira do Brasil não era vermelha. 
A multidão (que era sim) de todas as classes, mas que refletia (sim) o pensamento da classe média que a professora e filosofa esquerdista (de classe média bem alta, embora filosoficamente ela possa discordar) Marilena Chaui ofendia e dizia odiar, arrancando boas risadas simpáticas do ex presidente Lula no palco. 
“É porque eu odeio a classe média. A classe média é um atraso de vida. A classe média é a estupidez. É o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista… A classe média é uma abominação política, porque ela é fascista. Ela é uma abominação ética porque ela é violenta. Ela é uma abominação cognitiva porque ela é ignorante…”

O mesmo Lula que ironicamente se gabava de levar o brasileiro pobre para a classe média, mesmo que para isso tivesse que mudar os parâmetros do que era considerado classe média no Brasil (procure, vale a pena rir do que passou a ser considerado classe média no país). O mesmo homem que falava que “mentia mesmo, falava números que não existiam” para ganhar aplausos de estrangeiros quando falava sobre o Brasil.

Isso sem falar dos maiores escândalos de corrupção da história da república brasileira, e principalmente da cara lavada ao dizer que de nada sabe ou sabia, coisa que só engana (se engana) o militante mais fervoroso, ou quem ainda consegue nutrir certo senso de negação motivada pela esperança. Tudo isso e mais, vindo de um partido e de uma figura que foram eleitos como os salvadores da pátria, os que acabariam com a corrupção do país em prol da classe trabalhadora tão sofrida. 

Muitos exaltam as boas coisas que o PT fez enquanto governou o país, muitos reagem apontando como alguns passos dados (ou não dados) pelo PT foram fundadores da lama e da crise que vivemos hoje, num debate sem fim. 

Mas a definição mais honesta que se pode fazer do PT é de que ele cuspiu e defecou no prato onde comeu, teve tempo de sobra no governo para guiar reformas que não fez, e ao meu ver institucionalizou a corrupção, e tornaram-a o seu modelo de governo. Jogaram com a esperança e o medo, venderam a esperança e lucraram o ódio. Lula, a alma mais honesta do país segundo o próprio! 

Com o andamento do impeachment de Dilma, o brasileiro que era favorável era chamado de golpista, de manipulado e afins pelos paladinos da moral esquerdista. A esquerda apontou o dedo para a multidão que saia as ruas para dizer que aquilo era um golpe contra a democracia, já que Dilma foi eleita com 54 milhões de votos. Era golpe, machismo, rico que não gostava de ver pobre no avião, tudo, menos o governo petista. Mesmo as camadas da esquerda que nutriam inúmeras críticas ao PT, se levantaram para defende-lo, afinal nada poderia ser pior do que perder o aporte para esquerda e sua sustentação no executivo. 

Nunca pararam para perceber de fato o quanto o povão (e aqui não estou falando povão no sentido de pobre em si, mas aquele sem bandeiras e que no final é o que rende votos e opinião pública) considerava até cômica a repetição de “golpe” para tudo que é lado. No meio desse cenário, Dilma e o PT atacavam ao invés de ouvir, e jamais admitiam que erraram e que precisavam rever seus planos para o país, porque eles tinham a razão. Como explicar para o povão que sentia na pele as consequências econômicas, que a queda de uma presidente com a menor taxa de aprovação da história, e com pesquisas que indicavam 65% de apoio ao impeachment era uma ação antidemocrática, e não a vontade do povo? 

E aqui nem preciso entrar no mérito das acusações, as pedaladas fiscais e os decretos, porque estou falando da recepção popular. A esquerda realmente achou que dizer que “não houve crime” nessas acusações era o suficiente para o povão julgar que Dilma era honesta, ou ótima presidente? Que não mentiu para se eleger? Que merecia continuar com seu mandato? Para mim os crimes existiram (e por isso fui a favor), e a queda da presidente foi justa, mas tenho certeza que a maioria desse povão sequer saberia explicar de fato quais eram as acusações, porque não se importavam com quais fossem, vocês conseguem entender? 

Esse povão só não queria mais esse governo, e se eram a maioria, como dizer que não tinham o direito de querer isso? Somente porque elegemos presidentes para mandatos de quatro anos? E a esquerda, nunca pediu o afastamento de um presidente eleito? O povão, de maneira legitima, só queria a mudança, e era ofendido por quem não queria, e isso será decisivo no andamento da história!  

Você com certeza já leu alguém de esquerda (ou você mesmo já fez isso) analisar a queda do PT, ou as criticas populares contra o partido como “esse anti petismo cego e burro” né? Pois é. O povão que julgava ter seus motivos, era chamado de burro e manipulável pela mídia, como vocês esperavam que não fossem reagir? 

Acham mesmo, por exemplo, que movimentos sociais invadirem propriedades ou queimarem pneus na estrada ia fazer com que o povo mudasse de opinião e deixasse de dar aporte para o legislativo derrubar o governo? Ou que sindicatos, UNE e afins ainda possuem alguma credibilidade com a maioria da galera na fila do pão e seus discursos mudariam o cenário? Pelo contrário, só piorou a situação de vocês, podem acreditar! O PT comprou briga com o povo, e a esquerda só não se da conta disso se não quiser, e a única utilidade prática da narrativa do golpe foi mobilizar a própria militância e os partidos de esquerda, fogo amigo.  

Então surgiu a falsa dicotomia Dilma x Temer. Para a esquerda, se  você foi a favor da queda de Dilma você deve amar Eduardo Cunha, Temer, Aécio, e qualquer politico que se voltou contra o PT. Igual naquele discurso manjado que faz a galera revirar os olhos mas vocês insistem em fazer, o famoso “mas nos tempos do FHC”! 
E qualquer um que admire o trabalho da operação lava jato e aplauda qualquer prisão que a operação faça, ou tenha grande admiração pelo juiz Moro é seletivo. Para quem apoia a lava jato, seletivos são os esquerdistas, que protegem os bandidos da causa. Entenderam como não quebram essa rocha? Entenderam que o povão não saiu as ruas contra a prisão do Cunha mas vocês se mobilizaram para defender Lula? É a mesma coisa que dizer defender as mulheres mas minimizar o ator de esquerda que cuspiu na cara de uma. Acham mesmo que o povão não percebe e engole isso? Não é possível tanta ingenuidade, sério! Comentarei outros casos semelhantes mais pra frente.

Mas ai qualquer crítica vinda hoje de quem apoiou o “golpe” ao governo Temer, soa para a esquerda como um “ai, ta vendo? Se arrependeu né? Eu sabia, eu sabia!” 
Me parece a história de uma mulher que quis terminar com o marido porque ele passou a chegar em casa rotineiramente bêbado e agressivo. Então depois de um ano separada ela reclama para uma uma amiga (da onça) que esta se sentindo sozinha, ou reclama de algum namoradinho que tenha arrumado nesse tempo, e a tal amiga diz “ai, ta vendo? Podia ter continuado com o Agnaldo. Ele fazia merda, mas também fazia coisas boas e ajudava as crianças na escola!”

Vieram as eleições municipais de 2016 e a lavada foi ainda maior do que se podia imaginar. O PT regrediu para o mesmo número de eleitores que tinha em 1989 (ano que nasci) e primeiro ano que o DATAFOLHA fez esse levantamento. Seu projeto foi praticamente dizimado, e o partido agora bate cabeça em conflitos internos para tentar responder como se salvar. Algumas outras frentes da esquerda até conseguiram angariar, de maneira positiva para elas, boa parte desse eleitorado, mas a verdade é que para a esquerda foi uma tragédia, e pros liberais e também para os conservadores, foi pura festa. Para a esquerda “esse povo ficou maluco”!

A esquerda tomou um golpe nas urnas. E olha que nem adiantou os candidatos do PT esconderem a estrela do partido, mudar as cores, e tudo o mais que podiam fazer para “enganar” o eleitor e tentar se afastar da imagem negativa do partido, chamando o povo de burro outra vez. Lula não conseguiu eleger sequer o próprio filho, e o PT também perdeu no ABC paulista, o grande “cinturão vermelho” petista. 

No número de prefeituras, o Partido dos Trabalhadores sofreu uma queda de 59% em relação as ultimas eleições, passando de 630 para 256. Viu o PSDB, seu maior rival, crescer de maneira que nem o tucano mais otimista poderia imaginar, além de ter se tornado o partido com a maior quantidade de prefeitos eleitos nas capitais e com maior eleitorado, e conseguir eleger em primeiro turno um empresário rico e com discurso privatista na maior cidade do país.

É pouco? O PMDB, partido do “presidente ilegítimo Michel Temer”, permaneceu sendo o maior partido em número de prefeituras, e ainda conseguiu crescer um pouquinho. Como se isso não bastasse para que Temer pudesse sorrir de orelha a orelha, o presidente ainda viu praticamente todas as capitais do país elegerem prefeitos de partidos da sua base de apoio. Se foi golpe é preciso parabeniza-los, porque foi um golpe praticamente perfeito!
Todo mundo contra a esquerda injustiçada! Mas todos esses dados só deixam claro para qualquer esquerdista poder constatar, que o discurso do golpe não colou, e se duvidar, até prejudicou no fim das contas. O discurso do golpe só foi útil para que vocês mesmos pudessem ter alguma ancora de apoio para continuar acreditando que estavam lutando por justiça. 

Freixo (PSOL) e Haddad (PT) curiosamente tiveram mais eleitores nas camadas mais ricas. O eleitor classe média alta que origina memes com o apelido de “socialista de Iphone”. E nem preciso discutir se socialista pode ou não ter Iphone. Não é curioso como o discurso de justiça social contra os ricos consegue apoiadores justamente dessa galera? Não quero generalizar, afinal a esquerda pode dizer que esses não são de fato os mais ricos, mas não são porque votaram na esquerda não é? O fato é que o eleitor das áreas mais pobres, aqueles que vocês não cansam de jurar defender em sua missão divina, preferiu Dória e Crivella!
Tenho uma teoria (que provavelmente não é minha porque muitos já devem ter pensando e falado nessa linha) que tenta explicar isso: 
Quem é da esquerda “praticante” sabe, que inclusive alguns ilustres comunistas já dedicaram bom tempo em suas obras para tentar responder qual seria o motivo do proletariado não comprar a revolução. As narrativas nunca fazem uma real autocritica ao discurso e sua eficiência de ação, sempre caem no clichê de “escravos que não sabem que são escravizados”, ou em ideias de revolução cultural que seria necessária para “ajudar” esse povo a se identificar mais com a causa, e que acabam por ser tão utilitários quanto o próprio discurso. A esquerda não sabe mais (se é que já soube) dialogar com esse povão. 
O que acredito é que o discurso da esquerda, por incrível que pareça, possui o seu acesso muito mais facilitado na classe média, principalmente nos jovens que buscam um ideal ou sentido na vida. Isso vai desde a literatura até os corredores e salas de universidades. E o discurso cola nessas pessoas por um motivo puramente emocional, algo como uma boia para não se afogar diante da culpa de ter mais que os outros. Assim a esquerda de classe média alivia sua culpa, que já vem embutida nos discursos da esquerda como já vimos no inicio desse texto, quando se sente lutando por uma causa, um ideal de justiça social. Não importa muito a eficácia da causa, os métodos, quem ou o que estão de fato defendendo, o que importa é se sentir numa luta do bem contra o mal, é ter o coração jovial pulsando de alegria por achar que pode mudar o mundo, é se sentir incluído numa verdade e numa equipe que fará a diferença para todos que não estão com eles. É uma especie de liga da justiça! 

O pobre? O pobre provavelmente está cagando pra isso tudo. As problematizações, o politicamente correto e as filosofias da esquerda são mesmo para a classe média que tem tempo. A verdade é que intelectual se perde em papo de boteco! O pobre trabalhador tem o direito de gostar e se interessar muito mais em discutir se o Marcelo Cirino deveria ser titular do Flamengo tomando uma Itaipava no fim de semana do que debater a luta de classes.

Como os coletivos e a noção de pertencimento ao grupo também são facilmente vendáveis a esse jovem veremos mais pra frente. 
Haddad, que a elite da esquerda jurava ter sido o melhor prefeito que São-Paulo já viu (talvez por ser simpático e andar de bike), perdeu para um empresário privatista e novato na politica como candidato, que aliás (de certo modo) negava a politica e se vendia como gestor. E perdeu de maneira histórica! Se vocês repararem bem, a grande maioria dos prefeitos eleitos nas capitais venceram falando em “enxugar a máquina pública”.

No Rio, o PSOL conseguiu ser preterido  por um bispo licenciado da igreja universal (fato que a esquerda atacou como fator determinante), numa eleição com recorde de abstenções, o que eleva ainda mais a quantidade de pessoas que não se sentiram representadas por Freixo, que a esquerda jura que é a personificação de Deus na nova politica. Mesmo com todos os ataques ao Crivella, inclusive da mídia ligada a Rede Globo que pareceu entender que era melhor ter o Freixo como prefeito para bater do que o sobrinho do dono da Rede Record, com direito a capa da Veja com Crivella preso, vocês conseguiram perder! Repito: vocês CONSEGUIRAM perder! É duro né? Crivella em debate com Freixo na globo respondia dizendo “não tem efeito eleitoral, continua a mesma coisa depois de três meses de ataques”, e estava certo. 

Os discursos que vejo são sempre criticando o povo que escolheu não escolher a esquerda ao exercer seu direito democrático de cidadania. Falta muita autocritica. Será que vocês não param UM segundo sequer para pensar “será que não estamos de fato errando”? Será que é tão dificil assim abandonar um pouco a imagem de paladinos da verdade e da justiça? Ou de detentores da verdade que todos deveriam querer? E se as pessoas não querem mesmo vocês? Já pararam para pensar nisso? Vocês chamaram as pessoas de golpistas, fascistas, racistas. Se tornaram repugnantes para o grande eleitorado, e não se deram conta de como a tática de vocês foi absolutamente um  tiro no pé. 

Enquanto Jandira (PC do B) gritava contra o golpe em debates na TV pela prefeitura do Rio, em São-Paulo Dória respondia os ataques de Erundina (PSOL) porque era rico e outras coisas secundárias com a maior elegância e educação, começando suas falas dizendo que pensava diferente da candidata mas que a admirava como pessoa e respeitava a sua trajetória. Pequenas coisas que só vocês não enxergam como fazem diferença, porque talvez elegância e educação sejam atributos muito burgueses né?
Vocês rotulam e ofendem todos que não concordam com vocês, é óbvio que sofreriam reações, inclusive nas urnas, e é claro que também seriam ofendidos. Mas para vocês, vocês são sempre as vitimas! Será que não existe verdade alguma nas pessoas que os criticam? Vocês são tão moralistas que julgam a discordância como ignorância ou vinda de pessoas ruins. Vocês fazem ideia de quantos amigos e conhecidos meus sentem MEDO de discordar publicamente das pautas de vocês? Porque consideram vocês radicais demais e pessoas que não sabem ouvir sem apontar as foices e martelos? Provavelmente essas pessoas que sentem medo de se levantar contra vocês é que seriam chamadas de fascistas, não é irônico? Jura que vocês não conseguem enxergar isso? Logo a geração paz e amor? 

Se tornou popular brincar com o “ista” de vocês, vocês sabiam? O famoso “racista, machista, fascista, dentista, frentista, manobrista…”!  Se tornou zombaria, motivos de risada, as problematizações sem limites que vocês sempre fazem para chorar como o mundo é injusto e repleto de vilões. Para vocês nunca existem exageros, e qualquer um que chame de “mimimi” considerando seus dramas uma rebeldia sem causa é um monstro ou um burro sem empatia. O que as pessoas não querem é que o discurso vitimista seja a maior norma da geração, querem que vocês sejam fortes e parem de agir feito crianças mimadas da época onde Merthiolate não arde, o estado inventa a “lei da palmada”, e criança faz escândalo com os pais ditando o que quer comer e a que horas vai dormir.
Será que vocês não perceberam isso e ainda acham que “lacraram” alguma coisa? O engraçado é que quanto mais vocês possuem certeza de que os movimentos de vocês crescem, mais a oposição a eles se fortalece também, só que em dobro. 

Por exemplo: Quanto mais vocês falam mais eu acho importante que a possível filha que eu tiver um dia assistir as princesas da Disney, que possa fantasiar e romantizar aquelas belas histórias ao invés de ler Simone de Beauvoir. Ah, mas deve ser porque eu sou homem e quero criar minha filha pra ser submissa ao macho que arrumar e assim fortalecer o patriarcado né? Como eu não tinha pensado nisso! 

Todos que discordam de vocês são a escória, como poderiam esperar afeto dessas pessoas? Vocês se julgam tão donos da verdade moral que se apoderaram, numa espécie de monopolização, de todos os grupos sociais que vocês julgam que devem proteger. O negro, o nordestino, a mulher, o pobre, os gordos, os gays…todos são propriedades dos movimentos que julgam representá-los, porque o discurso do oprimido rende e funciona quase como uma terapia coletiva. Caso uma pessoa não se encaixe ou discorde das pautas dos movimentos, ou do próprio movimento em si, essa pessoa certamente “precisa estudar mais” ou não é uma pessoa com legitimidade para falar. A mulher por exemplo que critica o feminismo não é um ser capaz e de pensamento próprio, ela é simplesmente uma coitada alienada que “reproduz machismo”, que “dá biscoitinho pra macho”, porque pra ser mulher precisa adquirir o combo. Mas não tem problema que essas pessoas “não entendam” a causa, afinal vocês são tão nobres que mesmo assim ainda estão lutando por elas. Todos devem ser gratos! 

Fernando Holiday é um falso negro porque é um liberal do MBL, é contra cotas raciais e outras pautas do movimento negro, e não permite que o movimento fale por ele como negro. Ou os negros compram o movimento ou que se danem esses negros, serão classificados como “capitães do mato”! Vocês justificam o ódio pela causa, e depois não querem que isso se volte contra vocês?
Essa semana por exemplo vi mais de uma vez de pessoas diferentes nas redes sociais, o que me faz pensar que isso já se popularizou de alguma forma e eu que não sabia, a frase “Stalin matou pouco”. Vocês piraram? Enlouqueceram? 

Um bom exemplo de como a militância da esquerda engana a própria esquerda e na verdade só prejudica o diálogo e os objetivos é o próprio feminismo. A tal “onda conservadora” está ai para provar isso. Toda feminista hoje deve se sentir muito orgulhosa da “primavera feminista”. A nova onda feminista chegou com tudo, dominou universidades e redes sociais, a mídia, e se consolidou como um dos principais traços da década não é? É inegável! A palavra da década é “emponderamento”! 

Esse aumento de volume do movimento feminista em questão de representatividade, creio eu, começou a subir um pouco em meados de 2010, e se popularizou e ganhou ainda mais força após as manifestações de 2013, certo? Hoje em dia o feminismo é presente como pouco já se viu. Talvez até uma mulher de 20 anos um pouco desavisada pudesse pensar que é um movimento super recente, porque não ouvia a respeito disso quando tinha 10 anos de idade. 

Pois bem, talvez a principal pauta, ou uma delas, do movimento feminista no Brasil seja a legalização do aborto. Penso que nunca o ativismo e o discurso feminista estiveram tão presentes, da mesma forma que penso que poucas vezes vi na minha vida a legalização do aborto tão distante de se tornar realidade no país. Por que? Porque vocês criam, alimentam e fortalecem o inimigo de vocês mesmas quando adquirem a certeza absoluta de estarem certas. Eu posso estar SUPER enganado, não sou o dono da verdade, mas creio que essa seja a dura realidade que quero mostrar para vocês: Talvez nem nos próximos 20 anos eu assista um debate sério no país com a real possibilidade de se legalizar o aborto. 
Vocês acham mesmo que com os clichês utilizados e rechaçando ao invés de dialogar com pessoas que se opõem ao aborto é que vocês conseguirão apoio? Acha mesmo que dizendo “o corpo é da mulher e ela tem o direito de decidir” vocês vão convencer alguém que é contra e pensa que o feto também é um corpo vivo que será sacrificado pelo “direito de decidir” dessa mulher? Acham mesmo que mostrar estatísticas de quantas mulheres morrem fazendo abortos clandestinos não vai fazer quem é contra pensar “ué, morreu matando o filho, bem feito”? Vocês acham mesmo que isso cola para conseguir aliados ou não se importam se conseguem esses aliados? Porque não é possível! 

Ou essas pessoas são contra o aborto simplesmente porque são dominadas e alienadas pelo patriarcado malvado e são dignas de pena? 
O debate sobre o aborto é o debate de quando se começa de fato a vida humana. Enquanto esse debate não for de fato aprofundado, e considerar e entender as diferenças de todos, o lado A continuará gritando para o lado A, e o lado B continuará gritando para o lado B. A missão de quem quer a legalização do aborto é complicada num país religioso como o Brasil, e não será resolvida com campanhas na internet ou na marcha das vadias, e sem incluir e ouvir todas as camadas da sociedade. Justamente pelo estado ser laico que eu posso ser ateu, e que os religiosos podem se assim pensarem, se posicionar contra o aborto porque para eles a vida começa com a alma dada no por Deus na fecundação, que seja. Ai a esquerda vai dizer que a religião não pode interferir no estado, e de fato não pode, mas o religioso sim, e ele como cidadão tem o direito legal de livremente defender ou se opor a pautas do estado democrático onde vive, inclusive se for eleito pra isso. E ai, vão fazer como? Proibir agora que pessoas discutam leis se forem religiosas ou buscar debater de um modo onde todos os lados consigam entender o quão complexo é esse conflito e assim dialogar? Quando isso não acontece, para os que são contra o aborto a esquerda abortista é “assassina de bebês” (inclusive bebês mulheres), e para quem é a favor os que são contra atacam os direitos das mulheres de legislar sobre o próprio corpo, machistas! É o ciclo sem fim que nos guiará… 

A mesma coisa pode ser vista em outros exemplos como o estupro. Como vocês querem que o povão compre a ideia de que num país onde a maioria da população é favorável a pena de morte para estupradores (inclusive menores) ou penas mais duras, e que a população caça para espancar até a morte se souberem que tem um estuprador no bairro, e que até na cadeia estuprador é mal visto, o que impera é uma “cultura do estupro” e não da impunidade? Como querem que entendam que todo homem é um potencial vilão sem que isso soe como o mais puro sexismo que vocês dizem combater? Aliás eu gostaria de avisar que “femismo” só para vocês não é um conceito inventado para tirar do próprio feminismo qualquer carga negativa. Como vocês acham que o povão não vai considerar o discurso de vocês completamente contraditório quando dizem lutar contra os estupros mas se levantam contra penas drásticas para estupradores? 

E não adianta, teorias sociais de prevenção de estupros no médio e longo prazo podem até ser levadas a sério, mas somente se unidas a ideia de que o estuprador tem que se f**** no presente porque cometeu um crime irreparável, ou vocês ainda terão menos adeptos porque carregarão o rótulo de defender e querer ofertar novas oportunidades para criminosos desse tipo! Para esse povão, são vocês que se opõem a de fato combater o estuprador, entenderam? Esse povo ri quando vocês dizem que vão acabar com o estupro (ou diminui-lo) com educação e politicas sociais, porque o estuprador meus queridos, está estuprado mulheres AGORA, e também existem estupradores letrados e nascidos em berço de ouro. Todo estuprador sabe que é errado estuprar alguém, apenas não sente o medo que deveria sentir de ser punido, porque são vocês para esse povão que facilitam a confiança dele em cometer o ato e sair ileso. 

Nunca em toda a história alguém mudou de ideia e deixou de cometer um estupro porque leu que “mulher nenhuma merece se estuprada”, disso eu tenho certeza!
Aliás, também é importante dizer que inventar histórias de estupro para chamar a atenção para a causa ou em beneficio próprio não ajuda muito, afeta a credibilidade das denuncias, além de ser um tapa na cara das verdadeiras vitimas. Sim, eu sei que algumas vitimas de estupro reais são desacreditadas, e também acho isso péssimo, mas quando uma denuncia falsa é descoberta, mais prejudicada está uma vitima de fato! Banalizar o estupro também não é algo muito recomendável, afinal se tudo for estupro, nada é estupro, conseguem entender?

O feminismo é outro exemplo de como “o inimigo é outro”, assim como a esquerda no geral. Mulheres são privadas da culpa e da responsabilidade de qualquer coisa não positiva que aconteça em suas vidas, a culpa é sempre dos outros, de preferência dos homens e do patriarcado opressor de mulheres. Se uma mulher não pensa a mulher pelo viés do movimento feminista, ela está errada, e o corporativismo e as falsas dicotomias reinam, como se só existissem dois caminhos possíveis! Se você é contra o movimento feminista, e até pensa que pode ser prejudicial para as próprias mulheres em algum sentido, você é contra mulheres e machista. Camille Paglia ousar falar contra o feminismo? Só pode ser uma megera burra que luta contra a própria classe! Se você é contra o movimento negro você é contra os negros e racistas. Se você é contra os movimentos gays você é contra os gays e homofóbico. Se você é contra a esquerda você é elite ou burro. E por ai vai! Mesmo que nesses casos você mesmo seja negro, pobre e gay. Em caso de duvida, é só mandar estudar mais, porque vocês possuem a arrogância de achar que uma pessoa não pode conhecer e ter estudado o que pensam, e mesmo assim não comprar a ideia. É muito semelhante ao “você não acredita nessa crença porque precisa ler o livro sagrado”!
Quer ver outro exemplo? A esquerda quase sempre não consegue entender que seja possível não ser de esquerda justamente por querer maior justiça social, e apenas enxergar outros caminhos para isso, julgando-os mais eficientes que toda a esquerda junta. Se você é contra a esquerda, você só pode querer que os pobres se danem, afinal a esquerda é dona desse monopólio, como falei anteriormente. Pobre de direita, liberal, que defende o capitalismo? Só pode ser burro e ainda não entendeu as maravilhas da esquerda! Se você rechaça e não acredita no comunismo, no socialismo, acha Marx um lunático, você com certeza é um malvado da elitista que precisa ser combatido porque quer que pobre seja um serviçal na miséria. Diminuir o tamanho do estado? privatizar coisas? Você não enxerga como o estado é maravilhoso e eficiente, aproveita bem os nossos impostos! Você só quer favorecer as grandes corporações e os donos do capital! E claro, para provar que é contra o mercado eu estou vendendo uma camisetas contra ele aqui! Sexo anal contra o capital! 

Eu acredito que riqueza só é distribuída quando é criada e circula, e não é o estado que a cria, e sim as pessoas com sua livre iniciativa, e que essa é a melhor forma de favorecer o crescimento econômico e a qualidade de vida de TODAS as pessoas, a melhor maneira de se distribuir renda. Acredito que o estado deva se limitar para buscar atender com eficiência os setores que deve atuar, prestando serviços de qualidade justamente para os que mais precisam recorrer a esses serviços. Saúde, segurança, educação, e bem pouco mais. Deixa a concorrência atuar, deixa o mercado competir e criar. 

Desejo o fim da burocracia no mercado, liberdade para produzir, uma sociedade livre para empreender, trocar valores, lucrar, e gerar emprego e renda. Não quero um estado legislando como pai do povo, decidindo até se o restaurante que vou pode ou não pode ter saleiros nas mesas. Acredito sim que em certa medida o estado pode socorrer pessoas que estejam a margem, mas não para simplesmente tutela-las, e sim para capacita-las para que não dependam mais dele para sobreviver. 

Acredito na liberdade individual, e acredito que igualdade e liberdade não combinam, e quanto mais você tenta estabelecer um padrão de igualdade entre pessoas completamente diferentes, com capacidades e ideias diferentes, mais você necessariamente terá que limitar a liberdade de alguém. Entre a liberdade e a igualdade, eu fico com a liberdade! Para mim, a economia não é um jogo de soma zero, não é necessário alguém ser pobre para alguém ser rico, e essa é para mim uma das maiores falácias da esquerda, porque riqueza se cria (como eu já disse) . Assim como a teoria da mais valia, porque o valor das coisas é subjetivo. Não me importa uma desigualdade em que o mega empresário lucre 50 milhões de reais, mas gere emprego e renda pagando um bom salário para seus funcionários pelo lucro e a produção que proporcionam, inclusive com esse funcionário não custando tanto em impostos para que o estado sustente seu tamanho. Para mim, apenas o lucro motiva uma produção eficiente em larga escala, maiores opções de conforto e qualidade de vida, e demonizar o lucro me soa surreal. Desigualdade não é necessariamente sinônimo de baixa qualidade de vida pra sociedade, até porque todos podem ser iguais na miséria. E propriedade privada é sagrada! 

Você esquerdista, que discorda desse meu modo de pensar, e que até pode me julgar burro por pensar assim, pelo menos entende que se você quer proporcionar uma vida melhor para as pessoas eu também quero? Você consegue entender que da mesma forma que você pode considerar o meu pensamento uma furada eu também posso julgar o seu da mesma forma e que nem por isso temos objetivos finais tão diferentes? Você entende que não podemos conversar o que você acha melhor e o que eu acho melhor se você sair me xingando e me julgando uma pessoa ruim para os pobres e os trabalhadores porque não penso o que seria um modelo melhor para eles como você pensa? Vocês não percebem o quanto agem como fanáticos religiosos que julgam imorais quem não segue as suas crenças? Vocês entendem que eu quero é mesmo que os mais pobres possam andar de avião por terem poder de compra e isso ser benéfico tanto para a companhia quanto para as pessoas que trabalham para ela e consequentemente para todos? Pois bem! Para mim, quanto mais se alimenta o estado, mais é o estado que se configura de fato como uma elite opressora! 

Essas questões dos limites do estado na vida privada, em sua interferência nas liberdades individuais, é outra coisa bem curiosa. Como meu pensamento nesse sentido (como ficou claro) é bem liberal, as vezes preciso me deparar com umas seletividades curiosas. Se eu fizer um discurso defendendo a legalização da maconha por exemplo, dizendo que o estado não tem moral pra proibir alguém de comercializar e consumir a erva, e que aliás sua proibição é burra, eu provavelmente conseguiria uns aplausos da esquerda, e seria chamado de esquerdista e maconheiro (necessariamente) pela maioria dos conservadores. Mas se eu fizer um discurso dizendo que o estado não tem moral para proibir que cidadãos possam comercializar e ter o direito de posse e porte de armas de fogo, e aliás que sua proibição é burra, eu provavelmente ganharia uns aplausos da direita, e seria chamado de conservador (e talvez de fascista) pelos esquerdistas. Seu lugar depende do quanto e de quem discorda de você em determinado assunto. Quanto mais livre e diversificada é a sua visão de mundo, mais desagrado você causará as pessoas de grupos fechados de ideias coletivas. Esse é o valor do individuo para mim, e o exemplo mais claro de quanto os coletivos amputam o pensamento individual.  

Observo o mesmo fenômeno de seletividade em outras pautas da esquerda. É comum nas próprias universidades a difusão do pensamento de que a ciência é opressora porque usa seu poder para estabelecer verdades. A verdade é que elas são opressoras quando não convêm ao discurso da esquerda as verdades, onde até o determinismo cultural desses grupos é seletivo. A ciência e a natureza são uteis para dizer que a homossexualidade é natural, que ocorre no reino animal inclusive, e seria muito útil a descoberta definitiva de um “gene gay” que pudesse acabar com as pregações de “cura gay” e as alegações de que ninguém nasce gay. Mas a ciência é opressora e não deve ser levada em consideração se afirmar que homens e mulheres num modo geral são diferentes, com aptidões e desejos diferentes, porque ai nesse caso o juízo de valor dos próprios movimentos vão dizer que as diferenças favorecem os homens (não importam quais sejam), e que essa diferença não é natural e sim socialmente construída. 
Logo, precisa ser “desconstruída”! Se a ciência afirma que homens possuem tendências mais agressivas e competitivas por conta da testosterona e outros fatores biológicos, não importa, a ciência está errada porque sabe-se lá porque apontar esse fator nos homens oprime as mulheres. Logo, a cultura deve apoiar o direito das mulheres serem tão agressivas quanto, e os homens precisam ser domesticados! Um homem querer entrar em luta corporal com outro para defender uma mulher que julgou mais fraca? Machismo, a mulher não precisa ser colocada nessa posição de sexo frágil que precisa da ajuda “dos omi” pra se defender, deixa apanhar! 

Voltando a falar mais especificamente das táticas ineficientes da esquerda, no primeiro turno das eleições do Rio, Marcelo Freixo postava em sua página no Facebook uma imagem que dizia “entre a cruz e a espada”, se referindo as pesquisas que colocavam naquele momento Crivella e Flávio Bolsonaro como postulantes ao segundo turno. 
Numa cartada só, a página do candidato do Psol conseguiu atacar a igreja, numa população de absoluta maioria cristã, e também o pensamento armamentista que também é vontade da grande maioria da população aterrorizada pela criminalidade. No Brasil você só não possui uma arma se quiser respeitar a lei, o bandido por oficio não a respeita! Tudo bem, eu até entendo que o ideal fale mais alto, mas julgar que vai ser útil  praticamente dizer “não quero armas” e “com a igreja a gente ta ferrado” certamente não me parece muito inteligente, seria possível debater esses assuntos de outra maneira. É novamente um discurso fechado, que só iria atender de fato aos anseios de quem já comprou a ideia, mas afastar ainda mais de qualquer possível dialogo os contrários. 

Depois de citar o Flávio Bolsonaro, vocês consideram o Bolsonaro pai a escória da politica no Brasil não é? Não sou bolsominion, e não vou julgar aqui a figura do Bolsonaro em si, e inclusive acho qualquer idolatria ruim na politica, mas gostaria de chamar vocês esquerdistas para pensar um pouco mais a respeito. Dois acontecimentos foram fundamentais para popularizar a figura de Jair Messias Bolsonaro. A primeira foi a oposição ao que ficou conhecido como “kit gay”, que aliás parece que questionar ou ser contrário ao tal kit é necessariamente ser homofóbico né? A segunda foi a discussão acalorada com a deputada petista Maria do Rosário. 

Pensa comigo: Maria do Rosário, uma deputada de esquerda, é contra a redução da maioridade penal, diz que o menor não sabe o que está fazendo, e o debate sobre o assunto estava muito acalorado no país. Acontece o caso Champinha, que se você não conhece e tem estômago forte pode dar uma pesquisada ai. 
Bolsonaro defende a redução da maioridade penal usando o caso enquanto dá uma entrevista para a RedeTV, a deputada aparece e começa a chamar Bolsonaro de estuprador de maneira completamente alucinada por conta disso (o cara que tava querendo prender o estuprador), ao ser ofendido o deputado perde a linha e solta um  “não te estupro porque você não merece” em resposta, ponto.

Vocês poderiam criticar sem pena a fala do Bolsonaro? Poderiam. Mas se também criticassem com o mesmo peso a fala da deputada. Porque SEXISMO, é justamente ser seletivo aqui. Ninguém é obrigado a ser chamado de estuprador e ficar quieto, eu mesmo não ficaria. Se homens e mulheres possuem os mesmos direitos (e deveres) e a mulher não é o sexo frágil, Maria do Rosário é adulta o suficiente para arcar com as consequências de seus atos. O que vocês fizeram? Bateram sem dó no Bolsonaro, dizendo que ele fazia ali apologia ao estupro e tudo mais, mas aliviaram a barra e defenderam Maria do rosário, simplesmente porque é mulher e é de esquerda.

Enquanto Bolsonaro respondia as criticas assumindo o que disse e se dizendo motivado pelas ofensas que sofreu da deputada, Maria do Rosário fazia para o grande público o papel de vitima que não errou, apoiada pela militância.  
Não era óbvio que quando o povão fosse ver o vídeo, e fizesse o paralelo com o discurso de vocês contra o Bolsonaro julgariam que nesse caso vocês foram desonestos porque só viram um lado,  e fossem procurar qual era a verdade do outro lado? Não é obvio que uma população que lincha estupradores e quer menor bandido na cadeia porque está cansada de ter medo ia ficar ao lado do cara? Que muitos considerariam justa a resposta dada ao ser chamado de maneira injusta de estuprador? Foram vocês que fortaleceram o Bolsonaro, queiram aceitar isso ou não. Se o Bolsonaro deve gratidão para alguém pelo seu crescimento, deve para a desonestidade corporativista da esquerda brasileira. Quanto mais vocês batem assim, mais ele cresce, e mais o povão compara a reação de vocês com as ideias dele e pensam “olha, acho que ele não está tão errado assim como esse pessoal fala!”. 

Bolsonaro já figura em torno de 10% de intenção de votos para a presidência em 2018, é recebido com festa por multidões nos aeroportos de todo o país, a família Bolsonaro arrasta milhões de seguidores e fãs tanto quanto celebridades nas redes sociais. Do outro lado Maria do Rosário é avacalhada e chamada de “defensora de bandido” por onde passa, sendo inclusive expulsa do velório de um médico assassinado no sul pela família da vitima. Para quem o saldo foi mais positivo? Vocês fizeram a imagem do Bolsonaro e ajudaram a popularizar essa vertente da direita como era praticamente impossível se imaginar a uns tempos atrás. 

Enquanto o povo vê Bolsonaro dizendo que debateria com Jean Wyllys a hora que ele quisesse, o candidato do PSOL diz que jamais debateria com Jair porque ele é fascista. Preciso dizer como o povão enxerga isso? 
Acham que esse povão ainda sem bandeiras prévias não iria enxergar uma contradição absurda ao ver a esquerda se indignar ao ver Bolsonaro saudar o coronel Brilhante Ustra ao mesmo tempo que exalta figuras e ditadores que cometeram atos tão errados quanto os que Ustra é acusado? Lembram do “Stalin matou pouco?”

Esse não é um fenômeno que fica só no Brasil, as pessoas simplesmente estão de saco cheio de ideias e valores da esquerda, e de coisas insuportáveis como a patrulha “mimizenta” do politicamente correto. As pessoas não querem ter por referência a “figura do oprimido”, estão cansadas da choradeira, de pessoas sensíveis demais que transformam tudo em politica, em ofensivo, em discurso de ódio. A geração que vocês enxergam como a geração jovem evoluída capaz de mudar o mundo, é vista pela maioria (e cada vez mais) como a geração mais mimada, chata e afeta da história. Uma geração ofendida com tudo, que leva piadas a sério, e que parecem afoitas para encaixar suas causas e crenças em qualquer acontecimento da vida diária. Vocês podem se olhar no espelho e repensar se essas pessoas não possuem nenhum tipo de razão, ou podem continuar na negação. Significa que tudo que vocês defendem está errado? Talvez não, mas vocês exageram num nível insuportável. E quando uma pessoa comum diz que vocês estão criando um mundo chato, como vocês respondem? Que é um mundo chato porque as pessoas não podem mais serem racistas, machistas e a coleção infinita de “istas” como gostariam de ser, óbvio! Até o bullyng vocês banalizaram! Até “alertas de gatilho” em textos vocês criaram para “proteger pessoas sensíveis” de se depararem com coisas que as poderiam ofender, mantendo-as exageradamente sensíveis! 

Vocês acham mesmo que o povo americano acha Trump um gênio? Até um candidato como Trump consegue, mesmo sob ataques de todos os lados, mesmo carregando todos os rótulos, mesmo com mídia e artistas contra ele, ser competitivo e disputar pau a pau a presidência com a Hillary. Trump tem chances de vencer e “assusta o mundo” segundo a mídia de esquerda, não porque é ótimo, mas porque representa a resistência a tudo que a galera está de saco cheio. Deu pra vocês entenderem? Trump é o anti politicamente correto, algo que se aproxima muito mais da verdade do que a fama de sua adversaria e da mídia que a apoia. Mesmo que eu considere que qualquer outro republicano venceria Hillary com os pés nas costas, quanto mais vocês se limitam a considerar simplesmente que os eleitores de Trump são fascistas, racistas, machistas, e estúpidos, e quanto mais os chamam assim, mais forte Trump fica, e mais oposição contra vocês surge. Mesmo quando as disputas são apertadas, devem enxergar que a resistência contra a esquerda é cada vez mais poderosa.

Na Colômbia a mídia e a esquerda soltaram pombas brancas e tinham certeza da maravilha que era o acordo de paz do governo com as Farc, digno de nobel não é? O povo foi lá e no plebiscito  resistiu com outra rasteira. O mesmo aconteceu com o Brexit no Reino Unido, onde agora tentam de qualquer forma deslegitimar o plebiscito pedindo um novo, e com a justiça decidindo que o parlamento ainda terá que votar se concorda ou não com o Brexit. Na Venezuela caindo aos pedaços, o povo e a oposição  se levantam contra Maduro tomando as ruas e pedindo uma Venezuela livre, enquanto os jovens socialistas brasileiros fazem marchinhas cantando que estão com Maduro. Soma-se isso a crise dos refugiados, as respostas consideradas leves demais no combate ao terrorismo islâmico, e outros cenários globais que mobilizam o povo a responder a esquerda, e podemos concluir que a esquerda só não percebe que precisa se reconstruir se não quiser, ou o fundo do poço será logo ali. 

Se você é de esquerda pode ser muito difícil para você enxergar algumas coisas que eu disse aqui, mas que eu garanto que estão acontecendo. Muito disso se dá pelas bolhas de proteção da nova geração, coisas como os algoritmos do facebook, que selecionam os conteúdos que você vê de acordo com suas preferências, o que dificulta o contato com o oposto. Eu tenho a vantagem de ter a péssima (ou ótima) mania de ler e procurar textos, páginas e posicionamentos contrários aos meus tanto quanto ou mais os que reforçam meu pensamento. Creio que isso seja enriquecedor em todos os sentidos (embora estressante as vezes), e ainda te ajuda a enxergar um cenário mais amplo. 

Na educação isso é muito comum, e as vezes engana a esquerda que adquire a certeza de ter a maioria de apoio. Vejo isso mais presente nas universidades, mas também é presente no ensino médio. Como a esquerda se manifesta em coletivos mais organizados, é natural que sua voz apareça e soe mais alta nesses setores do que as pessoas isoladas que discordam desses posicionamentos, e por vezes possuem por isso o receio de se expor, como já comentei anteriormente, mesmo que possivelmente sejam de fato a maioria.

É comum se observar a mudança completa que muitos alunos passam quando entram para as universidades públicas, tanto mudanças ideológicas quanto estéticas, muitos alucinados por conseguirem se livrar da aba de autoridade dos pais. É natural que um jovem cheio de incertezas e com o espirito de mudar o mundo, encontre nos coletivos de esquerda e em seus discursos algum sentido, e de sobra ainda possam se enturmar, fazer amigos, e ter voz, o efeito de manada é previsível.

Ao jovem não tão politizado e sem ampla gama de vertentes políticas, os discursos de justiça social, igualdade, lutar pelos indefesos, o capitalismo é o mal do mundo, você sofre mas o movimento te dá poder, são encantadores quando se depara com eles! Se torna “lógico” para esse jovem que a esquerda e seus braços são o caminho certo do bem contra o mal, ainda mais quando esses discursos parecem dominar todo o ambiente em que se está inserido e “ser aceito” nesse ambiente é importante. E é inegável que muitos não sabem o porquê de estarem lutando, desde que a luta exista e o discurso destaque um inimigo que os façam uteis. 

Os professores e os materiais didáticos, muitas vezes reforçam essas ideias nesses alunos, e silenciam ainda mais os que divergem. Vejo muitos problemas que já apontei em outro texto no projeto “Escolas sem partido”, mas considero uma hipocrisia absurda se negar a importância desse debate, ou negar que alguns professores de fato pregam suas crenças politicas como verdades absolutas se favorecendo da atenção cativa decorrente do cargo que ocupa. Na verdade isso é bem comum.

Hoje as ocupações e debates sobre a PEC 241 tomam conta do país, e acredito que se a esquerda não tomar cuidado acabará por ser mais um tiro no pé! No debate sobre a PEC 241 vejo alguns posicionamentos muitos rasos, e o inicio de uma nova repetição de mantras sobre o projeto. O povão quer sim uma melhor educação, mas também vejo uma parcela enorme desse povo entendendo que a esquerda apenas quer fazer bagunça para inviabilizar o governo Temer, quando o povo (gostando ou não gostando de Temer) torce para que ele possa ajudar o país. Se populariza cada vez mais imagens de pessoas que se opõem a PEC mas sequer sabem explica-las, e o discurso por vezes se limita ao terrorismo emocional de coisas como “vão acabar com a saúde e educação”! A PEC é um assunto complexo que vem sendo debatido de maneira simplória e revoltosa, e quem considera que ela possa ser uma medida necessária e gostaria de aprofundar o assunto, já começa novamente a ser hostilizado, como se tivesse o cruel interesse de destruir a saúde e a educação do país! O mesmo acontece quando o assunto é a reforma do ensino médio e os direitos trabalhistas, onde o povo também começa a se questionar até que ponto uma enxurrada de “direitos” as vezes o atrapalha. Assim como também soa contraditório para esse povo, a desmobilização desses setores quando cortes e outras medidas se deram no governo anterior. É complicado!
As ocupações também não ajudam a esquerda quando as ideias de greve surgem amparadas por sindicatos, quando alunos que não concordam com a pauta são impedidos de terem aulas, pais de entrarem nas escolas, etc. Eu não sei se a recepção a isso é tão positiva quanto vocês imaginam, e posso afirmar que as chances disso se voltar novamente contra vocês é muito superior as chances de que tenham o efeito que esperam. Greve então nem se fala. Num país com milhões de desempregados, vocês podem ter certeza que o trabalhador que quer sustentar seu emprego, ou o sujeito simples que quer arrumar um, apenas olhará para vocês e pensarão “com tanta gente querendo trabalho e esse pessoal ao invés de trabalhar fica fazendo bagunça e atrapalhando os outros!”, ainda mais quando a greve se torna um método de politicagem, porque esse trabalhador vai se perguntar onde vocês estavam na hora de enfrentar o governo que os colocou nessa situação. 

Perto da minha universidade eu vi um caminhão antigo em que o dono colocou um daqueles adesivos de “vende-se”. O caminhão estava pichado com um “Fora Temer”! Penso que depois dessa o dono do caminhão provavelmente não irá apoiar apoiar essa causa. 

Por fim, gostaria de agradecer a todos que se dispuseram a ler até aqui. Devo confessar que me sinto um pouco advogado do diabo ao tentar mostrar para a esquerda os pontos que os estão enfraquecendo, e talvez eu tenha esperança que vocês considerem tudo que eu disse um absurdo, e que eu estou completamente errado. Por outro lado talvez eu tenha alguma esperança de que uma reflexão possa existir, o que seria positivo para o país como um todo. 

Curiosamente a esquerda precisa de uma certa lógica capitalista nesse momento de crise se não quiser falir. Precisa produzir novas ideias e métodos e saber vende-las se quiser lucrar o apoio popular. Na politica tudo muda muito rápido, e 2017 será um ano agitado por essas bandas, é só o tempo dirá se a crise da esquerda é ou não “apenas uma marolinha”!

Abraços!

O TEXTO NÃO REFLETE AQUI A OPINIÃO DO BLOG SENDO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DO AUTOR

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