O Fator Beltrame e o futuro das UPPs

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José Mariano Beltrame não é mais secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Beltrame talvez por cansaço ou sei lá o que resolve sair num dos piores momentos da segurança pública do Rio de Janeiro onde os índices de criminalidade crescem a cada dia mais. 

Beltrame, afirmou em entrevista a TV Globo que já planejava sua saída desde 2014, após a eleição do Governador, hoje licenciado Luiz Fernando Pezão. Beltrame sempre foi o responsável maior pela segurança e tudo que acontecia sempre vinha nas suas costas, seja negativo ou positivo. 

Quando assumiu a pasta em 2006 começou a tentar a guerra contra o tráfico através do confronto até começar a trabalhar junto com o governador Sérgio Cabral o projeto das UPPS, Unidades de Polícia Pacificadora. A primeira favela com UPP foi o Morro Santa Marta, na Zona Sul do Rio de Janeiro. De lá pra cá vieram novas Unidades de Polícia Pacificadora com ótimos resultados especialmente em 2010, quando o Complexo do Alemão foi ocupado pela polícia. Foram anos sem nenhum tiro na maioria das favelas. 

Bandidos tiveram que sair dos morros onde eram os reis. 

Mas foi num ponto que a UPP falhou e ainda falha. A UPP social entrou e acabou. Entraram serviços sociais, empreendedorismo social, empresas como Sebrae passaram a fazer oficinas dentro de favelas. Se andava nas favelas com uma sensação de tranquilidade impressionante. Com tudo isso, Sérgio Cabral foi reeleito com folga nas eleições para o Governo do Estado em 2010. 

Mas nisso aí faltou mais. Faltou mais serviços do estado. O que vinha era pouco. A Vila Olímpica de Vila Isabel ainda não está pronta mesmo recebendo aulas de vários esportes todos os dias. Faltou mostrar as crianças que existem outras referências que não os do tempo do tráfico. Os bandidos não saíram na sua totalidade já que os que não são fichados pela polícia permanecem tranquilamente nos morros. 

A UPP social acabou em 2013. Numa conversa que eu tive com um policial uma vez ele lamentava o fim do projeto. Desde essa época já se sabia que havia uma pequena crise. Sempre se falou que após as Olímpiadas a UPP acabaria. 

E onde Beltrame entra nisso? 

Ele se manteve isolado em declarações a Imprensa dizendo que era preciso mais do que a Polícia no Morro, era preciso investir em social, em oportunidades. Ele dizia que a Polícia apenas estava enxugando gelo. 

Faltou investir no futuro com maior eficiência. Faltou se preparar melhor para ações. Parece que a Polícia não sabia que em algum momento os traficantes iriam voltar. E voltaram, com força! E com isso, os tiros voltaram de forma constante assustando os moradores. A tentativa de retomada do poder do tráfico está aos poucos dando certo, em morros em que a Polícia ja foi expulsa ou em outras em que é dividida entre polícia e bandidos num acordo tácito em que ninguém interfere no outro. 

Beltrame está cansado. Cansado de carregar nas costas todo o peso da segurança pública do Estado. Cansado de agir sozinho diante de uma Polícia que mata e morre todos os dias, mal recebe salário, possui condições ruins de trabalho e que ainda possui as suas bases em Contêiner. Policiais morrem todos os dias em conflitos por falhas do próprio Estado que permitiu que esses bandidos voltassem. Esses policiais que estão reclamando com razão por não receberem salário. 

A Polícia mata também e injustamente. Quando por exemplo no caso do garoto de dez anos que foi morto com um saco de pipocas. Como no caso Amarildo.. Através de excessos diários em revistas principalmente com jovens negros e segundo eles, suspeitos. Coisa que a Polícia, no Brasil inteiro sempre fez. 

A Polícia também serve como instrumento do medo dentro da comunidade, ela acaba através da ação de policiais criminosos ganhando a pecha de violenta e assassina, descumprindo a missão a qual foram formados para tal.  

Por isso que uma boa parte da população também não gosta da Polícia. 

 A Polícia Militar pra alguns representa mais medo do que segurança. Esse é um desafio para o próximo secretário. É preciso entender os porquês disso. 

Desmilitarizar seria uma solução? 

Acabar com a UPP hoje é entregar os Morros aos traficantes. A UPP precisa ser modificada. O que dava certo em 2009 e 2010 não dá mais certo agora. Os tiroteios precisam acabar, o Estado precisa investir em ações sociais, investir na educação, o Estado fazer o seu papel dentro das favelas coisa que Beltrame cansava de falar. Essa é a realidade. Os traficantes voltaram a se instalar nas favelas impondo medo a população que sofre com medo de tiroteio. 

O grande erro estratégico foi não ter vindo junto com a Polícia, os serviços que a favela sempre esteve carente de recebe-los do poder público. Esses serviços não vieram, a Polícia por si só não se sustentou como antes lá dentro o que gerou essa crise. 

Segundo uma pesquisa da FGV de Julho, mais de 75% dos moradores de favela querem a UPP nos seus morros. Mas não uma Polícia que impõe medo e mata. Mas a Polícia que faz ações sociais, que participa do dia das crianças, que é sim uma Polícia colaborativa. 

Nosso Estado ainda caminha para isso.

A UPP como está não pode ficar. Ela precisa ser renovada, melhorada para que o projeto original de tirar toda a ação do tráfico nos morros não se torne um grande fracasso. Beltrame cansou, ele vai curtir a vida, a família, merece férias.

 Mas a segurança pública do Rio merece atenção total ainda. 

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