Eu vivi para ver o Cp2 abolir a divisão binária do seu uniforme

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​Ontem aqui no BLOG falamos sobre a decisão do Colégio Pedro II de abolir a divisão binária nos seus uniformes. Foi dito aqui no Blog de maneira errada que quem teria começado o movimento indo ao colégio de saia em 2014, foi uma aluna transgênera. 

Porém na verdade, quem começou tudo isso foi Emilson Gomes Júnior, que relatou nesse artigo especial aqui no BLOG a sua experiência nessa história e como ele vê esse avanço do Colégio Pedro II. 

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Em 2014 eu decidi ir ao Colégio Pedro II de saia. Por na época me sentir confortável e seguro na instituição, não vi problemas em ir assim, ainda mais que por ser de gênero não-binário a questão torna-se, na maioria das vezes, desimportante pro meu cotidiano. 

Entretanto, a direção logo quis me impedir de usar o uniforme. Alguns amigos na mesma hora começaram a discutir com funcionários do colégio em meu favor, e de pronto uma amiga que compunha o coletivo feminista e o grêmio à época decidiu puxar um ato que aconteceria após a festa de São João do colégio, chamando inclusive alunos de outras unidades para se juntarem.

Após o ato – que foi lindo, inclusive – logo saiu a notícia em diversas mídias nacionais (como Nova Escola e O Globo) e internacionais (como El País e Huffington Post) e começamos a perceber que estava tomando proporções inimagináveis. Foi absurda a divulgação. Assumir-me agênero em meio a tudo isso foi insano. Não deveria causar tanto alvoroço, muito menos com manchetes distorcidas querendo dizer que eu era uma menina trans binária ou simplesmente um menino de saia.

 Inclusive, apenas as revistas Capricho e Nova Escola procuraram os alunos para saber o que realmente aconteceu à época. Foi engraçado e assustador viver cercado de sensacionalismo, com minha identidade em anonimato (visto que tinha 17 anos).

Como estava no terceiro ano do Ensino Médio, logo saí do Pedro II. Desde então, tenho seguido minha vida acadêmica – estou no terceiro período da graduação na Faculdade Nacional de Direito, da UFRJ – e minha militância diária enquanto pessoa negra, periférica, agênera e panssexual. Enquanto isso, dentro do Pedro II foram continuados os debates sobre gênero e sexualidade – contemporâneos à minha geração, visto que surgiram nos últimos anos o coletivo de mulheres Feminismo de ¾ e o LGBTQI Retrato Colorido. 

Quando soube da abolição da divisão binária de gênero nos uniformes escolares não conseguia parar de sorrir. 

Não tem como não ficar feliz com a notícia tendo vivido aquele momento lindo em 2014, com toda a montanha russa emocional e os conflitos com a própria instituição – que hoje percebe o uniforme de uma maneira mais aberta graças ao diálogo com estudantes. O debate político de alunos nos últimos anos foi fundamental para que a reitoria implementasse essa medida. Se não fosse o movimento estudantil sempre atuante em sua história o colégio não teria seu notório posicionamento de vanguarda. 

O Pedro II tem tentado ser menos sexista e evitar episódios de preconceito dentro e fora de seus muros, e se depender de sua excelência nos corpos docente e principalmente discente ainda será feito muito diálogo e muitas medidas que o movimento estudantil pautar serão postas em prática.

Olho sempre pra trás e me sinto pleno por tudo que passei nos meus anos de Pedro II. Depois de tanta coisa que eu vivi entre agosto e setembro de 2014, só consigo sorrir depois dessa notícia. Lindo que o saiato e os diálogos internos tenham proporcionado mais uma vitória do movimento estudantil. Muita gratidão a todos os meus amigos e ao universo por esse momento lindo. Parabéns aos envolvidos. 

E ao Pedro II, mais uma vez tudo <3 

Emilson Gomes Júnior é ex-aluno do Pedro II e estudante de direito na UFRJ. 

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