Simone Drumond: A Imperatriz de Ramos

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Por Leonardo Oliveira

A Imperatriz Leopoldinense é uma das maiores escolas de samba do nosso Carnaval. Dona de oito títulos no Grupo Especial, ela é considerada um dos expoentes do nosso carnaval pelos seus grandes desfiles e enredos históricos. Presidida desde os anos 70 por Luiz Pacheco Drumond, a escola possui em Simone Drumond um dos seus símbolos. ela já foi tudo dentro da escola e ainda é primeiro destaque da escola.
Hoje é diretora da escola. poucas coisas passam na Imperatriz sem seu olhar observador. Muito querida por todos dentro da escola e em outras também, sendo amiga de várias figuras do meio do samba foi convidada pela escola de samba Tupy de Brás de Pina para ser  homenageada em enredo nos próximos Carnavais.
Inaugurando nossa página de Carnaval no Blog temos Simone que aceitou dar uma entrevista onde fala sobre o desfile de 2016, o futuro de 2017, sobre seu pai Luizinho Drumond e sobre como é ser mulher no meio machista do Carnaval.

BLOG DO LÉO –  Muito se esperou do desfile de 2016, onde a Imperatriz foi apontada como o melhor samba antes dos desfiles e era uma das favoritas. O sexto lugar te decepcionou? O que não deu certo ali?

SIMONE DRUMOND – A Imperatriz sempre entra no desfile para dar tudo de si . Cada escola tem obrigação de fazer o seu melhor . Isso ajuda a tornar o espetáculo cada vez mais atraente , no Brasil e no Exterior . Também não podemos esquecer que se trata de uma competição . Assim uma colocação que ultrapasse os seis primeiros lugares traz de imediato uma consequência desagradável . A escola não desfila nas Campeãs . Todo mundo perde com isso . Mas isso não aconteceu esse ano . Com o acirramento das disputas a diferença entre o 6º lugar e o 1º é mínima quase sempre . Então não é motivo para tristeza . Nossa Diretoria está atenta e certamente tirou lições valiosas do trabalho desse ano para obter uma melhor colocação no próximo Carnaval

BL – A vista de anos anteriores, o desfile desse ano veio com uma expectativa gigantesca. A passagem da escola, segundo vários comentaristas de Carnaval fora considerada um pouco fria, você concorda com essa avaliação, que aliás é uma tônica da escola ser uma escola que é muito correta mas não é de emocionar o público?

SD – Essa história de que a Imperatriz é correta sem emocionar surgiu lá atrás, nos anos 90, e virou um estereótipo que não corresponde à realidade atual da agremiação. Nos últimos anos, a Imperatriz vem fazendo desfiles com forte carga emotiva. Diga quem não sentiu um frio na barriga ao ver Fafá de Belém emocionada, conduzindo a bandeira do Pará na comissão de frente de 2013 ? E quem não se emocionou com a graça dos doutores da alegria no ano de 2011 ? Apenas para citar dois exemplos. Por outro lado , a energia que acontece nos desfiles muitas vezes é imprevisível . Sempre haverá anos com mais ou menos emoção. Daí a graça do Carnaval. O fator surpresa !

Seu pai, Luiz Pacheco Drumond enfrentou problemas de saúde antes do desfile oficial, mas esteve lá acompanhando o desfile, numa recuperação surpreendente. Como ele avaliou o desempenho da escola, e como está a saúde de seu pai?

Meu pai quer sempre o melhor para Imperatriz. Ele está atento ao que acontece em cada frente de trabalho. Ele costuma dizer ganha quem errar menos . Com certeza ele já se reuniu com a equipe e já decidiu os ajustes para o próximo carnaval . Em relação à última pergunta, respondo fazendo uma lembrança. No enredo de 2011 , a Imperatriz dizia : ” Sambar faz bem à saúde “. No caso do meu pai o ditado se aplica .

 

Houve uma resistência e uma crítica forte a escola por conta do enredo desse ano ser sobre a dupla Zezé Di Camargo e Luciano. Como vocês da escola viram isso?

As críticas foram mais no início, quando o anúncio chegou a imprensa. Ninguém sabia ainda o enfoque a ser levado para a avenida , tampouco a qualidade da safra de sambas que o enredo renderia . À medida que as novas informações chegaram ao conhecimento público e sobretudo, por conta da fantástica safra de sambas, as críticas diminuíram .

 

Jorge Castanheira foi presidente da LIESA de 1995 a 1997 e é novamente desde 2007. Como você vê a administração de Castanheira?

Castanheira faz um excelente trabalho. Problemas sempre irão existir , em qualquer instituição e na vida de qualquer pessoa. A diferença está na forma com que os encaramos

Você faz parte junto com a Presidente Regina Celi de um grupo de mulheres que possuem liderança forte dentro do Carnaval. Como você vê o crescimento da liderança feminina num meio ainda muito machista e preconceituoso?

A luta pela igualdade passa também pelo carnaval. Felizmente a mentalidade das pessoas vem mudando nos últimos anos em muitos aspectos. Está longe do ideal  mas estamos no caminho certo. Já conseguimos eleger uma Presidente mulher. Claro, sem dúvida é uma questão cultural antiga e arraigada , mas tenho certeza que será vencida e logo veremos uma participação maior das mulheres no carnaval .


Você é considerada uma das pessoas mais carismáticas e simpáticas no meio Carnavalesco, com direito a fã clube e tudo. Como você vê isso, e de onde se explica tanto carinho?

Como qualquer ser humano, me sinto lisonjeada por isso. Os motivos são muitos e eu não pretendo aqui especular sobre eles . Não posso também falar de mim mesma. A única certeza é que esse tipo de reação só aconteceu porque tenho estado presente de modo constante nas diversas atividades da escola, de maneira calorosa e acolhedora. mantenho essa mesma postura nas escolas que visito e sou recebida. O contato constante com vários segmentos da minha escola, e a contínua interação com pessoas de outras agremiações, permitem que tais reações aconteçam e se multipliquem. Não só na Imperatriz, como no mundo do Samba de um modo geral. Por tudo isso, hoje sou mais conhecida no universo do Carnaval .

Qual o seu Carnaval inesquecível?

O de 1989 , do ” Liberdade , Liberdade “. Um desfile emocionante que rendeu um título e um samba antológico.


Qual o Carnaval que você menos gostou?

Não exatamente o que menos gostei . O do Jorge Amado em 2012, ano do centenário do escritor. Em São Paulo a Escola que homenageou Jorge foi campeã (Mocidade Alegre) e no Rio a escola que levou um centenário para avenida também foi campeã (Unidos da Tijuca). Tínhamos os dois elementos, mas as falhas técnicas (carros quebrados , erros de formação, etc) derrubaram nossa colocação . Uma pena !

O que é a Imperatriz pra você?

Eu respondo com versos de um dos sambas de quadra mais conhecido da Escola . ” …. meu cantar , minha vida , meu pulsar “…. Quem não sabe o que é o amor , não sabe o que é ser feliz … Quem não sabe o que é sambar , não sabe o que é Imperatriz.


Como vem a Imperatriz para 2017?

Com a garra de sempre , buscando apresentar um desfile a altura de sua história. Em relação ao enredo, passaremos uma bela mensagem em prol das nossas florestas, de preservação e de sustentabilidade , temas que não saem e não devem sair de moda. Agora mesmo na abertura das Olimpíadas , o Brasil mandou seu recado ao resto do mundo .

 

A Imperatriz sempre foi considerada uma das maiores escolas do carnaval carioca. Incomoda muito a falta de títulos desde 2001?

A falta de títulos não é uma exclusividade da Imperatriz e muito menos das escolas de samba . O que dizer da Portela que não ganha desde 1984 ? E do Botafogo que ficou 21 anos sem títulos ? São ciclos pelas quais as instituições passam . Continuaremos trabalhando com afinco em busca do campeonato e tenho certeza de qualquer momento ele vai chegar .

Uma das passagens mais marcantes do Sambódromo em 2016 foi a do casal símbolo da escola, Maria Helena e Chiquinho que foram por vinte anos, o casal de mestre-sala e porta-bandeira titular da escola. O que representa pra escola esse casal?

Chiquinho e Maria Helena por tudo que fizeram nos desfiles da Imperatriz, são um patrimônio do carnaval carioca. São parte da maior festa popular do país. A maior prova disso está nos constantes convites que os dois recebem para desfilar em outras escolas, ajudando a contar enredos em que eles próprios de algum modo estão inseridos .

A Imperatriz investe nos últimos anos em profissionais oriundos de escolas da Série A, como Thiaguinho Mendonça, Marquinho Art’Samba, o Mestre Lolo.. Como você vê a questão da renovação no Carnaval?

Uma necessidade imprescindível. Todos os grandes sambistas da história um dia foram desconhecidos e tiveram sua 1ª chance. Alguém precisa dar esse 1º passo. Cabe cada um ter o feeling para descobrir os grandes talentos bem no inicio. Aí está a diferença !

Quem é Luizinho Drumond pra você, pra Imperatriz e será que existe vida sem ele na escola?

Meu pai é meu herói, ele é o homem que eu mais amo e a quem eu daria a minha vida eternamente. ele é a alma da Imperatriz Leopoldinense mas ao mesmo tempo a escola é a vida dele por isso também não sei se existe vida sem ele na escola, e nem quero pensar nisso, porque ele vai ficar por muito tempo na ativa. firme e forte.


Entrevista cedida a Leonardo Oliveira

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