Início BLOG DO LEO Escola sem partido – Você está mesmo certo?

Escola sem partido – Você está mesmo certo?

0

 

Esse tem sido um dos maiores debates no Brasil atualmente, e consequentemente um debate muito acalorado. Vejo pessoas que gosto muito defendendo um ou outro lado, as vezes de maneira viciada demais, desde amigos e colegas até professores e “intelectuais” na mídia.

Se você quer ler uma defesa clara de um lado ou outro, e não cogita a menor possibilidade de refletir um pouco mais, nem precisa continuar a ler, afinal o texto é grande e você não sairá dele satisfeito. Ou continue, se não se importa em sair satisfeito!

Eu tenho tendencia a acreditar que quando dois lados do mesmo convívio social manifestam tão duramente visões tão opostas, ambas provavelmente estão erradas, uma falsa dicotomia é criada, e as pessoas sequer cogitam refletir o assunto dando um pouco mais de atenção ao que o outro lado diz, sem necessariamente julgar esse “outro lado” como inimigo.

Nem sempre isso funciona, ou porque realmente um lado de fato é indefensável (o que ao meu ver não é o caso) ou porque as pessoas se enxergam de fato como inimigas. Estamos com a péssima mania de comprar bandeiras fechadas que ditam, curiosamente, qual partido tomamos sobre tal assunto.
Tentarei apontar como enxergo cada um dos lados desse problema, buscando fazer isso de maneira centrada. Ou ao menos tentar ousar fazer isso. E no final, direi exatamente o que penso.

LADO 1- Sim, existem inúmeros problemas que podem ocorrer com essa lei no Brasil. Num país com tamanha diversidade, mas com forças institucionais maiores que outras, quem irá dizer o que de fato é uma doutrinação? Isso pode sim ser usado simplesmente para garantir que só um lado tenha voz nas escolas, até porque a seletividade moral supera e muito a real liberdade e democracia no Brasil.
Como um professor poderá dar aula tranquilo se precisar pensar cada frase que diz de maneira a não atingir as crenças e ideologias do aluno e de sua família? Na prática isso parece quase impossível de se fazer, não parece? Como um professor de ciências, por exemplo, irá falar de evolução numa classe onde o aluno aprende todo dia em casa sobre o criacionismo? Teremos que criar bolhas de proteção onde os alunos só poderão ouvir o que lhes convém? Em suma, isso pode acarretar prejudiciais limitações acadêmicas, e a simples troca de uma doutrinação ideológica por outra.

E aqui devo levantar um ponto importante: a esquerda que se posiciona fortemente contra o projeto, é mestre em criar essas bolhas, querendo assumir isso ou não. Inúmeras palestras de professores, ou simplesmente pensadores, com visões contrárias a politicas de esquerda, foram impedidas de ocorrer em universidades no Brasil e em inúmeros países justamente porque militantes de esquerda as impediram por julgarem suas verdades intocáveis, e as coisas mais nobres e verdadeiras do mundo. Sabe aquela mania de achar que tudo que você discordar é “discurso de ódio”? O próprio presidente Obama, um democrata bastante alinhado com a esquerda, chegou a alertar os universitários americanos sobre o perigo de evitarem visões opostas das suas, em suas bolhas de proteção.

Então, o projeto, que segundo seus defensores está ai para defender a liberdade politica do aluno, pode sim acabar funcionando simplesmente como uma escolha de qual doutrina pode e não pode ser discutida em sala de aula. E eu entendo sim, sem fazer juízo de suas relevâncias, que alguns temas bastante atuais da agenda progressista podem basicamente serem proibidas de se discutir em sala de aula, o que de fato de nada ajuda no que entendo por liberdade de pensamento e juízo do aluno.

LADO 2- É para mim um FATO que inúmeros professores usam sua posição cativa de atenção dos alunos para possibilitar a criação de novos adeptos de suas posições politicas. Isso é tão comum que eu vou me atrever a chamar de hipócrita quem não reconhecer isso. Acredito que todos nós já tivemos um assim.
Por que isso é um problema se o professor em uma democracia é livre para se posicionar politicamente? Porque em uma sala de aula ele faz uso dessa atenção cativa, e de sua posição de poder como professor, para politizar por seu viés, de cima pra baixo, os alunos que o escutam.

E a questão da família também deve ser levantada, pois isso pode sim criar uma guerra ideológica entre o que as crianças aprendem em casa e o que elas aprendem na escola. Dessa maneira, no momento em que uma das duas forças vencer, a criança ou se voltará contra o professor (a escola), ou se voltará contra a família.
Mas Renan, nesse exemplo a criança não teve justamente a possibilidade de formar a sua visão confrontando dois pontos diferentes? Sim, pode-se dizer que sim, mas será que vocês não percebem que isso não altera o fato do quanto é prejudicial afastarmos a escola da família e coloca-los numa situação de confronto?
Da mesma forma que eu não quero um professor falando para o meu filho que o comunismo é uma maravilha e o capitalismo é malvadinho, eu não quero um professor dizendo que gays não devem se casar porque é pecado. Chega a ser complexo entender como pessoas que berram revoltadas quando o estado tenta intervir definindo o que é e o que não é família, não se incomodem nem um pouco quando esse estado usa suas instituições para interferir em como as famílias deveriam ou não pensar.

Acho um absurdo que livros distribuídos pelo MEC façam do socialismo um paraíso e do capitalismo o inferno. E deixa eu avisar: Você pode ser um socialista que concorda pra caralho com isso, e ao mesmo tempo achar um absurdo que isso seja difundido dessa maneira nos livros escolares, ainda mais quando essa visão é a mesma (ou semelhante) do governo que distribui esses livros. Sabe por quê? Porque governos mudam numa democracia, e se fosse o oposto eu tenho CERTEZA que você ficaria puto e que iria odiar seu filho aprendendo na escola como o socialismo é a pior ideia do mundo. Então não caia nessa indignação seletiva.

CONCLUSÃO: Não acho nenhum absurdo que pessoas fiquem indignadas com o que chamam de doutrinações ideológicas nas escolas e queiram combater isso, mas também acredito que é muito delicado se pensarmos em que mãos estarão essa peneira. Nos dois lados enxergo claras influencias limitadoras da liberdade, o que demonstra o quanto a situação é complexa e não deve se limitar a que grupo levanta tal bandeira, afinal uma inversão de lados pode acontecer a qualquer momento.
Sei que é complicado exigir que professores sejam parciais em suas aulas, e não acredito na ideia de proibir que professores digam o que pensam. Mas acho que é função do professor, não usar de sua posição profissional, para transmitir suas visões politicas como verdades inquestionáveis, e que é perfeitamente possível ter um posicionamento em sala de aula, e ao mesmo tempo ofertar  aos alunos opções diferentes de sua visão, e desejar que os seus alunos não comprem a sua visão de mundo, e sim que possam formar as suas. O primeiro passo para isso é conhecer o outro lado.

Eu tive o que se dizia “aula de religião” na escola, e na época eu já era ateu. Eu ficava muito puto de perceber que aquilo não era uma aula de religião, e sim uma aula de cristianismo, onde o professor defendia o cristianismo acima de todas as coisas. Qual é a diferença disso, que era nitidamente uma evangelização, para o que chamamos de “doutrinação ideológica nas escolas”? Nenhuma, pelo menos pra mim! E tenho certeza que a grande maioria das pessoas que se posicionam contrárias ao ESCOLAS SEM PARTIDO, também são contra o ensino de religião nas escolas, porque do outro lado das suas convicções estão a “bancada evangélica”, os “conservadores cristãos”, e afins.

Eu sou um ateu (creio que ao contrário de praticamente todos os ateus) que defendo que se tenha sim ensino de religião nas escolas, afinal a religião é um fator de mega relevância nas relações de nosso mundo, quer você goste de religião ou não. Não teria nada contra aquele professor de religião se posicionar como cristão abertamente em sala de aula, mas adoraria que ele falasse sobre a história das religiões no mundo, que falasse sobre o islã, sobre o budismo, sobre as religiões afros, entre outras. Enfim, que pudesse ofertar um leque de informações e possibilidades aos alunos, de discordâncias, e que até comentasse o fato de que muitas pessoas sequer possuem religião, o que é ser ateu, o que é ser agnóstico, tudo que eu tive que aprender por conta própria porque um professor não conseguia fazer isso limitando-se a transmitir sua crença! Se ele conseguisse, isso seria enriquecedor para todos os alunos e para ele mesmo, que teria que se dispor a aprender mais sobre as coisas que discorda.

Será que isso é tão impossível assim?

Será que eu sou maluco por achar isso óbvio e simples? Fala sério! O problema é o método somado ao nosso vicio por fanatismos. Faça um exercício bem descontraído:
Pense naquele time de futebol que é o maior rival do seu time. Pensou? Agora pense, abrindo mão do fanatismo, se seria tão impossível apresentar um trabalho falando dos feitos, conquistas e histórias desse time rival sem denegrir esse time e seus torcedores, apenas apresenta-lo. Conseguiu? Se acha que isso é impossível, talvez você devesse aprender a gostar mais do futebol como um todo do que somente do seu time de coração!
Abraços!

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Sair da versão mobile