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Eu Desejo… Por Erick Bretas

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Por ERICK BRETAS  
 
Eu Desejo que os Jogos Olímpicos sejam incríveis. Que recordes sejam batidos, que os atletas dêem o melhor de si, que as cerimônias de abertura e encerramento nos emocionem, que as emissoras de TV captem e transmitam imagens espetaculares, que turistas e cariocas se congracem pelas ruas da cidade. Desejo que os problemas da Vila Olímpica se resolvam e que aqueles que lá se hospedarem levem lembranças de uma grande festa. Desejo que as grandes estrelas brilhem intensamente, que Usain Bolt corra como nunca, que Michael Phelps ganhe ainda mais títulos olímpicos, que americanos e chineses disputem medalha a medalha a condição de maior potência esportiva do planeta. Desejo que os australianos levem para a casa a última impressão do Rio, não a primeira. Desejo que o Brasil fique entre os dez primeiros no quadro de medalhas, que Artur Zanetti, Robert Scheidt e Fabiana Murer vençam, que os times de vôlei sejam campeões no masculino e no feminino, que as meninas do handebol façam a dobradinha mundial-olimpíadas e que o ouro olímpico no futebol masculino finalmente saia diante de um Maracanã lotado. Desejo aproveitar ao máximo a oportunidade de assistir ao maior evento esportivo mundial na minha própria cidade e não por outro motivo comprei ingressos para 16 dias de competição. 
Desejo que que não haja bala perdida de traficante, bomba de terrorista nem alertas de qualquer natureza, mas que se houver, a segurança seja eficiente e discreta e não atrapalhe as competições.

Desejo, porém, que antes, durante e depois dos Jogos nenhum brasileiro, em geral, e carioca, em particular, perca a capacidade de refletir sobre o que alcançamos e o que deixamos de alcançar com este evento. Desejo que todos entendam a oportunidade que perdemos de enfrentar o gravíssimo problema ambiental nas lagoas da cidade e na Baía de Guanabara. Desejo que todos se lembrem que os atletas da canoagem e do iatismo vão competir em águas poluídas com esgoto in natura por causa da omissão criminosa dos governos federal, estadual e municipal. 

Desejo que os eleitores se lembrem que a coalizão PT-PMDB mandou por uma década no país, no estado e no município e não enfrentou os problemas ambientais do Rio de Janeiro simplesmente porque nunca os encarou como prioritários. Mas desejo que essa conversa não contamine os Jogos e que não se faça aproveitamento político-eleitoral para nenhum dos lados num evento tão carregado de peso simbólico. Desejo que a população aproveite o legado que ficará, sim, em áreas como transporte e urbanismo — mas que a corrupção para liberar recursos da Caixa para as obras do Porto Maravilha seja investigada e os envolvidos, presos. Desejo que se investigue também a responsabilidade pelos atrasos em obras que agora nos obrigam a pagar R$ 233 milhões em despesas emergenciais sem licitação. 

Desejo também que o Comitê Olímpico nunca mais obrigue uma cidade que já tem dois campos de golfe a construir um terceiro e depois veja os principais atletas da modalidade desistirem de participar dos Jogos porque aqui não teremos as premiações milionárias dos torneios profissionais. Desejo que as arenas que fiquem no Rio sejam aproveitadas pelos atletas brasileiros e não se tornem elefantes-brancos como a Arena Pantanal e a Arena das Dunas, da Copa de 2014. Desejo que após os jogos não surjam contas secretas para o poder público pagar, porque o país e o estado estão quebrados e o município não pode jogar dinheiro fora.
Desejo, sobretudo, que as pessoas entendam que não há só o preto e o branco, que você não é obrigado a escolher entre ser o babaca que só torce contra ou o bobo alegre que bate palma pra maluco dançar. Afinal, isso aqui não é um Fla-Flu. São os Jogos Olímpicos.

Erick Bretas é jornalista da TV Globo, foi um dos criadores do quadro “Parceiros do RJ” do RJ TV. 

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