quinta-feira, maio 9, 2024

Forte Tamandaré: 200 anos de história na Baía de Guanabara

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Se você já visitou o Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, e a Fortaleza de São João, na Urca, deve ter se deparado com uma pequena edificação no meio da Baía de Guanabara. Esta ilhota, com cerca de 100 metros, leva o nome de Forte Tamandaré e guarda histórias de sucesso, fracasso e abandono.

Comumente conhecido como Forte da Laje ou Forte da Baleia, devido ao seu formato, ele tinha a missão de formar, juntamente com a Fortaleza de Santa Cruz e Fortaleza de São João, uma linha de defesa contra corsários e invasores, sendo um importante ativo para a proteção da cidade.

As muitas tentativas de fundação

O espaço onde foi instalado o forte, tomou importância em vários períodos da história por causa de sua posição estratégica, situada quase ao meio da entrada da baía de Guanabara. Desde os primeiros tempos, os que aqui chegaram, de imediato viam que, instalar canhões naquela pequena ilhota seria uma atitude inteligente no intuito de fechar a entrada da baía contra invasões.

O primeiro que tentou instalar uma bateria de canhões na Laje foi o francês Villegagnon, quando chegou para estabelecer nas terras portuguesas uma colonia francesa. O que parecia uma tarefa tranquila, se tornou impossível de concretizar, pois bastou a primeira ressaca para desalojar e desarticular toda a bateria instalada, com canhões sendo arrastados por água abaixo. Por este episódio traiçoeiro, os franceses passaram a chamar o forte de La Ratier (a ratoeira)

Mapa histórico da Baía de Guanabara nesse período sobre a tomada do forte de Villegaignon pelos portugueses contra os franceses, que mostra “La Ratier”. Fonte: Rio de Janeiro Aqui

A história parece não ter ensinado muita coisa, pois após a reconquista da terra, e fundação da Cidade do Rio de Janeiro, quem novamente teimou em montar uma bateria de canhões e os teve arrastados para o fundo do mar foi o Governador Salvador Correia de Sá. Mas o forte da Laje fazia parte estratégica da defesa da cidade do Rio de Janeiro e a necessidade de desenvolver o mecanismo de defesa se fazia cada vez mais necessária. Apesar dos muitos projetos no sentido de construir um forte na Ilha, a violência do mar associada aos poucos recursos financeiros para execução da obra sempre inviabilizavam ou impediram a concretização do que se propunha.

Tudo mudou em 1711 por conta da invasão corsária de René Duguay-Trouin, que foi financiada pelos insistentes franceses. Este episódio convenceu a Coroa Portuguesa que era essencial aprimorar o sistema defensivo da cidade.

O local que durante mais de 200 anos serviu como uma das principais defesa da cidade, atualmente está desativado e proibida à visitação do público

O Governador Francisco Xavier de Távora deu início à construção do Forte da Laje segundo o projeto do Engenheiro João Massé, mas foi o Marquês de Lavradio (1769 e 1779), que governou o Rio na condição de Vice-Rei, que construiu o Forte da Laje com a aparência e estrutura que manteve até o final do século 19 e início do século 20.

Só que a força do mar sempre deu trabalho à edificação. Em tempos de grandes ressacas, a Fortaleza era invadida pelo mar, além disso, o local sempre foi considerado de acesso difícil e complicado. Existem relatos que apontam que, em algumas ocasiões a guarnição do forte se via isolada e privada de ligação com a terra para receber suprimentos, muitas vezes por dias contínuos.

No início do século 20, após a Revolta da Armada, o forte foi reformado e reequipado, recebendo um novo tipo de armamento moderno para a época, com tecnologia semelhante em aparência aos canhões instalados no Forte de Copacabana, inclusive quanto às suas formas de blindagens e proteções. Ele assumiu a forma de um bunker, com uma grande cúpula de concreto, quando somente alguns grandes canhões despontavam do topo. As instalações da fortaleza são semelhantes aos dias atuais, salvo pelo seu atual abandono, com seu aspecto mais subterrâneo e completamente fechada por uma couraça de concreto. De frente à porta parece existir um ancoradouro e guindaste que eram utilizados para receber suprimentos e munição.

Foto tirada durante passeio marítimo da Marinha do Brasil

O local que durante mais de 200 anos serviu como uma das principais defesa da cidade, atualmente está desativado e proibido ao público. Mesmo a sua história e missão não deram a ele o mesmo destino das fortalezas situadas na orla do Rio e de Niterói, estando abandonado à própria sorte.

Tentativa de reforma e transformação em ponto turístico

O local é de responsabilidade do Centro de Capacitação Física do Exército, na Urca. Em 2002 a corporação chegou a efetuar um levantamento dos custos para a sua recuperação, mas os valores foram considerados muito elevados à época.

Já ocorreram tentativas da construção de alguns ativos turísticos, mas o projeto parece não ter ido para frente. O local foi arrendado pela empresa Plancton Comércio e Representações em 2012 para criar o “Espaço Laje”, projeto de um restaurante japonês e local para eventos com capacidade para mil pessoas, com a inclusão de deques removíveis e de um atracadouro flutuante, aonde o público chegaria em 40 botes infláveis saindo da Marina da Glória, da Urca e de São Francisco, em Niterói. A ideia inicial era que as obras fossem concluídas até os Jogos de 2016, mas isso não aconteceu.

Uma matéria publicada pelo jornal O Globo em 2015, conta que, na ocasião, dependia da aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), pois o local está incluído numa área de proteção determinada pela Unesco ao considerar a cidade Patrimônio da Humanidade, em 2012, qualquer alteração precisa ser aprovada pelas entidades. “O projeto até chegou a receber autorização do Iphan, em 2008, mas ela expirou dois anos depois. Em princípio, as obras começariam em 90 dias, conforme informou nesta quinta-feira a coluna Gente Boa, do GLOBO”.

De acordo com informações do O Globo, a empresa ficou responsável por recuperar o lugar e poderá explorá-lo por 20 anos. Os arrendatários também teriam que pagar um aluguel, “cujo valor não foi informado”. Entretanto, em uma busca rápida na internet, a empresa aparece como Inativa. Na ocasião, segundo cálculos de um historiador do Iphan, uma reforma no forte não sairia por menos de R$ 40 milhões, mais que o dobro do previsto pela Plâncton.

Enquanto o forte não tem um futuro definido, ele chama a atenção dos que passam pelo local e figura no imaginário dos cariocas e dos apaixonados pela história como um ponto representativo na nossa história que vive dias sombrios.


Curiosidades

Existem relatos de que o Forte Tamandaré foi utilizado, no século 19, como presídio político, mantendo em cárcere figuras políticas importantes:

• José Bonifácio de Andrada e Silva e seus irmãos, Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), e outros deputados após o fechamento da Assembleia Constituinte (novembro de 1823);

• o major Miguel de Frias e Vasconcelos, após o evento de 28 de setembro de 1831 denominado “tiros no teatro”;

• os quatro condenados à morte pelo crime da ilha da Caqueirada, dos quais três cometeram suicídio em suas masmorras, no ano de 1838;

• o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, um dos líderes da Revolução Liberal de 1842;

• o capitão Pedro Ivo Veloso da Silveira (1811-1851), líder militar da Revolução Praieira (1848-1850), que condenado à prisão perpétua, dali se evadiu espetacularmente num escaler (9 de abril de 1851);

• o poeta Olavo Bilac (1893), aí detido alguns meses por críticas ao então Presidente da República, marechal Floriano Peixoto (1891-1894).


Fonte: O Globo, Rio de Janeiro Aqui, Marinha, Wikipedia, relatos pessoais

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