segunda-feira, maio 20, 2024

História de Magé: Valorizar o passado para construir o futuro

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Existe uma inquietação constante naqueles que não admitem a desvalorização da sua terra, uma postura milenar que pode ser experienciada em todos os cantos do mundo. No Rio de Janeiro, há alguns quilômetros da capital, um pesquisador inspira os milhares de moradores de Magé sobre a importância da valorização da terra e defende, com unhas e dentes, a relevância histórica do município, por vezes negligenciada pela capital. Carlito Lopes de Oliveira Junior acredita que: “Quando as pessoas começam a tomar consciência da riqueza histórica e da sua importância para a história do Brasil, as barreiras criadas vão caindo, pouco a pouco”.

Poucos não sabem, mas Magé é um dos municípios mais antigos da região. Ele foi fundado em 1565 por colonos portugueses e foi cenário de vários acontecimentos que marcaram a história do Brasil, como a criação da primeira ferrovia do país e a terceira mais longeva da América Latina, a Guia de Pacobaíba, que completa 165 anos em 2022. Inaugurada em 30 de abril de 1854, ela foi fundamental para a história do Brasil, ligando Porto Mauá a Petrópolis, fazendo o transporte de produtos e mercadorias, em especial o café, que era um dos principais produtos da época, substituindo o transporte de tração animal.

Foto tirada em 2021 da estação Guia de Pacobaiba

Outro local que merece destaque é o antigo cais do Porto da Piedade, um local de grande importância no período Brasil-Colônia, que foi reformado recentemente pela prefeitura. Infelizmente, nem todos os locais tem a sorte de passarem pelo processo de conservação, um deles é a Vila Estrela, totalmente abandonada pelo poder público embora a sua importância tenha sido ressaltada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

A Vila de Estrela destaca-se pelo papel que desempenhou como principal porto de escoamento da produção aurífera mineira no século XVIII e do café do Vale do Paraíba. Lá iniciava-se a parte terrestre da Variante do Caminho Novo, aberta em 1725 e calçada em 1806, um dos mais importantes caminhos no complexo das estradas reais que ligavam diversas localidades do país, sobretudo Minas Gerais e Bahia, ao litoral do Rio de Janeiro. As ruínas da Capela de N. S. da Estrela, do Porto Estrela e da Casa das Três Portas são, hoje, os únicos vestígios materiais remanescentes da antiga Vila.

Essas e muitas histórias são retratadas no perfil do Instagram “História de Magé”, Carlito e a esposa Gabrielli Gomes. Confira na entrevista abaixo como esse trabalho é realizado e valorize também esse patrimônio do nosso país.

O que mais desejo é que os mageenses possam ter orgulho de seu município, da nossa rica história, do nosso lugar. Quando desvalorizamos a nossa casa, os primeiros prejudicados somos nós.
Carlito Lopes de Oliveira Junior

 

__________ENTREVISTA__________

 

Flávia Ferreira: Como surgiu a ideia de criar conteúdo no Instagram?
Carlito Lopes de Oliveira Junior: Tudo começou em abril de 2020. Meus amigos sempre diziam que eu deveria levar um pouco das minhas pesquisas de cerca de seis anos para as redes sociais. Logo, aproveitei o período do auge da pandemia (Covid-19), onde todos estavam orientados a permanecerem em casa e organizei o perfil, publicando algumas pesquisas já realizadas e fazendo outras ao longo desses anos.

FF:  O História de Magé é uma página focada em contar um pouco da história de Magé para o grande público. Conte um pouco sobre o processo de produção de conteúdo e sobre como seleciona as pautas?
CL: Antes de mais nada é estabelecido uma agenda editorial. Às vezes, publicamos pesquisas soltas sobre os diversos distritos do município. Outras vezes, estabelecemos um tema ou um recorte histórico e fazemos uma série de publicações em cima da temática proposta. Um desses recortes e que o pessoal gosta muito é sobre a história da extinta Vila de Estrela. Como ainda há bastante conteúdo sobre a mesma que poucos conhecem, ainda há muito por avançar e informar ao povo mageense.

Carlito e Gabrielli

Minha esposa (Gabrielli Gomes) é formada em administração, conhece muito sobre design e ajuda na organização do projeto e nas artes, no briefing, entre outras coisas. Toda essa parte mais artística é com ela.

FF: O que é mais difícil nesse processo de busca de conteúdo?

CL: Com a vida familiar e a vida profissional, o que é mais difícil é, sem sombra de dúvidas, o tempo, bem mais valioso de nossos tempos, sem sombra de dúvidas. As redes sociais exigem muito tempo para manter o engajamento e a entrega do conteúdo para os seguidores. Se ficamos algum tempo sem aparecer nos stories, a entrega do conteúdo despenca.

FF: Você acredita que trabalhos como o que realiza ajudam a mudar anos de estigmas que Magé sofreu nas últimas décadas?
CL: Recebemos muitas mensagens dos nossos seguidores falando sobre um momento histórico ou outro do município que eles não conheciam. Quando as pessoas começam a tomar consciência da riqueza histórica e da sua importância para a história do Brasil, as barreiras criadas vão caindo, pouco a pouco. O povo Mageense dizia que não há nada por fazer em Magé. Eu respondo: há muito o que fazer sim! Desde as belas cachoeiras às igrejas centenárias.


FF: É verdade que Magé já foi um dos maiores e mais importantes municípios do Rio de Janeiro?
CL: Magé foi o segundo núcleo populacional no recôncavo da Guanabara, após do Rio de Janeiro. Além disso, as terras das freguesias que hoje formam o município se estendiam por territórios onde hoje compreendem parte de Duque de Caxias, Petrópolis, Teresópolis, Guapimirim e o próprio Rio de Janeiro, já que a ilha de Paquetá foi por séculos terras mageenses.

FF: O que você aprendeu ao longo desse processo de produção de conteúdo?
CL: O maior aprendizado foi, sem sombra de dúvidas, transformar as pesquisas, normalmente feitas numa linguagem mais técnica, mais acadêmica, para um texto mais fluído, gostoso de ler. Confesso que no início foi uma das dificuldades trazer para uma linguagem mais própria das redes sociais. Ainda há muito por melhorar, mas esforço não falta.


FF: O que você espera da evolução do município com a publicidade positiva das páginas como a sua?
CL: O que mais desejo é que os mageenses possam ter orgulho de seu município, da nossa rica história, do nosso lugar. Quando desvalorizamos a nossa casa, os primeiros prejudicados somos nós. Se quem vive aqui não ama, por que os de fora deverão amar? Aliás, só amamos aquilo que conhecemos, portanto divulgo a história de Magé para que as pessoas possam conhecer e amar.

 

Quando as pessoas começam a tomar consciência da riqueza histórica e da sua importância para a história do Brasil, as barreiras criadas vão caindo, pouco a pouco.
Carlito Lopes de Oliveira Junior

 

FF: O História de Magé é um projeto paralelo, então me conte um pouco sobre a sua vida para além da página.
CL: Quando comecei a pesquisar a história de Magé tive que ter uma decisão que mudaria toda a minha vida. Abandonei a área de tecnologia da informação, que sou formado, para cursar História. A vida profissional logo deu um giro de 360 graus. Além de cursar História e levar também para a comunidade acadêmica a grandeza da história de Magé, hoje sustento a minha família trabalhando como vendedor de livros na Editora Vozes.

O trabalho no comércio exige muito tempo nosso, então de vez em quando dou uma pausa nas pesquisas para me manter mais focado no trabalho. Mesmo assim, não desanimo e continuo a minha missão, que é fazer de Magé conhecida e amada.

Muito obrigado pela oportunidade e pela honra dessa entrevista. Seu trabalho é maravilhoso e pode ter certeza que aprendo muito com você.


Fonte: Inepac, Iphan, Diario do Rio, Prefeitura de Magé

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