domingo, maio 12, 2024

Ralph Guichard: Venceram a desinformação e a seletividade

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Rio, 21 de janeiro de 2022. Nessa data, venceram a desinformação, a seletividade e, por que não, a hipocrisia. O adiamento do Carnaval para abril representa uma tragédia para os profissionais das escolas de samba e toda a cadeia produtiva que gira ao redor – ou melhor, girava, até 2020.

Sim, existem profissionais do Carnaval. E não são vagabundos, aproveitadores ou bicheiros, como ainda circula por aí na mente de pessoas mal informadas ou preconceituosas. São pessoas humildes, trabalhadoras, que atuam durante 365 dias do ano de forma honesta para alimentar suas famílias. Pessoas essas que foram forçadas a parar durante quase 1 ano e meio, quanto o setor foi praticamente o único a fechar as portas e aguardar, respeitando o isolamento forçado. Barracões e quadras só foram abertas para realizar o social, produzindo itens de proteção e doando cestas básicas para suas comunidades, desamparadas pelo poder público.

Cabe deixar bem claro que o mundo do samba não é negacionista. Passa longe disso. Quando realmente não houve condição de desfilar, não houve um único rufar de bateria no Sambódromo. Se não houvesse de novo, não haveria discussão. Acontece que o sambista, que tanto sofreu, fez a sua parte. Ouviu os especialistas, médicos, autoridades e foi em peso se vacinar. Uma, duas, três doses. Quadras abertas para o SUS e campanhas para aceitar a ciência. Agora, aqueles em que acreditávamos e apoiávamos viram as costas, gritam de maneira inconsequente e mentirosa que a culpa da covid é do Carnaval e que não vale a pena “arriscar vidas por diversão e pegação”. Os “protocolos” e “passaportes vacinais”, pra eles, só funcionam naquilo que lhes convêm.

Desfile de escola de samba não é algazarra. Enquanto a cidade funciona a pleno vapor, sem qualquer restrição, a Sapucaí paga o pato. Igrejas e cultos lotados. Comícios pegando fogo com as prévias para as eleições. Estádios de futebol prontos para os estaduais e a Libertadores, com jogos que prometem lotar, nos mesmos dias em que aconteceriam os desfiles.

Cabe contrastar mais uma vez a boa redação e repetir conteúdo, para ser claro, desenhar e evitar dúvidas: ninguém está sendo negacionista. Se chegasse o momento e realmente não tivesse condição, com casos altos de covid e, principalmente vacinados sendo internados ou morrendo, seríamos os primeiros a não querer desfilar. Mas, não é isso. Muito longe disso. A maioria esmagadora de casos graves é de pessoas sem o ciclo de vacinação completa. Faltam, ou melhor, faltavam, 45 (quarenta e cinco!) dias para o Carnaval, quando o cenário já pode estar bem diferente.

Enquanto isso, vida normal na sociedade. Tudo pode, contanto que não envolva samba ou cultura popular. Shoppings lotados, shows sertanejos, festinhas particulares, boates entupidas e praias com aglomeração? Podem.

Assim, vai se desenhando um cenário tenebroso, com efeito semelhante ao Réveillon, quando os shows foram cancelados, as pessoas continuaram fazendo suas festas, aglomerando e os casos explodiram. Em fevereiro, com feriado confirmado e sem desfiles, acontecerá o mesmo. Todo mundo curtindo, fora de casa, e tendência a aumentar tudo de novo, dando palco aos “surfistas de popularidade” para novamente botar uma melancia no pescoço e gritar: “tem que adiar o Carnaval!”. O único lugar que estará vazio, de novo? A Marquês de Sapucaí.

Que, ao final de tudo isso, fique bem claro de que lado cada um esteve. O brasileiro pode ter memória curta, mas os trabalhadores do Carnaval, aqueles que vão, mais uma vez, sofrer na pele, não esquecerão.

E o samba, que agoniza, fica cada vez mais perto de morrer.

Ralph Guichard é jornalista

Post original: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10219900481972542&id=1536140112

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