Você apareceu em meus sonhos,
Nessa realidade que insisto em criar,
E que alimento com as fagulhas explosivas
De todo o meu amor,
Para te convencer a ficar.
Ainda era dia,
E o tempo que passava era curto.
Quem diria que se pode sonhar,
Diante de tantos turbilhões palpáveis?
Mas você estava lá,
E era a mais verídica vivência,
O bálsamo fulgente que queria experimentar.
Te juro, te vi, vivi, te toquei de verdade.
Senti tudo em minha pele,
E não sei se vagava pela minha consciência,
Criando memórias sensoriais imponentes,
Ou se você realmente existia,
Numa dimensão além do concreto.
Você sorria, e não era pouco,
Sorria e ria, e voltava a sorrir.
Me olhava e me abraçava,
Como alguém que após tanto navegar
Encontra, finalmente, um cais.
E você se enroscava em mim,
E teus braços eram como aquela âncora,
Que afunda na terra, corpulenta,
Para impedir que o barco vagueie,
Novamente, sem rumo.
Lembro que abri os olhos, vagarosamente,
Em meio a esse desejo, alucinante,
De paralisar cruelmente o momento.
Forcei minha mente a me levar de volta,
Puxei o espírito para longe do corpo,
Mas a claridade que penetrava minha íris
Era a sentença de que o instante acabava.
Algumas horas passaram,
Desde que encostei minhas mãos,
Trêmulas, em teu rosto.
O dia seguiu comumente,
O factual me oprimiu novamente,
Mas ainda estou aqui, te escrevendo,
Contando essa história eloquente,
Que concebe em mim a vida.
Sabe? Eu passeio livremente por ti,
E esse é um trajeto incansável,
Absolutamente amável e amado
Pelo meu ser em congruência de almas,
Alma minha, alma tua, manifestação sideral.
Sei que te faço real, te quero real,
E por isso te clamo, te vejo, te sonho.