quarta-feira, maio 8, 2024

Parque Arqueológico São João Marcos, um local onde as memórias não são esquecidas

Blogs e ColunasRuínas do RioParque Arqueológico São João Marcos, um local onde as memórias não são esquecidas

O Parque Arqueológico de São João Marcos é um dos lugares mais incríveis e ainda pouco conhecidos no Rio de Janeiro. O parque foi fundado nas terras da antiga São João Marcos e hoje guarda as lembranças, histórias e restos do que um dia foi uma das cidades mais prósperas do estado.

São João Marcos foi um município do Rio de Janeiro, localizado próximo a cidade de Rio Claro, que fica no médio paraíba, que também tem as cidades de Barra Mansa, Volta Redonda, Barra do Piraí e tantas outras.


A história de São João Marcos se inicia em 1739 com a construção de uma capela dedicada ao santo pelo fazendeiro João Machado Pereira. Em volta do singelo templo cresceu um povoado privilegiado pelas condições naturais para o cultivo do café, fruto que nos 200 anos seguintes projetaria a cidade como uma das mais ricas do Brasil Colônia e Imperial. São João Marcos cresceu e se desenvolveu por meio de mãos negras na produção do ‘ouro verde’.


Graças ao café, a cidade chegou a ter mais de 18 mil habitantes -sendo oito mil escravizados, a maioria pertencente ao maior cafeicultor da região, Comendador Joaquim José de Souza Breves -, com a sua principal vila tinha dez ruas e dez travessas, onde havia: prefeitura, câmara municipal, cadeia, duas escolas públicas, agência de correios, hospital, duas igrejas (Matriz e Nossa Senhora do Rosário), dois cemitérios, teatro (São João Marcos, mais tarde também conhecido como Tibiriçá), estação meteorológica, time de futebol (Marcossense F.C.), lojas de comércio e dois clubes (Marquense, frequentado pela elite; e o Prazer das Morenas, mais popular), com suas respectivas bandas de música.
No entanto, com a crise do café e o desenvolvimento dos novos meios de transporte, São João Marcos foi perdendo seu poder. Para tentar se adaptar aos novos tempos, a população e autoridade local tentaram se adaptar ao “novo mundo” que se abria com a chegada a construção da Estrada de Ferro entre Barra Mansa e Angra dos Reis, o que era visto como uma esperança do retorno dos tempos prósperos para a cidade.


Mas o progresso também anunciava o fim de São João Marcos, pelo menos da forma como era conhecida. Com o avanço da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e o constante aumento populacional, buscava-se uma forma de suprir a necessidade de recursos para transformar o Rio em uma metrópole moderna. Para isso, era necessário conseguir energia elétrica e água potável encanada, por exemplo. São João Marcos estava no caminho desta conquista.


Para conseguir atender a demanda, era necessário criar uma represa, a de Ribeirão das Lajes, no alto da Serra das Araras, mas para isso 97 grandes fazendas iriam ficar debaixo d’água, as maiores propriedades da área rural de São João Marcos e assim foi feito. As terras foram submersas e em paralelo um surto de malária se alastrou pela região, trazendo morte e doença.
Este episódio não foi o bastante, em 1939, ano em que São João Marcos celebrava seus 200 anos de criação, para o qual foi realizada uma grande festa na cidade, o governo decidiu que era a hora de aumentar a capacidade da represa, o que anunciava o fim da cidade. Algumas tentativas foram feitas para barrar este projeto, inclusive SPHAN, atual Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), com tombamento da cidade, mas não foi suficiente.


Em 1940, apenas um ano depois do tombamento e São João Marcos, Getúlio Vargas decretou o destombamento da cidade para possibilitar a expansão do reservatório de Ribeirão das Lajes para a construção da Usina de Fontes Nova, até hoje em funcionamento. Com isso, as terras foram compradas e o processo de demolição iniciado. Enquanto São João Marcos era demolida e o Rio celebrava o avanço e a evolução.


A matriz foi o último prédio da cidade. Segundo o guia do parque, os moradores se recusaram a destruir a construção, pois a população acreditava que destruir uma igreja seria um pecado, então a mesmo foi feita por uma empresa. A destruição total da cidade foi necessária para que os moradores não retornassem para suas casas em tempo de seca.


Em 1990, a Ponte Bela e as ruínas do centro histórico de São João Marcos foram tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e, em 2008, toda essa história começou a ser redescoberta e valorizada com a construção do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, inaugurado em 2011.
A memória da cidade é mantida pelo Parque Arqueológico de São João Marcos com a finalidade de preservar sua memória. O trabalho de reconstrução do local envolveu muitas horas de pesquisa e entrevista com os moradores vivos e o uso de técnicas modernas para garantir a segurança dos visitantes.


Hoje, duas grandes construções se destacam no parque, a Igreja da Matriz e a Casa do Capitão -Mor. Nesta última, durante o processo de resgate, foi identificada uma grande quantidade de molduras em argamassa; pedras trabalhadas em cantaria na forma de arco e bases de colunas, assim como um número expressivo de fragmentos de ladrilhos, evidências que remetem precisamente à sua distribuição na fachada. Também foi possível constatar que algumas partes das paredes e colunas internas do casarão se encontravam preservadas, conservando todo o emboço e pintura antigos.


São João Marcos é um local impossível de traduzir em palavras. Ela é um ensinamento da resiliência e da importância do passado.

Referências: Parque Arqueológico São João Marcos

Para se emocionar e conhecer a história dos moradores:


Seu Dedeco:

Check out our other content

Check out other tags:

Most Popular Articles