sábado, maio 18, 2024

O vírus que mata, por Yana Ribas

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Quando há presença de um vírus mortal no dia a dia da população mundial, dá-se o nome pandemia. O Brasil vive há um ano na pandemia de um coronavírus.

É conhecido o fato de que a pandemia não está sendo administrada de forma a prevenir o máximo de vidas possível, já que o próprio governante se negou durante muito tempo a acreditar que máscara, por exemplo, poderia prevenir a contaminação (afinal, o vírus é transmitido no ar e entra no organismo humano pelas vias respiratórias). Nosso governo se nega a seguir a Ciência e tenta remediar a população pelas próprias mãos. Em plenos 2020/2021.

Paralelo ao coronavírus, vivemos uma enorme crise política e, segundo especialistas do assunto, a maior crise sanitária de todos os tempos.
Ou seja, nem a dengue impactou tanto o sistema hospitalar brasileiro.

E quais são as medidas? Dizer à população que vá trabalhar para não morrer de fome. Essa é a ordem presidencial na pandemia, desde o ano passado. E foi por ela que o primeiro Ministro da Saúde não aguentou a pressão e foi retirado do cargo. Ele, que se dava ao trabalho de ir todos os dias na maior rede de mídia brasileira, que alcança até as mais afastadas aldeias indígenas, dizer para que as pessoas ficassem em casa e só saíssem se fosse estritamente necessário.

Trocou o Ministro da Saúde em plena pandemia. E não foi só uma vez.
Na crise política que se instaurou, saiu também o Ministro da Justiça, que tanto apoiou a candidatura do presidente. Esse não aguentou a sobreposição do poder Executivo nas mãos do atual governante, aquela interferência toda que muitos já previam que aconteceria, mas ninguém imaginava que seria numa pandemia.

Diante desse contexto, hoje, o Brasil, que já foi referência mundial em vacinação, está na corrida contra o tempo na aquisição de vacinas e representando perigo mundial de contaminação de um vírus que teve seu primeiro diagnóstico por aqui há pouco mais de um ano.

Havia oportunidade de negociação antes? Havia. A internet está aí para nos informar das verdades e, principalmente, das mentiras (incrível a velocidade de propagação das famosas fakenews).
Mas não foram negociadas.

Abaixo, um gráfico que eu fiz com base em dados de 3 estados brasileiros divulgados no site Brasil IO, uma plataforma muito legal, alimentada por voluntários com dados provenientes das Secretarias Estaduais de Saúde. A semana 1 inicia em 26/04/2020 e a semana 35 é a última semana do ano de 2020.

Gráfico: Contaminações semanais COVID-19 (26/04/2020-31/12/2020) – autoria própria – fonte de dados: Home – Brasil.IO

É nítida a tendência de crescimento das contaminações nas últimas semanas do ano. Logo quando estavam sendo negociadas as vacinas… E nada. Alguns governadores avisaram que o sistema de saúde estava à beira do colapso… As doenças corriqueiras se somando com as infecções exponenciais do novo vírus e de suas mutações… Não há mais grupos de risco, todos nós somos os riscos.

Mais de 43 mil casos em 24h, deu nos jornais. Mais de 227 mil vacinados. A aplicação da primeira dose não chega a 10% das populações locais. Os jornalistas faltam ajoelhar e pedir pelo amor de Deus para as pessoas acreditarem na doença.

Ontem, depois de 7 dias sem sair de casa (voltando ao ano passado, inacreditável), fui fazer a atividade física individual ao ar livre de sábado. Normalmente, eu decido na rua onde vai ser a meta de chegada e, no circuito que montei, o final era o Arpoador.

Fui lá em cima da pedra ver se absorvia aqueles ensinamentos de mestres japoneses dos filmes que a gente vê, com aquela água toda saindo de um corpo extremamente quente pelo sol de 14h do início de outono do Rio de Janeiro.

Havia pessoas na água do mar, na areia, policiais militares sem máscara, grupos de pessoas, carros de recolhimento com aqueles semblantes de Exterminador do Futuro (também sem máscaras) no carona portando seus fuzis… Muitos sem máscara, sem bom senso, sem noção e sem disciplina.
Eu acho que existem dois problemas muito grandes que não tem solução em conjunto aqui: um é a falta de “auto” disciplina, a de cumprir com os deveres honestamente para garantir os direitos e a outra é a famosa falta de educação. E, o pior, é que o mau exemplo vem de cima.

Essa semana eu me senti profundamente triste todos os dias, e foi tão intenso o que estava se passando, que aconteceram aqueles acidentes que só acontecem quando estamos em dias não bons.

Infelizmente, já perdi as contas das pessoas próximas que passaram (ou, lamentavelmente não) pela COVID. “Ah, mas tinha comorbidade… Ah, mas tinha idade… Ah…” Ah mas nada! Há quem esteja agindo como se vivêssemos num mundo funerário. É de se espantar os comentários não empáticos.

E ainda tem toda a vida que deve continuar, apesar da COVID.

Essa é minha primeira crônica para a Gazeta e não podia deixar de ser para fazer um apelo, nesse momento tão delicado, de que cuidemos da nossa saúde e pensemos no próximo.

Não é um texto direcionado, insulto ou propaganda de emissora, mas sim, um conjunto de pensamentos de uma pessoa que ainda acredita na humanidade, apesar da própria humanidade.

A COVID-19 existe e mata. Não é só uma gripezinha.

Yana Ferreira Ribas é engenheira de produção, filha da PUC-Rio, ex-aluna do Pedro II, especialista em Gestão e Gerenciamento de Projetos pela UFRJ

Texto escrito no dia 28 de Março

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