quinta-feira, maio 9, 2024

A história do Cais do Valongo

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Hoje é comemorado o dia da Consciência Negra, ou o dia de Zumbi dos Palmares. E no quadro de Histórias do Rio, vamos falar sobre um ponto da cidade, que guarda em sua história, as marcas da escravidão.

O Cais do Valongo é localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, entre as atuais ruas Coelho e Castro e Sacadura Cabral.

Construído em 1811, foi local de desembarque e comércio de escravizados africanos até 1831, com a proibição do tráfico transatlântico de escravos. Durante os vinte anos de sua operação, entre 500 mil e um milhão de escravizados desembarcaram no cais do Valongo. Até meados da década de 1770, os escravizados desembarcavam na Praia do Peixe, atual Praça XV, e eram negociados na Rua Direita (hoje Rua 1º de Março), no centro do Rio de Janeiro, à vista de todos.

Em 1774, uma nova legislação estabeleceu a transferência desse mercado para a região do Valongo, por iniciativa do segundo Marquês de Lavradio, Dom Luís de Almeida Portugal Soares de Alarcão d’Eça e Melo Silva Mascarenhas, vice-rei do Brasil, alarmado com “o terrível costume de tão logo os pretos desembarcarem no porto vindos da costa africana, entrarem na cidade através das principais vias públicas, não apenas carregados de inúmeras doenças, mas nus”.

O mercado foi transferido, mas ainda não havia o ancoradouro, e a alternativa encontrada foi desembarcar os escravizados na alfândega e imediatamente enviá-los de bote ao Valongo, de onde saltariam diretamente na praia.

Em 1779, o comércio de escravizados finalmente se estabeleceu na área do Valongo, onde teve seu auge entre 1808, com a chegada da família real portuguesa,

A partir de 1808 o tráfico quase dobra, acompanhando o crescimento da cidade que, após a transferência da corte portuguesa para o Brasil, passa de 15 mil para 30 mil habitantes.

Construção em 1811

Por isso em 1811 o cais foi construído, passando o desembarque a ser feito diretamente no Valongo. De 1811 a 1831, entre 500 mil e um milhão de escravos desembarcaram por ali.

No fim dos anos 1820, o tráfico de escravizados para o Brasil vive o seu apogeu. O Rio de Janeiro era então um importante entreposto comercial de escravizados, e o Valongo era a principal porta de entrada dos negros vindos de Angola, da África Oriental e Centro-Ocidental – enquanto no Maranhão e na Bahia chegavam navios vindos da Guiné e da África Ocidental, respectivamente.

Proibição

Em 1831, o tráfico transatlântico de escravos foi proibido, por pressão da Inglaterra, e o Valongo foi fechado. Os traficantes passaram então a fazer o desembarque em portos clandestinos.

Em 1843, foi feito um aterro de 60 centímetros de espessura sobre o cais do Valongo para a construção de um novo ancoradouro, para o desembarque da princesa Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, que viria a se casar com o imperador D. Pedro II. O atracadouro passou então a chamar-se Cais da Imperatriz.

Entre 1850 e 1920, a área em torno do antigo cais tornou-se um espaço ocupado por negros escravizados ou libertos de diversas nações – área que Heitor dos Prazeres chamou de Pequena África

O Cais da Imperatriz também foi enterrado em 1904, durante a reforma urbana empreendida pelo então prefeito Pereira Passos, que modificou o Centro e as principais vias da cidade.

Em 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro, foram descobertos os dois ancoradouros – Valongo e Imperatriz -, um sobre o outro, e, junto a eles, uma grande quantidade de amuletos e objetos de culto originários do Congo, de Angola e Moçambique.

O IPHAN e a prefeitura do Rio de Janeiro elaboraram um dossiê para a candidatura do sítio arqueológico do cais ao título de Patrimônio da Humanidade da Unesco. O sítio foi declarado patrimônio da humanidade na 41ª sessão do comitê da Unesco, em 2017.

Rio de Janeiro – O Cais do Valongo, principal porto de entrada de escravos nas Américas é reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Fernando Frazão/Agência Brasil).

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