Muitos pontos de vista em comum em relação às políticas públicas e à atuação das religiões e do poder público no amparo aos desabrigados e aos que têm fome. Assim foi a conversa de uma hora entre o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, e as candidatas da coligação “É a vez do povo” a prefeita, Benedita da Silva, e a vice, Enfermeira Rejane.
Benedita entregou a Dom Orani, na sede da Arquidiocese, um resumo de suas propostas para o combate à fome, o abrigamento de moradores de rua e a geração de empregos na cidade.
A defesa do Estado Laico não controlado por nenhuma religião, também deu o tom do encontro de Dom Orani com Benedita, que é evangélica, e Rejane, católica. Laico, definiu Dom Orani, “não significa ateu, mas aberto ao diálogo com todas as religiões”.
Benedita reconheceu o trabalho da Igreja Católica na “redução do flagelo dos desabrigados” e a importância do Banco da Providência na promoção das pessoas, entre outras iniciativas da Igreja.
Benedita promete banco popular
A criação de um banco popular para ajudar quem precisa montar ou ampliar um negócio na comunidade foi apresentada por Benedita como um dos pontos fortes de seu programa, assim como o investimento na geração de empregos e criação de moradias ao longo da Avenida Brasil, nas zonas Norte e Oeste.
Todos concordaram também com a necessidade de agilização dos processos para dar o *título de propriedade* a quem mora nas favelas.
“A pessoa está ali, construiu sua vida, não vai sair, todos sabem. Não faz sentido a burocracia impedir que a família receba o título de propriedade”, afirmou Rejane.
“A pessoa precisa ter um endereço”, defendeu Dom Orani.
Benedita lembrou das lutas das quais participou contra remoções de favela. Ela mesmo nasceu em uma comunidade que acabou sendo removida, a Praia do Pinto, entre Leblon e Lagoa.
“O Vidigal ficou muito tempo ameaçado. Eu andava no meio do mato para ir até lá. A pressão para remover os moradores só diminuiu quando o Papa (João Paulo II) foi lá”, lembrou a candidata, que citou seu projeto *Minha casa na favela*.
*Centenário de Dom Eugênio Sales*
Benedita homenageou o centenário do nascimento de Dom Eugênio Sales, um dos antecessores de Dom Orani que mais marcaram a história da Arquidiocese, morto em 2012. Dom Orani leu atentamente o documento com o resumo das propostas contra a fome e comparou a proposta dos PF’s (pratos feitos) para pessoas carentes à distribuição de vales-refeição pela Igreja durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio, em 2013.
Os dois concordaram com a necessidade de albergues em condições mais dignas para abrigar a população de rua, outro ponto do programa de Benedita. Benedita falou ainda do *programa Renda Carioca*, um complemento de R$ 100 por mês para 250 mil famílias carentes.
Dom Orani perguntou mais detalhes sobre o programa emergencial de criação de 100 mil empregos, e Benedita fez uma exposição sobre diversas medidas, como mutirões remunerados para limpeza urbana e reforma de residências nas favelas, garis comunitários e financiamento de cooperativas.
Ela também explicou que a Prefeitura precisa pressionar a Cedae, que é estadual, a cumprir sua obrigação de coletar e tratar o esgoto do município.
Outros dois programas abordados foram o *Viva Melhor*, de articulação das secretarias para levar serviços públicos às comunidades, e o de *Alimentação Escolar*, nos moldes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), baseado na compra de produtos da agricultura familiar.
Boa parte da conversa foi dedicada à importância da *educação* como principal instrumento para a redução da pobreza. O bispo manifestou preocupação com o fechamento de escolas católicas em função da crise, e Benedita falou sobre a importância de as escolas terem psicólogos e assistentes sociais, além da valorização do professor e da melhoria das condições das escolas para o retorno seguro às aulas em função da pandemia.
“Se for eleita, a senhora terá muito trabalho pela frente”, afirmou o cardeal.
“Quando a gente chega aos 78 anos, Dom Orani, a gente se acostuma a trabalhar. A cidade precisa de alguém que conheça a verdadeira realidade do povo. Não adianta um prefeito que faz maquiagem na cidade se as pessoas ficam apodrecendo de tristeza e começam a desistir de tudo. A fé sem a obra é morta”, disse Benedita, citando um ensinamento bíblico (Thiago 2:14-26).
*Agenda no SAARA*
Após o encontro, Benedita e Rejane seguiram para uma visita aos comerciantes e ambulantes da Saara (Sociedade dos Amigos Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega). A candidata a prefeita prometeu valorizar a região como um grande shopping a céu aberto, com obras urbanísticas e mais ordenamento.