Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro
“Nesta quarentena descobri que minha casa não serve pra morar”
Paulo Vieira, humorista
Há um esforço coletivo para garantir que crianças, adolescentes e adultos possam ter acesso à educação neste período de distanciamento social. Profissionais da educação estão envolvidos em garantir que seus estudantes possam ter o melhor do ensino, dentro das condições que se apresentam em nossa realidade. Assim, desde que essa relação começou a ser estabelecida de forma remota, a tecnologia tem contribuído para que diversas adaptações no conteúdo, no processo de ensino e na avaliação da aprendizagem conseguiam alcançar níveis adequados.
Ainda, retiremos o deslocamento para chegarmos à escola ou à universidade e o bom tempo que se ganha pode ser transformado em mais horas para estudo. Porém há algo que tem incomodado: a necessidade de criar na casa um ambiente confortável, silencioso, adequado mesmo para que as pessoas possam se sentir à vontade para ouvir, ler e debater durante o horário em que o professor, de um lado, se esforça para motivar e ensinar, dedicando-se, mesmo que do outro exista um escuro e um silêncio que nem sempre podem significar que seus estudantes estão realmente prestando a atenção.
Aliás, esse escuro e silêncio têm a capacidade de mostrar e dizer muito: que a entrada na aula virtual esteja se transformando em uma forma simples de marcar presença, sem o compartilhamento da imagem da casa ou mesmo dos seus barulhos corriqueiros. A casa, esse ambiente que estamos construindo há milênios como civilização, e que deveria ser um local de abrigo, felicidade e segurança, nem sempre – infelizmente –, é o melhor local para atividades simples, e entre elas o ato de estudar.
Parece inclusive que “no conforto de casa” virou realmente um luxo que insiste em ser para poucos no Brasil. Claro que o aparato tecnológico como computadores, tablets, smartphones, e, também, uma conexão de internet satisfatória importam. Mas o conforto de ter um canto na casa em que exista um espaço adequado, com boa iluminação, com cadeiras e mesas tem surpreendido quem cotidianamente observa a falta desse mínimo até mesmo em residências mais abastadas.
Mais do que expor essas deficiências, talvez seja a hora de pensarmos a necessidade de construímos ambientes em que o estudo, a investigação e a curiosidade sejam mais do que palavras: sejam espaços, mesmo que minúsculos onde quem precisa e quer estudar, consiga. Mesmo que dentro da sua própria casa. Mesmo que no “conforto” do seu lar.
Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro é docente do Mestrado Profissional em Gestão do Trabalho e coordenador do Curso de Educação Física da Universidade Santa Úrsula