quinta-feira, maio 9, 2024

Millena Reis: Cultura do estupro e o aborto legal

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Ao longo desses últimos dias, os assuntos “estupro” e “aborto” tem estado gritantemente em voga. Não acontece coincidentemente, as mulheres cada vez mais estão tendo acesso a informação e não mais normalizando posições socialmente inseridas no senso comum.

Podemos confortar nossos corações com mentiras diárias que “o ano de 2020 estão todos fora de si” como dizem os ignorantes (ignorantes no sentido etimológico da palavra, com referência à falta de conhecimento), ou “são as pragas, Jesus está voltando” para certo grupo de religiosos, até mesmo “mas e se ela quis?” dos machistas… a dura verdade que assola nos corações e que indivíduo algum nesta sociedade aceita, é que toda essa desgraça SEMPRE aconteceu.

Mulheres, crianças, idosas… sempre estiveram inseridas em ambiente de violência, sendo estupradas, humilhadas, silenciadas, doutrinadas em correntes que advém de anos passados inclusive, por sinal muito pior que os dias atuais.
Como já dizia meu amigo íntimo (como gosto de pensar) William Shakespeare, em seu livro ‘A Tempestade’, “O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui”.

A cultura do estupro nada mais é que a normalização da objetificação da mulher. Está tão enraizado em nossa sociedade, que os meninos são criados para serem fortes e corajosos e as meninas para serem delicadas e perfeitas.

Está em todo lugar, como em comercias com mulheres e seus corpos expostos, nas músicas, posando com homens em fotos como se fossem objetos apenas com o objetivo de compor uma foto “ostentação”. A cultura do estupro também está em normalizar aquele dia que você não estava a fim de ter relações sexuais, mas se não fizesse, o seu namorado/noivo/marido queria muito! E você mulher, para não o chatear ou irritá-lo, se submeteu apenas de corpo presente.

Os abusadores e estupradores dificilmente são desconhecidos, que você mulher nunca se encontrou na vida. Na arrasadora parte das vezes é seu marido, seu tio, primo, irmão, seu pai.

Mas denunciar ou até mesmo falar sobre isso acabaria com a sua família, não é mesmo? Ninguém está preparado para sofrer esse “incômodo”, é mais tranquilizador passar o pano por cima da sujeira e todos seguirem em frente.

Mulher, o seu lugar é onde você quiser.

Não há necessidade de se submeter a situações constrangedoras, que te humilham, que te abusam.

Existe redes de apoio com diversas especialidades que vão te ajudar nesse momento tão difícil.

E se caso, você mulher, for submetida a estupro e vier a engravidar, hoje estou aqui para te dizer os seus direitos.

Sinta-se confortável a fazer o que for da sua vontade. A sua.

Não de terceiros. Terceiros não irão assumir consequências de suas decisões.

Você sabe como funciona o aborto legal?

Aborto é o processo de interrupção da gestação de fetos de até 20 ou 22 semanas (em torno de 4 a 5 meses), após esse período se chama antecipação do parto. Ele pode ser espontâneo (natural) ou induzido (provocado).

O aborto no Brasil não é legalizado, salvo situações excepcionais, como:

1. gravidez de risco à vida da gestante;
2. gravidez resultante de violência sexual;
3. anencefalia fetal – conforme o Supremo Tribunal Federal decidiu em 2012.

A realização do aborto não depende de decisão judicial, porém deverá ser analisado nos hospitais de seu município se há esse serviço, caso não, você deverá ser encaminhada, inclusive com fornecimento de transporte, ao serviço de referência mais próximo.

Com isso, você já possui informações suficientes para entender que você é a única responsável sobre o que irá fazer.
Questionamentos de terceiros, é apenas, unicamente, questionamentos de terceiros.
Suas decisões são suas e ninguém poderá tirar isso de ti.
Segura as pontas que você dá conta, mulher.
Isso vale para todas as suas questões, sobre abortar ou não abortar, denunciar ou não
denunciar, ser feliz ou não, ser livre ou não ser.
Só depende de ti e mais ninguém.

Com muito carinho,
Millena.

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