Nós
Linda criança translúcida,
Serena, abandonada ao relento
Por mim e por você,
Quando no topo da nossa ignorância,
Pedimos àqueles que estão acima
Um tanto quanto de justiça,
Enquanto a nossa injustiça
Já não nos cabe à mão.
Pobre criança translúcida,
No limiar de seu abandono,
Saberá que é mesmo a dona
Do seu pesar aos olhos ocultos
Daqueles que enxergam e nada veem,
Dos passos que dão sem mesmo pensar.
Linda criança translúcida,
Do seu sofrimento criará um alento
Para aquele que do seu fruto vier,
Tomado pela constância da vida
Em nos dar notícias
Daquilo que nós mesmos fizemos.
Pobre criança translúcida,
Chegará o dia em que saberá
Estar atenta a qualquer chamado,
Quando nós não mais a abandonarmos
Em meio as nossas frustrações
Com as nossas falhas e os nossos corações.