domingo, maio 19, 2024

Maracanã, minha eterna paixão, por Rodrigo Machado

RioMaracanã, minha eterna paixão, por Rodrigo Machado

Por Rodrigo Machado

O Maracanã, aquele que nos acostumamos a reconhecer como “Maior do Mundo”, teve fim em 5 de setembro de 2010, num melancólico Flamengo 0 x 0 Santos, pela 19ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Quase 35 mil torcedores assistiram aquela partida. Depois disso, praticamente três anos mais tarde, o Maraca reabriria diferente, moderno, mas menos charmoso. Saiu o Estádio e entrou a Arena. E, desde então, um buraco enorme se perpetuou no peito deste jornalista que vos escreve.

Minha relação com o Estádio Jornalista Mario Filho teve início na primeira metade dos anos 1990. Meu padrasto, rubro-negro de corpo e alma, me levou para assistir ao duelo decisivo do Brasileirão de 92, o empate em 2 a 2 com o Botafogo, que consagrou o Flamengo como campeão. Eu tinha apenas seis anos.

Minhas lembranças mais nítidas foram da tragédia pré-jogo, em que a arquibancada à esquerda das cabines de TV e Rádio desabou. O gol de falta do Júnior, pois estava no meio do Maraca, perto da divisa com a torcida alvinegra. E, por fim, do carnaval fora de época no Rio de Janeiro.

De lá para cá, consumi o Maracanã de maneira intensa. Em determinadas temporadas, ainda como torcedor, fui a praticamente todos os jogos do meu time. Até porque, o preço do ingresso era bem acessível, fato que, infelizmente, não ocorre mais.

Em 2004, na decisão da Copa do Brasil, morava na Califórnia – EUA. Vi o empate do Flamengo com o Santo André, no antigo Parque Antártica, pela Globo Internacional. Resolvi pegar o meu dinheiro, e vender algumas coisas, para vir ao Brasil. Na companhia do meu Tio-Avô, que possuía ingressos no setor das ´cadeiras cativas´, fui lá, confiante, sem temer o pequeno time do ABC paulista. O fim foi trágico, em todos os sentidos. Brigas, bombas, bala de borracha, spray de pimenta e muitas lágrimas no rosto. Pelo segundo ano consecutivo, o Mengo perdia a decisão (Em 2003, o Cruzeiro derrotou o Flamengo na grande final).

A volta por cima veio nove anos depois, em 2013, já como repórter.Estava no campo, cobrindo a final entre Flamengo e Atlético Paranaense, assim mesmo, sem a correção do nome para Athletico.

Como jornalista, já tinha visto o título brasileiro de 2009, mas não no gramado. E não era a Copa do Brasil. Em 2006, na conquista sobre o Vasco, na partida derradeira, não pude ir. Tinha uma entrevista de emprego.

Portanto, aquele seria o ano da minha redenção.

Lembro-me de várias coisas surreais daquele 27 de novembro de 2013. Entre elas, uma breve conversa com um dos meus ídolos na profissão, o saudoso Luciano do Valle, que nos deixaria cinco meses mais tarde. Já no finzinho do jogo, após o gol derradeiro do Hernane, o Brocador, fiquei abraçado a dois colegas, atrás do gol, com as mesmas lágrimas nos olhos de 2004, só que agora, obviamente, de alegria.

A CBF ainda fez a canalhice de não autorizar a entrada dos repórteres de rádio no campo para realizar as entrevistas com os jogadores. Ficamos restritos a um cercado nas duas extremidades do gramado.

Permanecemos ali por quase 20 minutos, após o apito final. Então, o jeito foi colocar o torcedor para falar sobre a emoção da conquista, o que de certa forma acabou sendo muito bacana também. Tinha gente do Acre, da Paraíba, de Rondônia, enfim, rendeu.

Depois disso, nos anos subsequentes, cobri uma Copa do Mundo – cuja final foi no Maracanã -, títulos do Vasco, do Botafogo, do próprio Flamengo, e, em especial, pelo menos para mim, o Brasileirão de 2019, conquistado pelo Clube da Gávea. Estive no gramado, junto aos atletas, dando a volta olímpica do sétimo título rubro-negro na história da competição.

O Maracanã, apesar dos pesares, sempre vai ser o principal palco do futebol nacional. E, evidentemente, um dos mais importantes do mundo. Qual outro estádio, ou arena, que seja, sediou duas finais de Copa do Mundo, além de uma abertura e um encerramento de Olimpíada? Fora decisão de Copa América, Libertadores, Recopa Sul-Americana, Campeonato Brasileiro…O fato é que se tudo correr bem, em dezembro de 2020 teremos mais um grande evento no ‘Setentão’: a finalíssima da 61ª edição da Copa Libertadores. E que um clube brasileiro esteja lá, de preferência um carioca.

Qualquer cidadão do mundo que visitar o Rio de Janeiro, e não conhecer o Maracanã, perderá metade da viagem. Se não temos mais a imponência, a suntuosidade, o esplendor de outrora, ao menos temos as histórias. E, cá para nós, não tem outro palco com tanta tradição do que o magnificente “Mário Filho”.

Rodrigo Machado é jornalista com passagens por BandNews, Lance, Jornal dos Sports e na Rádio Manchete como setorista do Flamengo.

Check out our other content

Check out other tags:

Most Popular Articles