terça-feira, maio 21, 2024

O Maracanã e suas histórias, por Julia Corson

RioO Maracanã e suas histórias, por Julia Corson

Por Julia Corson

O “mal” do jornalista é querer encontrar histórias em tudo quanto é canto. No caso do jornalista esportivo isso não é diferente. Inclusive, acredito fielmente que o bom jornalista esportivo é aquele que se atenta às histórias que acontecem não só enquanto a bola está rolando, mas em todo o seu redor. E o Maracanã é um prato cheio pra isso. Não só por ter sido palco de alguns jogos históricos. Isso todo mundo sabe.

Aliás, nem precisa ser jornalista pra saber! Me refiro às histórias que estão, digamos, subentendidas. Escondidas nas entrelinhas, no grito da torcida, nos olhares aflitos, na alegria de um gol. É a história do pai que vai ao jogo toda quarta-feira com o filho e deixa o estresse do lado de fora para poder dividir aqueles 90 minutos preciosos com quem mais ama.

É a história daquele jogador que viu sua mãe trabalhar em dois empregos só para poder sustentar o seu sonho e agora, toda vez que marca um gol, faz uma homenagem a ela. Ou daquele outro, que deu as costas pro tráfico para poder escolher o caminho certo e hoje entra em campo pela primeira vez vestindo a camisa do seu time do coração.

É a história da repórter que acompanha o Flamengo desde criança por causa do seu querido pai e que conseguiu uma entrevista exclusiva com o Gabigol depois de uma semifinal histórica da Libertadores.

É a história da Dona Lourdes, que trabalha limpando os camarotes e sempre dá um jeitinho de assistir um pedacinho do jogo do Flu. Ou do rapaz que sempre quis jogar bola profissionalmente e, mesmo sem conseguir, ainda tem a chance de pisar de chuteira no gramado do Maraca como gandula. Ele jura, inclusive, que algumas das suas bolas resultaram em passes, que por sua vez resultaram em gols memoráveis.

É a história do Gabriel e da Carol, que se conheceram na torcida Jovem Fla e ali, debaixo do bandeirão que homenageia o “rei” Zico, dividiram o seu primeiro beijo. Ou da Roberta e do Diogo, que brigaram a semana toda, mas não teve desavença que resistiu a um gol de virada do Vascão.

É a história do Seu Zé, que é sempre o primeiro a entrar no Maracanã, mesmo tendo cadeira cativa. Seu Zé é das antigas e, mesmo tendo uma visão privilegiada de todos os jogos, adora acompanhar a narração no rádio. Tá certo, Seu Zé! É a história da família de um jogador que saiu completamente sem voz depois de assistir, de camarote, o jogo dele de estréia pelo Botafogo.

É a história do jogador que, mesmo de muletas por conta de uma lesão, achou um cantinho na arquibancada para dar força pros colegas de time em um jogo importante. Ou do jogador que num dia tem seu nome atrelado a vaias e, no outro, a palmas. Futebol é assim. É história, é caixinha de surpresas.

Ninguém sabe o que pode acontecer durante um jogo, no gramado, na torcida, em casa. São 90 minutos onde vidas mudam.

Por ser repórter de campo há um pouco mais de um ano, eu tive o prazer de acompanhar todas essas histórias que contei aqui – e mais um monte que guardo comigo com muito carinho. Por isso amo futebol, por isso amo o jornalismo esportivo.

As histórias estão em todo lugar. Dentro e fora de campo. Parabéns, Maraca! Obrigada por esses 70 anos de histórias! Que venham mais 70!

Julia Corson é jornalista. Trabalhou na InterTV, afiliada da TV GLOBO e também é repórter da Conmebol.

Fotos: Delmiro Jr.

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