sábado, maio 18, 2024

Um setentão em plena forma, por Aline Bordalo

RioUm setentão em plena forma, por Aline Bordalo

Aline Bordalo, jornalista

Há sete décadas, um templo no Rio de Janeiro é palco de magias. No Maracanã, diversos artistas já tiveram seu momento de mágicos. Seja no futebol ou na música.

Mas quem diria que esta história de sucesso tem início com um capítulo tão triste. O estádio construído para a Copa de 50 ficou marcado por uma derrota histórica, que nem esses setenta anos foram capazes de apagar.

Não tem como começar a falar do Maraca sem citar o Maracanazzo. Aquele dia em que o estádio inteiro ficou em silêncio, por causa do gol do uruguaio Ghiggia, que arrancou a taça dos donos da casa. Seria o primeiro título mundial da seleção brasileira. Seria o principal acontecimento do nosso futebol. Não deu. Mas, para a sorte das futuras gerações, o Maracanã seguiu em frente.

Quanta responsabilidade falar sobre o aniversário do Maraca…não há como citar tudo de importante que aconteceu ali, mas vou tentar falar de acontecimentos que me marcaram, como torcedora apaixonada.

Impossível não lembrar da primeira vez diante de um Gigante. No meu caso, quase fui às lágrimas. Até hoje tenho aquela imagem na cabeça, de quando saí de um pequeno túnel que dava acesso às arquibancadas e me deparei com um espetáculo de grandeza e cores. Foi amor à primeira vista. Desde aquele dia decidi que a história da minha vida tinha que estar ligada ao Maraca. E a construí em cima deste desejo. Os deuses do Maracanã conspiraram a meu favor, e eu me tornei repórter de campo, aquela que acompanha o jogo do gramado, pertinho de tudo. Obrigada, deuses!

Mas não foram só os lances que vi dali que me marcaram. Como eu gostaria de estar presente no jogo do milésimo gol do Pelé. Meu pai, Paulo Arthur Bordalo, estava, e me contou, radiante, da alegria que foi participar daquela festa. Segundo ele, já no final da partida, ambulantes vendiam o Jornal dos Sports com a reportagem do gol. Ele ficou tão surpreso que comprou o jornal, intacto até hoje. Assim como meu pai, milhares (ou quem sabe milhões) de torcedores guardam um pedacinho do Maraca no armário.

Como carioca, é muito bom saber que os maiores ídolos do nosso futebol viveram dias importantes no gramado. Além do Rei Pelé, Zico, o maior artilheiro do estádio, enche a boca para narrar cada gol, cada título conquistado naquele campo.

Mas não só de futebol vive o estádio. Como fã da Madonna, pude presenciar os shows maravilhosos que ela fez diante de milhões de pessoas. Acostumada com grandes multidões, a Rainha do Pop não escondeu a emoção única de estar naquele palco, fazendo parte de toda aquela magia. Foi contagiante. O mesmo certamente aconteceu com Frank Sinatra. Infelizmente não estava lá, mas as reportagens da época traduzem os sentimentos vividos por quem fez parte daquele espetáculo mágico. Ver o Paul McCartney cantar as músicas dos Beatles no Maraca também foi incrível. Nem John Lennon imaginaria como.

No entanto, a maior emoção que senti no Maracanã não foi por causa da bola. No lugar onde os jogadores estão acostumados a trocar camisas depois da partida, eu troquei alianças. Sim, eu e meu marido Alexandre Araujo nos casamos naquele templo. Foi uma noite mágica de abril de 2014, ano da Copa. Diante da nossa torcida, composta pela nossa família e pelos amigos mais próximos, entramos no altar montado de frente para o gramado e começamos oficialmente nossa história de amor. Foi lindo, inesquecível, um golaço. O nosso golaço.

Mais uma prova de que ali acontecem magias. Mesmo depois da reforma, que, muitos dizem, tirou sua alma, o Maraca continua sendo do povo, dos apaixonados, dos artistas, inclusive os das arquibancadas. A alma dos que conquistaram títulos históricos, marcaram gols improváveis, abrilhantaram a antiga geral com figurinos criativos, cantaram numa só voz o hino de seus clubes, estará sempre lá.

Que venham mais setenta anos, mais setenta, mais emoções e mais histórias.

Parabéns, Maraca. Obrigada por fazer parte da minha história e me deixar fazer parte da sua.

Aline Bordalo é um das primeiras mulheres a ser repórter esportiva, ainda nos anos 90. Passou pela TV Verdes Mares no Ceará, pelo SBT e teve grande passagem pela Band.

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