O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse ontem (5) que o suborno a políticos do estado pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) vem desde os anos de 1980, primeiro governo de Moreira Franco, até o de Luiz Fernando Pezão
Cabral pediu para ser interrogado, dentro do processo Ponto Final, que investiga as relações entre empresários de ônibus e políticos fluminenses. No início do interrogatório, o ex-governador fez questão de frisar sua nova atitude, de confissão e colaboração com a Justiça, ao contrário da maioria das audiências anteriores, em que ele sustentava que o dinheiro era fruto apenas de caixa dois eleitoral.
“Em nome de Deus, da minha família, da minha esposa, decidi colaborar, confessar, do arrependimento à Justiça e à sociedade. Venho aqui com o coração aberto, com disposição de falar amplamente tudo o que desejarem, colaborar com a Justiça, com a verdade, com o Rio de Janeiro, revendo os meus erros. É hora de falar dos erros”, iniciou Cabral.
Ele começou fazendo um longo histórico da política do Rio de Janeiro, desde quando o ex-governador Leonel Brizola, em seu primeiro governo, havia decidido estatizar as empresas de ônibus, o que gerou grande contrariedade dentro do setor. Disse que, no governo seguinte, de Moreira Franco, foi criada Fetranspor, quando se iniciou o recolhimento sistemático de dinheiro para os políticos, por meio das chamadas caixinhas.
“A caixinha da Fetranspor”, segundo ele, era dividida entre Executivo e Legislativo do estado, mas também chegou à Câmara dos Vereadores.
Disse que no governo Brizola, o secretário de Transportes Pedro Valente administrava o esquema, com “aval” do governador. Cabral assumiu o comando em 1995, quando presidiu a Alerj.
“Moreira Franco é o governador, em 1987 e em 1990 é feita a recuperação das empresas (de transporte). Cria-se na Alerj a primeira propina instituída para o deputado Gilberto Rodrigues, presidente da Alerj e, do ponto de vista jurídico, o procurador de justiça (do Ministério Público) Carlo Navega dava soluções jurídicas na volta às suas mãos particulares. Ele colaborou com o retorno das empresas às mãos (dos empresários), e recebia junto com o governador Moreira Franco e (com o deputado) Gilberto Rodrigues, junto com o deputado Claudio Moacir, e membros do Tribunal de Justiça”, disse Cabral.
Cabral comandou a Companhia Estadual de Turismo (TurisRio) no governo de Moreira Franco.
Segundo Cabral, todos os governos posteriores a Moreira Franco, incluindo o segundo mandato de Brizola, através de um secretário de Transporte, passando por Marcello Alencar, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, os dois mandatos dele, e o de Pezão tiveram caixinha dos empresários de ônibus da Fetranspor.
A defesa do ex-ministro Moreira Franco se pronunciou em nota. “Em situação processual e jurídica difícil, com diversas condenações que lhes ultrapassam a existência, condenados – candidatos a delatores – sentem-se imunes aos riscos da calúnia e da difamação, assim, volta e meia ousam imputar algo, de forma leviana, a alguém. Espera-se que esse desatino não conte com oculto estímulo de acusadores, ou magistrados, que lhes acenam com vantagens futuras na execução da pena.”