domingo, maio 5, 2024

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A supervalorização da escola e o “Escola sem partido”

Blogs e ColunasColuna do Renan PortelaA supervalorização da escola e o "Escola sem partido"

Você já ouviu inúmeras vezes que a educação é a única forma de mudar o país! Sim, não estou perguntando, estou afirmando. Qualquer pessoa é capaz de dizer isso, e quase todas exercem essa capacidade. Agora, de qual educação tanto se fala? O que querem dizer com isso? A educação humanitária, a que prepara para uma profissão, a que trará bons resultados em uma avaliação internacional? Falamos de todas essas? Quantas outras existem? Falamos de conteúdo, estrutura, importância coletiva, importância individual, importância pra passar na prova, pra passar bem pela vida? De todas as formas, o papel da escola é quase sempre supervalorizado, ao ponto de uma terceirização de responsabilidades.

Fato é que a escola é um meio importante para o conhecimento, e é a forma instituída para se alcançar mudanças de patamares nas classificações de nossa vida em sociedade. Faz parte do acordo social que não assinamos, mas que cumprimos, e garanto que escrevo sem nenhuma repulsa de diplomas ou dessa estrutura em si. Porém, se tratarmos a escola como a principal ferramenta da formação intelectual de uma pessoa, estaremos apenas limitando o alcance dessa formação. É como pagar um rodizio de pizza e sair tendo apreciado apenas 5 fatias de mussarela. Não soa como algo estúpido? Alguém estúpido pode até dizer que o cara que faz isso só tem um apetite pequeno, pouco apreço ao dinheiro e gosta muito de pizza de mussarela, eu sei, mas você entendeu, espero. Uma ferramenta jamais pode ser capaz de abarcar, muito menos de ofertar, todas as possibilidades e necessidades da vida. Quanto mais se supervaloriza a escola como ferramenta do conhecimento, mais teremos a escola como fábrica de emburrecimento. Alfabetizar pessoas, possivelmente pela própria ferramenta da escola, só se faz importante se essas pessoas ampliarem o uso desse aprendizado e souberem como e com qual finalidade usá-lo. O que lê quem alfabetizado está? Digo mais: é completamente possível ensinar coisas com a simples intenção de manter uma pessoa controlada e burra. Aliás, quase sempre é necessário, se a finalidade for essa. Nem sempre a educação é uma porta para a liberdade.

Imagine que as escolas irão acabar na semana que vem. Imaginou? Se nossa imaginação nos faz acreditar que o fim das escolas, que são uma instituição bastante recente na história humana, com toda a certeza criaria gerações e mais gerações de pessoas intelectualmente inferiores do que hoje, aí está o problema chave do nosso pensamento. Essa chave que transforma a escola numa entidade indispensável, também transmite a ideia da obrigatoriedade. Temos tendencia por não tratar com prazer o que nos é obrigatório. Aqui incide parte da dificuldade em gerar interesse dos alunos pelo conhecimento possível nessa ferramenta bacana que é a escola, algo muito mais desafiador do que imaginar que se gera interesse meramente treinando professores para usar uma linguagem jovial ou acrescentando tecnologias que os alunos curtem nas aulas. O aluno não pode comprar a ideia da escola sem comprar, antes disso, o prazer próprio pelo conhecimento.

O problema não é só a estrutura escolar, o problema é a ideia, como enxergamos isso, culturalmente falando. Enquanto encararmos os alunos como meros receptores e reprodutores, sem proporcionar-lhes a responsabilidade ativa de um aprimoramento intelectual próprio, para além dos muros da escola, continuaremos enxugando gelo e tratando a questão educacional de maneira superficial e tola. O que estou dizendo aqui é que a escola (e por escola você pode entender desde a creche até a universidade) não é sinônimo de educação e conhecimento em si, sendo apenas um importante mecanismo dentro de uma engrenagem muito mais complexa. É importante deixar isso claro, caso você leitor seja um desavisado idiota que estava entendendo que não considero que a escola exerça um papel relevante.

Inevitavelmente esse assunto me leva ao tema tão debatido que é o projeto Escola sem Partido. Sobre esse assunto, acho que todos ganham com o debate que ele gerou, passando como projeto parlamentar ou não. Falo isso sendo filho de professora e tendo outros professores na família, além de ter cursado parte de meu Ensino Médio num colégio que forma professores. Fora que hoje, como estudante de psicologia, cogito a possibilidade de me tornar professor um dia. Considero uma bela profissão!

Existe sim, uma quantidade enorme de professores que se valem de sua atenção cativa e autoridade para pregar sua visão moral e politica, de maneira tão sedenta quanto um religioso fanático por converter pessoas. Sim, muitos alunos sofrem assédio moral por expor visão contrária em sala de aula, ou sequer o fazem, por medo de represália. Sim, existem professores que invertem a lógica de sua liberdade de cátedra para “militar” por causas e buscar criar futuros novos adeptos, porque acredita que está contribuindo para um mundo melhor que pensa como ele. Sim, existem professores arrogantes e dominados por seu lugar de autoridade, que consideram que certamente possuem uma visão de mundo muito mais correta e ampla do que a família do aluno, considerando que é seu dever moldar a mente do pobre coitado do aluno que é refém moral de seus pais. Sim, não vejo razão alguma para que pais não tenham o direito de não querer que um adulto trate de certos assuntos, que atravessam a ordem do privado com seus filhos pequenos, exigindo privacidade para tal. Sim, considero que muitos dos que acusam o debate do projeto de censurar professores, fazem tudo, menos exercer sua profissão com respeito à diversidade. Sim, os autores tratados e as narrativas abordadas são constantemente limitadas por um campo ideológico, raramente apresentando o contraditório. Sim, considero que a academia, e a educação brasileira como um todo, é dominada/aparelhada por uma agenda de pensamento politico, fruto de uma engenharia cultural em andamento faz tempo.

Porém, isso não significa dizer que esses problemas devem e serão resolvidos com esse projeto de lei. Não sou favorável porque considero bobo, o projeto, não o debate em busca de soluções pros problemas já citados, justamente porque o projeto supervaloriza a escola, terceiriza responsabilidades e permite mascarar problemas e criar novos. O Objetivo, se termina nele mesmo, possui efeito raso. Fora que, embora eu saiba que muitas pessoas que defendem o projeto possuem boas intenções, relacionadas com a busca de diversidade real nas escolas e respeito pelos alunos, também sei que muitos defendem o projeto justamente para substituir uma falta de diversidade por outra, buscando rédeas de controle politico, como uma engenharia cultural reversa. Pau no cu desses e de seus espelhos no campo oposto! Se passar ou não, pouco me importa, não me afetarei como os opositores do projeto, nem vou comemorar, como seus adeptos. A discussão é mais importante que a lei!

Tudo isso só acontece porque supervalorizamos a Escola em detrimento de toda a formação possível para além de seus muros, mesmo que hoje se aprenda para a vida muito mais “dando um Google” ou no Youtube, isso ainda não faz parte do nosso imaginário e do discurso na prática. Você aprendeu a fazer contas na escola, usou formulas que já esqueceu para passar de ano, mas provavelmente não foi na Escola que aprendeu quanto do seu salário em impostos sustenta a máquina pública, quais contas você tem pra pagar, e como cozinhar o seu arroz. O individuo me interessa mais que a instituição.

Está preocupado com o que a Escola pode transmitir pro seu filho? Se preocupe primeiro com o que o seu filho está levando pra escola. Preocupe-se com a criação que não sejam tão facilmente moldáveis por qualquer estrutura de autoridade. Vamos nos preocupar com o que as pessoas aprendem fora da escola. Como você e seu filho estão contribuindo para a constituição da Escola nesse país? Assim, menos vai importar se a escola do seu filho é humanizada, libertária, militar, bonita ou feia, e sim o quanto ela pode ser usada como mais um mecanismo de crescimento pessoal.

Não é a Escola que deve formar pessoas, são as pessoas que devem formar a Escola!

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