segunda-feira, maio 13, 2024

Alberto Dines, grande

BLOG DO LEOAlberto Dines, grande

Alberto Dines no programa ‘Observatório da Imprensa’ em dezembro de 2009. – Foto: Ana Paula Oliveira Migliari/TV Brasil/EBC

Morreu na manhã desta terça-feira (22), aos 86 anos, o jornalista e professor universitário Alberto Dines. A informação foi confirmada pelo Observatório da Imprensa, veículo do qual foi fundador.

”É com profunda tristeza que a equipe do Observatório da Imprensa comunica o falecimento de seu fundador, Alberto Dines (1932-2018), na manhã desta terça no hospital Albert Einstein, em São Paulo”, informou o Observatório em suas redes sociais. A causa da morte não foi informada.

Nascido no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1932 ele iniciou a carreira no jornalismo na revista A Cena Muda, durante a década de 1950. Após passagens pelas revistas Visão e Manchete, ele assumiu a direção do segundo cadero do jornal Última Hora. Em 1960, colaborou para o jornal Tribuna da Imprensa, e em 1960 dirigiu o Diário da Noite, dos Diários Associados.

Dines foi editor-chefe do Jornal do Brasil, e ficou lá por 12 anos, sendo demitido em 1973 após a publicação de artigos que criticavam a ditadura brasileira.

No ano seguinte foi para os Estados Unidos, onde foi professor-visitante da Universidade de Colúmbia. Voltou ao Brasil em 1975 para ser diretor da sucursal carioca da Folha de S. Paulo. Em 1980, ele deixou o cargo e passou a colaborar em O Pasquim.

Em 1994, o jornalista criou o Observatório da Imprensa, periódico crítico de acompanhamento da mídia.

Dois anos depois, lançou a versão eletrônica da publicação. O veículo ainda contou com versões no rádio e na TV.

Além de jornalista, Alberto Dines era biógrafo e publicou mais de 15 livros, entre eles, Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig (1981), e Vínculos do fogo – Antônio José da Silva, o Judeu e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil, Tomo I (1992). O livro sobre Stefan Zweig foi adaptado para o cinema por Sylvio Back em 2002.

Em 1970, ele recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot de Jornalismo, e em 1993, o Prêmio Jabuti na categoria Estudos Literários.

Bom, para mim ele sempre foi um dos grandes e um dos meus sonhos era entrevista-lo para saber várias coisas sobre jornalismo, sua carreira, fazer uma entrevista completa.

Inclusive assistindo ao Observatório da Imprensa no YouTube tenho essa vontade mas não deu tempo.

Cheguei a enviar alguns e-mails para a assessora que não deram em nada, Dines já estava vivendo em São Paulo e com sua saúde já meio abalada.

Dines representou um jornalismo combativo, plural e romântico. Extremamente romântico. Dines era amante do jornal impresso e do bom jornalismo vibrante, imparcial e crítico.

O Jornal do Brasil muito do que é é por conta de Dines e sua ousadia em fazer um trabalho diferenciado em meio a época em que o Brasil vivia.

Eu não cheguei a conhecê-lo pessoalmente mas assisti a várias edições do Observatório e aprendi muito de jornalismo ali, as vezes mais do que uma faculdade.

Ele fará falta. O bom jornalismo perde com tudo isso.

Infelizmente não vou realizar a entrevista. Dines nos deixou cedo demais

Aqui transcrevo como os jornalistas Fernando Molica e Ana Helena Tavares o viam. Cada um e sua história, digamos assim com Dines

ANA HELENA TAVARES

Já se passaram 10 anos, mas eu me lembro como se fosse hoje. Eu estava sentada na sala do antigo Jornal Laboratório da FACHA e o Pc Guimarães, sentado em outra cadeira, se virou pra mim e disse: “Vou dar um presente pro teu currículo. Você vai entrevistar Alberto Dines”. Naquele dia, eu não tinha bem a dimensão do tamanho daquele presente. Mais tarde, em 2014, eu viria a entrevistar Dines novamente. Nas duas vezes, aprendi muito. E tenho muito orgulho de ter tido diversos artigos meus publicados por Dines no pioneiro site do “Observatório da Imprensa”. Morre o homem que “observava a si mesmo”, mas não morrem suas ideias. O mundo precisa muito mais da metalinguagem, do jornalista que se autocritica, do advogado que se autocritica, do médico que autocritica, do que daqueles que se acham deuses. Salve, Alberto Dines! Descanse em paz e obrigada por tudo!

FERNANDO MOLICA

Parece exagero dizer que me sinto órfão com a morte do Alberto Dines, nunca trabalhei com ele, nunca tivemos muita proximidade. Mas estive algumas vezes em seu ‘Observatório da Imprensa’; nos seus 80 anos, fiz, ao lado do Bruno Trezena, uma entrevista com o aniversariante para ‘O Dia’. Uma conversa em que ele reafirmou sua fé nos jornais e no jornalismo. Em 2016, a Abraji concedeu ao Dines o prêmio de Contribuição ao Jornalismo – tive a honra de, na abertura de nosso congresso, fazer a entrega da homenagem à sua mulher, a também jornalista Norma Curi. Hoje, ao saber da morte deste grande cara, fiquei muito triste. Doente há alguns anos, com dificuldades financeiras – como é dura e cruel essa nossa profissão -, Dines continuava a ser uma referência, principalmente num momento tão difícil como o atual, delicado para o país e para a própria imprensa. Tenho o maior orgulho deste quadro, pendurado em casa, no meu escritório. Em 2014, fui ao JB e comprei a reprodução fotográfica da capa em que o jornal deu um olé na censura ao noticiar o golpe no Chile, ocorrido em 1973. A história é célebre: jornais tinham sido proibidos de publicar manchete e foto sobre o caso em suas primeiras páginas. Dines, que estava em casa, voltou à redação e fez este primor de criatividade e coragem, algo que me emociona sempre – ele fez a capa mais chamativa de todas, sem título, sem foto. Por conta do gesto, acabaria demitido. Pedi então para que o Dines autografasse a cópia – ele o fez, com o cuidado de só fazer a dedicatória na margem. “Não se pode escrever na obra”, ressalvou – uma outra lição. Obrigado por tudo, mestre. Meu reflexo na foto do quadro é proposital, de alguma forma, da maneira menos arrogante e cabotina possível, procuro ser digno deste reflexo.

“O jornal vai continuar como referência”

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