domingo, maio 19, 2024

Renan Portela: Privacidade e o quanto você vale – O escândalo do Facebook

BLOG DO LEORenan Portela: Privacidade e o quanto você vale - O escândalo do Facebook

PRIVACIDADE E O QUANTO VOCÊ VALE- O ESCANDALO DO FACEBOOK!

Estourou no final de Março um escândalo envolvendo o Facebook! Não, dessa vez não foi nenhuma matéria polêmica do Catraca Livre dizendo que quem quer “lacrar” pode comer bosta na salada, foi algo bem maior! Se você não está em Marte, Nárnia ou no Acre, provavelmente ouviu algo sobre isso.

Num resumo objetivo, como pede sua paciência, rolou o seguinte: um ex-funcionário de uma empresa britânica denunciou ao The New York Times (tipo uma Carta Capital com grife dos gringos), que quando trabalhava nessa empresa, ela coletou dados dos usuários do Facebook para o direcionamento da campanha, do agora presidente twiteiro, Donald Trump (Que é Bolsonaro com menos dinheiro, segundo a Folha). Como uma espécie de pesquisa de mercado para o marketing da campanha, sacou?

Coletavam esses dados com um bando de paradas técnicas e lances de “algoritmos”, que nem você, nem eu, nem os “especialistas” do G1, sabemos bulhufas do que de fato se trata, convenhamos! Esse lance ocorreu principalmente a partir daqueles testes que costumamos fazer para ver como ficaremos velhos numa montagem tosca com nossa foto, quantos filhos teremos e com que celebridades somos semelhantes. Diz o funcionário que decidiu denunciar porque hoje se enxerga amplamente contra as pautas do Trump. Não entendi muito bem se antes ele apoiava ou se preferiu ganhar algum dinheiro antes e agora resolveu falar como se fosse um herói progressista pra ganhar algum outro dinheiro! Devemos saber que esse provavelmente não foi o único caso que aconteceu, ainda mais num ramo com o potencial tão lucrativo, mas foi o único caso que apareceu como denuncia e ganhou mídia até agora. Mamãe não nos criou pra sermos bobos, não é?

Pronto, caos instalado! O Facebook começou a perder bilhões de dinheiros na Bolsa (aquela outra coisa que a gente entende muito pouco, mas que sabemos que se “perdeu dinheiro” é porque o negócio tá feio), acionistas “indignados” e de “moral elevado” processando a Rede Social pra ganhar dinheiro, campanha para que as pessoas apagassem seu perfil na rede, incentivada pelo criador do WhatsApp (ou “Zap” caso você brasileiro não tenha entendido), investigação das autoridades e celebridades fazendo vídeos com caras de bravas, enfim, um pandemônio. Fora uma carta aberta do Mark Zuckerberg (criador e dono do Facebook que é tipo um Luciano Hulk melhorado e das Redes Sociais, e que não sigo no Facebook), dizendo que a empresa errou em sua segurança no que diz respeito a privacidade dos usuários, que precisam melhorar e coisa e tal. Claro que muitos desconfiam que o Facebook mesmo esteja na jogada.

Devo lembrar que o Zuckerberg, aliás, declarou que o Facebook irá cuidar para a lisura das eleições desse ano no Brasil, o que não sei se deve nos alarmar ou acalmar. A melhor coisa que o Facebook poderia fazer seria não tentar fazer nada, mas isso é assunto pra outro bar.

Bom, agora que você já sabe mais ou menos o que está rolando, de orelhada como quase tudo que você sabe, deixa eu te contar uma coisa: Internet só existe com tanta praticidade, Redes Sociais só existem, porque as pessoas se expõem nelas e isso é muito lucrativo! Ponto! Você acha que Redes Sociais existem com a simples intenção de que as pessoas se conectem e possamos viver num mundo sem fronteiras e belo? Para que você possa assistir aos vídeos motivacionais da Jout Jout e se sentir menos mal com seu peso? Não! O preço para as utilidades, a informação e o entretenimento proporcionados por Redes Sociais, e pela internet como um todo, é uma parte considerável da sua privacidade. Cabe a você avaliar o quanto esse preço é justo ou não, porque não me cabe coletivizar isso de maneira alguma.

De forma curiosamente contraditória, a Internet é hoje, provavelmente o território mais livre no nosso cotidiano, mas é pago com parcela considerável da nossa individualidade. As Redes sequer precisam fazer muito, porque hoje a linha entre o público e o privado é tênue e alterada constantemente num costume em que as pessoas cada vez mais publicam sua vida como algo de interesse público. Novamente, não darei meu juízo moral sobre isso, pagamos de um lado e ganhamos de outro, apenas preciso constatar o óbvio e apontar quanto o escândalo envolvendo o Facebook escancara uma hipocrisia monstruosa, no mínimo!

Se você usa a Internet e não faz parte de um seleto grupo de pessoas (bota seleto nisso) que não faz parte da nossa corja de meros mortais comuns que conhecemos o básico do básico, considerar que você está num ambiente de segurança para a sua privacidade quando online é de uma ingenuidade colossal. Você realmente usava as Redes Sociais pensando isso? Os acionistas do Facebook pensavam isso?

Os sites que você visita, a ordem em que você os visita, quanto tempo passa neles, os anúncios que você clica, os vídeos que você assiste, a parte do vídeo que você deixa de assistir, sua busca preferida nos sites pornô, as coisas que você curte ou negativa, as coisas que você compartilha, as coisas que compra, as coisas que pretende comprar, os lugares que vai, as noticias que você vê e as opiniões que você dá, o tempo que demora pra ver as mensagens no grupo do trabalho, etc. Absolutamente tudo que você faz abastece bancos de dados que alimentam a industria em que você consome e se entretém, gerando muito dinheiro. Muito dinheiro mesmo!
Quanto vale sua personalidade? Quantos pagariam pelos seus interesses? Você pouco está imune disso nos dias conectados de hoje. Desligue o seu celular e leve-o no bolso, e ainda assim alguém é capaz de saber sua localização e alguns interesses ligados a isso. E vou me restringir para não precisar te deixar muito paranoico. Não se trata de teoria da conspiração, mas de fatos, tanto quanto o oxigênio nos permite vivos. Você pode ter todo cuidado do mundo para minimizar a exposição da sua privacidade, aliás, deve, como se cuidar mais do que a “famosinha do Insta”, porém jamais por completo.

As Redes certamente sabem quais são as minhas preferências políticas, sabem o tipo de música gosto, sabem que tipo de matéria acesso, quais de fato leio até o fim, sabem minhas preferências e fantasias sexuais, sabem as marcas que gosto, o que gosto de comer, o que estou interessado em comprar, qual é o meu banco, com que frequência falo com minha namorada ou nos encontramos, quais são meus amigos mais próximos, se quero perder ou ganhar peso, quais são meus projetos futuros, quantos filhos quero ter, até com que idade perdi minha virgindade e com quem foi meu primeiro beijo. Tudo porque, assim como você, sou constantemente um potencial consumidor de algo!

Muitas dessas informações fui eu que tornei públicas nas minhas interações online, muitas outras eu sei que sabem e nunca compartilhei de maneira pública nas Redes, porém, nunca fui ingênuo de acreditar que essas informações, nos dias de hoje são, só minhas! Eu sei que se eu estiver precisando comprar um tênis novo, terei um anuncio de tênis novo. Posso até considerar isso ótimo! Isso não está só no Facebook, mas em inúmeras outras plataformas que uso e que hoje não me vejo sem usar. Embora cada vez mais me veja usando menos o Facebook, mas por culpa das pessoas, não pelo Facebook em si.

Possivelmente o Google, se tiver de fato bons programas de análise, me conhece tão bem ou mais, do que eu mesmo me conheço. Você tem alguma dúvida de que não nos conhecemos tanto quanto julgamos nos conhecer? Mesmo numa vida em que nos gera muita dificuldade responder em entrevistas de emprego quais são os nossos maiores defeitos? Muitos podem considerar um preço alto demais pra se pagar, outros vão considerar um preço justo, outros não terão opinião formada, mas certamente só um desses grupos fará barulho. Farão barulho em que lugar mesmo? Na Internet! É o ciclo sem fim que nos guiará! Nada disso tira nossa responsabilidade individual, nosso poder de escolha e principalmente nossa obrigação, no sentido de bom senso, de no mínimo não se admirar com o lugar em que escolhemos pisar.

Portanto, qualquer empresa de tecnologia com uma boa estrutura, bons contatos e financiamento, não só pode como faz exatamente o que fizeram com os dados desses usuários, nesse escândalo que na minha visão, ganhou proporções exageradas. O choque e a dimensão desse caso me soam como alguém que ficou surpreso quando ouviu alguém afirmar que existe corrupção no Brasil, simplesmente faz pouco sentido e só consigo entender isso como algum tipo de cena por conta de um ou outro interesse político. Apagar ou não o Facebook, se você não se mudar imediatamente pra uma ilha e cortar seus laços com o mundo, não fará a menor diferença!

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