sábado, maio 18, 2024

Minha redação do ENEM sobre intolerância religiosa

BLOG DO LEOMinha redação do ENEM sobre intolerância religiosa

Leonardo Oliveira

O ENEM todo ano traz um tema de interesse público para as suas redações. Ano passado trouxe questões referentes ao feminismo e esse ano traz um tema muito em voga nos dias de hoje, que é a intolerância religiosa. 

As vezes que eu fiz o ENEM, não tive um tema tão importante como esse. E vou fazer daqui a minha redação como se eu estivesse no lugar de algum daqueles postulantes ao ensino superior. 

Vamos lá

Na minha vida eu já fui intolerante. Demais. E isso não tem muito tempo. Alguns anos imagino. E onde estava a minha intolerância? Quando eu por ignorância ou desconhecimento falava mal de religiões, Igrejas sem ao menos saber e conhecer o que é cada um. E isso é um comportamento cada vez comum na sociedade brasileira. 

A sociedade que não dialoga, que não respeita o outro, como vemos nessa jovem democracia brasileira que as diferenças tão latentes mas que acabam se estranhando de uma forma que até passa os limites. 

O Brasil, diferentemente de vários países no mundo possui uma cultura diversificada ao ponto de termos várias religiões aqui presentes, religiões que não se originaram aqui mas que aqui se encontram muito presentes. 

Voltando a falar de mim, fui ignorante ao considerar durante uma época da minha vida as pessoas que fazem parte de religiões eram pessoas que tinham algo errado com elas. Logo eu que tenho mãe e tinha avó espírita. Fui batizado na Igreja Católica Nossa Sra de Copacabana quando era pequeno, em 1991 mas se fui a Igreja Católica dez vezes na minha vida foi muito. 

Com 12 anos comecei a mudar a minha visão sobre os espíritas frequentando um Centro Espírita Kardecista. Não, não virei espírita mas estudei muito sobre e passei a desconstruir o preconceito arraigado preso dentro de mim. Passei a acreditar, e acredito até hoje na reencarnação. Fui até os 15 anos. 

A partir daí comecei a procurar mais a fé dentro de mim e na Igreja evangélica busquei isso. Comecei indo na Igreja Universal, sim.. já fui e quando você está mal, é impressionante a paz absurda que se sente ao sair dali. A mesma paz que eu sentia dentro do Centro espírita. Não me indentifico com a IURD por uma série de questões e acabei indo para a Igreja Metodista, onde fiquei por mais de dois anos indo direto e mais anos até hoje indo esporadicamente. E hoje sem ir a Igreja ou denominação alguma, sem nenhuma culpa por isso. 

Não vi dentro de instituições a intolerância religiosa, mas vi pessoas que não demonstram fora das Igrejas a mesma fé ou o mesmo comportamento dentro da Igreja ou até mesmo comportamentos dentro da Igreja nem um pouco condizentes com a palavra de Deus. 

Aliás, a Palavra de Deus é muito relativa. Varia de religião, de denominação. E o que explica a intolerância se todas as religiões teoricamente caminham pra um mesmo ponto em comum? 

Cristãos são mortos em países, especialmente no Oriente apenas por serem cristãos. Muçulmanos morrem todos os dias. Judeus morrem todos os dias. 

A intolerância religiosa é mundial. Ainda através da guerra e do ódio pessoas “expressam” o que seria para eles o ideal. O que faz isso se transformar em morte. 

Mais que intolerância, a ignorância. 

Aqui no Brasil, ataques a Igrejas, a Terreiros de Umbanda e Candomblé. Pessoas que julgam como demônios, pessoas de outras religiões. A que ponto chegaremos com tudo isso? 

Como foi no caso da menina que foi ao colégio e foi agredida por usar uma vestimenta da sua religião. 

Talvez isso melhore quando as pessoas entenderem e respeitarem a religião alheia, porque ela não afeta a fé particular de outras pessoas.  Quando a minha fé não desrespeita ninguém, isso é ótimo, é o ideal. 

Cada religião tem sua oferenda, seu dízimo, mas antes de tudo é preciso que dentre isso as pessoas precisem se respeitar. 

Evangélicos sofrem preconceito. Sofrem porque acham que quem é evangélico é lunático, manipulado que doa seu dízimo numa fé cega com o seu pastor, esse o grande mal diabólico. 

Sim, existe isso, mas generalizar essa discussão a esse ponto não traz coisas boas. Assim como o Bispo que chutou a santa no episódio mais lamentável da Igreja Universal, segundo o próprio Bispo Edir Macedo, pessoas que depredam terreiros de umbanda e Candomblé. Pessoas que agridem mães, pais de santo, Babalorixás porque acham que essas pessoas estão com o demônio. Nossa sociedade quer tolerância mesmo em um momento de tão pouca tolerância entre pessoas.E fazendo muito mal uso do que Deus, Jesus, o que for lhes ensinou. 

A Intolerância religiosa só vai acabar quando a sociedade brasileira e mundial evoluir a tal ponto de não perceber nenhuma estranheza ou ojeriza a forma como outras pessoas se vestem, agem e falam. Liberdades individuais. Pra que temos? Para que as usamos? Não sei se eu chegarei a ver alguma mudança nesse sentido, mas a mudança começa no indivíduo. Na pessoa. No líder religioso que faz da sua opinião reflexo para a de seus seguidores. Pra que vejam além do senso comum que acha que todo pastor é ladrão, que todo padre é pedófilo, e que todo macumbeiro é vagabundo ou que está com o diabo. Ou então que todo muçulmano é terrorista ou todo Judeu é maldito. 

Por que será que temos tantos ateus e agnósticos no mundo? 

Hoje percebo que a intolerância minha mais jovem, foi reflexo de uma imaturidade moral que foi mudando ao passar do tempo em que eu vi que tudo que eu julgava, era totalmente diferente. Mesmo não sendo a minha fé. Que loucura isso!  Por isso é tão importante que atos ecumênicos aconteçam, é fundamental que se acabe com o fundamentalismo religioso de muitas pessoas, inclusive líderes, é preciso que nosso país seja laico. Que garanta direitos para todos, independente da religião.

Para que não aconteçam ofensas em redes sociais, entre pessoas, algumas delas até estimuladas pela mídia, em datas como São Jorge, Dia de Reis, Corpus Christi, Dia de São Cosme e Damião, Dia de Nossa Senhora Aparecida, Páscoa e Natal ou até mesmo em eventos como Marcha para Jesus, Shows Gospel. Num país em que segundo pesquisas, até 2040 terá na religião evangélica a maioria da população.

Nem do que pode ser o ofensor, nem o ofendido agindo como ofensor. 

União, respeito, tolerância, não necessariamente amizade ou concordância com os mesmos ideais. Fé é da pessoa, é preciso respeito. É preciso respeitar a fé de cada um. 

Pessoas matam. Pessoas morrem. Por causa da religião. Até onde vamos parar? 

Aí sim podemos começar a combater a intolerância religiosa. 

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