Por Renan Portela
Primeiramente, hakuna matata!
Foi vinculado hoje na imprensa alguns dos projetos que o “presidento” Temer deve levar ao congresso. Em outro post fiz um breve comentário (positivo) sobre a proposta de reforma da previdência, e agora quero falar do SUS. Gostaria de dizer que modificar para baixo ou eliminar a porcentagem de valor obrigatório que o governo precisa destinar a saúde é errado, imbecil, e ineficiente se a proposta realmente for essa e ficar nisso!
Já falei inúmeras vezes, e já inclusive debati em conversas ricas com professores e colegas na universidade (onde o SUS as vezes é tratado ou como um Deus ou como um bebê) que o SUS para mim está longe de ser um modelo ideal, ou um único modelo a ser pensado, ou o Pelé do pensamento sobre saúde pública. Até por motivos pessoais, porque eu mesmo muitas vezes posso estar na merda de doente que faço tudo pra melhorar sozinho se não tiver dinheiro só pra não precisar ter que ir no hospital público.
Mas entendo que o SUS nasceu de um processo histórico de conquista legítima de direito do povo brasileiro, se tornou cultural de uma maneira mega concreta, e portanto sua defesa é justa e importante. E embora eu tenha afeição imensa pela iniciativa privada, vejo como a maior relevância do SUS o fato de que ele, com todos os seus inúmeros problemas, é pensado para um atendimento e um tipo de atenção em rede que não cabe a iniciativa privada, não só por interesse mas também por vocação. O SUS é um marco de identidade do Brasil, e precisa ser sim aperfeiçoado e valorizado.
Sobre a proposta em si, acredito que é possível investir no SUS para que se possa economizar recursos nele mesmo! Como assim? A melhor maneira de se conter gastos do estado é investindo de maneira correta para buscar eficiência (melhor aproveitamento dos gastos e qualidade do serviço) e economia.
A melhor maneira de se economizar dinheiro com o SUS é investindo para que pessoas precisem cada vez menos recorrer a ele, principalmente em procedimentos caros, mas garantindo que se precisarem terão esse atendimento (sempre lembrando que uma camada precisa constantemente dessa atenção).
Como se faz isso? Com investimento em PREVENÇÃO!!! Isso é: em segurança, em acompanhamento social e atenções básicas, com investimento em estrutura desde a qualidade das estradas até a qualidade do ar, com investimento em saneamento básico, etc. Dessa maneira, o SUS pode aprimorar seu atendimento alocando recursos de maneira mais inteligente, e consequentemente no médio prazo custar menos. Precisamos portanto parar com duas manias: A primeira é de achar que investimento é puramente gasto, e segunda é a de achar que tudo para funcionar precisa simplesmente de mais e mais investimento. Nenhuma das duas é sinônimo de eficiência.
Outra coisa é que isso não se resume ao binarismo do atual cotidiano. Essa questão não deve ser encarada como uma guerra entre socialistas e liberais, ou público e privado. Tão grotesco como ter a ineficiência de um sistema que faz com que pessoas morram na fila se dependem dele, é acreditar que a iniciativa privada teria a capacidade de dar todo o tipo de atenção que o SUS é desenhado para atender de maneira correta. Se é interessante para o socialista que o estado tenha um serviço universal de saúde que possa atender a população, deveria também ser interessante para o capitalista, para o mercado, para os empresários em geral, que esse sistema funcionasse e pudesse garantir saúde aos seus trabalhadores, afinal isso também gera menos despesas.
E se a própria saúde privada, falando de um setor especifico, trava uma luta contra o SUS, é mais uma luta idiota e sem pé nem cabeça. Além do fato de que se o povo médio tiver condições de escolher ele vai preferir ter um plano de saúde ou se consultar com um médico particular do que ir no posto do bairro, convenhamos que o cidadão endinheirado que se tem uma unha encravada vai parar no Sírio-Libanês, está cagando e provavelmente continuaria cagando para o SUS, afinal pouco depende dele.
Abraços!